O dalai lama é o líder espiritual supremo da escola Gelug (Chapéu Amarelo), a mais nova e mais dominante do budismo tibetano. O título é transmitido por reencarnação: seu portador é o sucessor de uma linha de tulkus, sucessores de Avalokiteśvara, bodisatva (ser iluminado) da compaixão, que optaram por reencarnar para esclarecer a humanidade.

Dalai significa oceano ou grande em mongol, e lama vem de bla-ma, que significa mestre ou guru em tibetano. Traduzível como “Oceano de Sabedoria”, o título foi conferido pela primeira vez em 1578, postumamente, a Gendun Drup (1391–1474), passando desde então a cada sucessor.

Após a morte de um dalai lama, um comitê de altos lamas inicia uma investigação para descobrir sua nova reencarnação. Eles procuram se, em cartas, se o tulku deixou alguma indicação onde pretende renascer. Os amigos mais próximos também devem recordar tudo o que ele disse em seus últimos dias, em busca de pistas.

Outros métodos incluem análise de sonhos dos lamas e sinais divinos – como um arco-íris guiando o grupo de busca até a criança eleita. Então, os discípulos do antecessor a submetem a treinamento espiritual num mosteiro, com estudos intensos, iniciação em rituais complexos e disciplina rigorosa, embora contrabalançados por “amor incondicional”.

Observadores ocidentais relatam sobre a notável placidez dos jovens tulkus, seu olhar concentrado e a capacidade de ficar sentados quietos, sem a natural agitação infantil, mesmo ao longo de cerimônias que duram um dia todo.

Tenzin Gyatso, 14º dalai lama

Além de líderes espirituais, os dalai lamas são também considerados os “reis” ou chefes de Estado do Tibete, que governaram do século 17 até 1959, a partir da capital, Lhasa. Jetsun Jamphel Ngawang Lobsang Yeshe Tenzin Gyatso é atualmente o 14º dalai lama. Segundo fontes jornalísticas ocidentais, ele teria nascido sobre uma esteira de palha num estábulo, em 6 de julho 1935, como um dos 16 filhos de uma família pobre de agricultores.

Entronado em 17 de novembro de 1950, ele fugiu para a Índia nove anos mais tarde, temendo pela própria vida em meio à revolta do povo tibetano contra o Exército da República Popular da China, que detinha o controle de fato do país. Desde 1959 lidera a Administração Central Tibetana, o governo no exílio, a partir de solo indiano.

Durante a década de 1960, com a meta de promover operações de guerrilha contra os chineses no Tibete, a CIA, agência de inteligência civil do governo dos Estados Unidos, financiou a administração do dalai lama com 1,7 milhão de dólares anuais.

Inicialmente o líder e seus seguidores almejavam a independência total do Tibete, mas pelo fim da década de 1980 a meta fora reduzida para autonomia de alto nível. Em 2011, ele manifestou o desejo de renunciar à liderança, mas seus ministros rejeitaram a demissão, alegando não haver ninguém digno de substituí-lo.

Líder tibetano cultuado, mas controverso

Em 2013, numa consulta ampla nos EUA e cinco países europeus, o atual dalai lama foi indicado como líder mundial mais popular, empatado com o então presidente americano, Barack Obama.

A vida pública do líder religioso tem sido também marcada por incidentes controversos. Em 2018, numa conferência na Suécia, declarou que “a Europa pertence aos europeus”, e que, apesar do dever de receber, ajudar e educar os refugiados, no fim eles deveriam voltar a seus países de origem.

No ano seguinte, falando a um jornal indiano, o dalai lama indicou que provavelmente reencarnará na Índia, e advertiu que nenhuma interferência de Pequim em sua sucessão deve ser considerada válida. Em entrevista à BBC, contudo, comentou que “se uma dalai lama feminina vier, ela deve ser mais atraente”, pois se tivesse “uma certa aparência”, as pessoas vão preferir “não olhar para aquele rosto”.

Em outubro de 2020, afirmou não apoiar a independência do Tibete, e que esperava um dia visitar a China como ganhador do Prêmio Nobel. “Eu prefiro o conceito de ‘república’ da República Popular da China. Nesse conceito, minorias como tibetanos, mongóis, manchus e uigures de Xinjiang, podemos viver em harmonia”, teria declarado à emissora RFA.

Em abril de 2023, a divulgação de um vídeo gravado em fevereiro no norte da Índia causou escândalo, ao mostrar o dalai lama beijando um menino nos lábios e depois pedindo que lhe chupasse a língua. Após a revelação, o líder espiritual pediu desculpas em comunicado, alegando que “muitas vezes provoca aqueles que encontra, de um modo inocente e brincalhão, mesmo em público e diante de câmeras”.

av/lf (ots)