10/10/2025 - 15:17
Após cessar-fogo em Gaza, países europeus e árabes reuniram-se às pressas em Paris para discutir a reconstrução do território palestino. Na prática, porém, papel dos europeus ainda é bastante vago.Em Paris, em meio a discussões sobre o papel da União Europeia na reconstrução de Gaza após o cessar-fogo acordado por Israel e Hamas na última quinta-feira (09/10), o ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, frisou que a ajuda às pessoas na região deve começar o mais rápido possível: “Estamos prontos para levar ajuda humanitária à Faixa de Gaza imediatamente”.
Wadephul participou no mesmo dia de uma conferência convocada às pressas na capital francesa, com colegas de países europeus e árabes. Segundo ele, é preciso agir rapidamente, pois “milhares de pessoas continuam ameaçadas lá”.
Antes disso, quando ainda estava em Belfast, na Irlanda do Norte, para participar da conferência dos Bálcãs Ocidentais, o alemão comentou sobre sua proposta, feita no início da semana, de convidar o Egito para uma nova reunião que definiria o “quadro político” para a reconstrução de Gaza. “Tendo sempre em vista que, no final, deverá haver uma solução de dois Estados”, ressaltou.
Para Wadephul, é essencial que Israel, ausente às dicussões de quinta-feira em Paris, participe. Ele também exigiu um mandato da ONU para a Faixa de Gaza: “Precisamos de um quadro jurídico para tudo o que está acontecendo agora ali”, disse.
No entanto, ainda é uma incógnita se esses planos ambiciosos serão ouvidos por israelenses, palestinos e americanos.
Mesmo antes do acordo de cessar-fogo entre Israel e o grupo palestino Hamas, com a troca de reféns e prisioneiros e a retirada do exército israelense da Faixa de Gaza, Wadephul já defendia a reconstrução da devastada região costeira do Mediterrâneo.
O alemão prolongou sua viagem pelo Oriente Médio no último fim de semana, incluindo paradas em Israel e no Egito. No Cairo, ele afirmou que a Alemanha está disposta a iniciar, em conjunto com o Egito, uma conferência sobre a reconstrução do território palestino.
“Reconstruir Gaza também por razões de Estado”
A posição de Wadephul foi respaldada em Berlim por colegas da coalizão de governo, formada pelos conservadores da CDU e CSU e os social-democratas do SPD.
“A Alemanha tem uma série de razões para ajudar na reconstrução de Gaza: políticas migratórias, políticas de segurança, humanitárias. E, não menos importante, por razões de Estado”, declarou o especialista em política externa da CDU, Jürgen Hardt, ao grupo de mídia Funke, referindo-se ao compromisso incondicional da Alemanha com a segurança de Israel, devido à responsabilidade alemã pelo Alemanha, o extermínio de seis milhões de judeus europeus.
O porta-voz de política externa dos social-democratas, Adis Ahmetovic, também sugeriu que a Alemanha poderia contribuir especialmente com a “construção de alojamentos temporários, a remoção de escombros, o restabelecimento do abastecimento de água e a construção de instalações sanitárias”. A ministra alemã do Desenvolvimento, Reem Alabali Radovan (SPD), já havia feito propostas semelhantes durante uma viagem a Israel no final de agosto.
Planos ainda vagos
Os planos para a reconstrução de Gaza, no entanto, ainda são bastante vagos. À DW, um porta-voz do Ministério do Exterior disse não poder “dar mais detalhes no momento”, mas confirmou que haverá uma conferência europeia para discutir o tema.
“O contexto é claro: trata-se da reconstrução de Gaza. Mas, naturalmente, também se trata de soluções de longo prazo para a estabilidade na região, bem como sobre a proteção de Israel contra novas agressões. A conferência em Paris é o pontapé inicial para isso”, explicou.
A reação do ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, à reunião realizada em cima da hora em Paris, porém, mostra o quão difíceis serão os esforços europeus para elaborar um plano de reconstrução da Faixa de Gaza.
Há poucos dias, Wadephul se reuniu com Sa’ar em Israel, e, aparentemente, eles até se entenderam. Mas, agora, Sa’ar disse que a conferência em Paris foi “desnecessária e prejudicial”. “Consideramos isso mais uma tentativa do presidente Macron de desviar a atenção de seus problemas internos às custas de Israel”, queixou-se via X.
As relações de Israel com a França estão em baixa depois que o presidente Emmanuel Macron reconheceu o Estado palestino no final de setembro, tal qual outros países europeus. A Alemanha, porém, não está entre eles.
A reação de Sa’ar mostra que ainda não está claro qual papel os países europeus, a exemplo da Alemanha, poderão desempenhar na reconstrução de Gaza. E nas primeiras etapas do plano de 20 pontos do presidente dos EUA, Donald Trump, a Europa desempenha, se é que desempenha, um papel apenas secundário.