Sentenciado a 45 anos de prisão por facilitar envio de mais de 400 toneladas de cocaína aos EUA em troca de propina, Juan Orlando Hernández é do mesmo partido de candidato apoiado por Trump à Presidência de Honduras.Condenado nos Estados Unidos a 45 anos de prisão por tráfico de drogas, o ex-presidente de Honduras Juan Orlando Hernández (2014-2022), foi libertado nesta segunda-feira (01/12), após ser indultado pelo presidente americano Donald Trump .

A informação consta de registros atualizados do Escritório Federal de Prisões (BOP), e foi confirmada pela mulher de Hernández, Ana García.

“Depois de quase quatro anos de dor, de espera e de provas difíceis, meu esposo voltou a ser um homem livre, graças ao perdão presidencial outorgado pelo presidente Donald Trump”, escreveu ela no X.

“A verdade sempre prevalece”, celebrou Ana García, reproduzindo um versículo bíblico muito evocado também por outro aliado de Trump, o ex-presidente Jair Bolsonaro : “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.”

Hernández havia sido extraditado para os Estados Unidos em abril de 2022 e sentenciado em março de 2024. Além da pena privativa de liberdade, foi condenado a pagar uma multa no valor de 8 milhões de dólares.

O político de 57 anos cumpria pena em uma prisão federal de alta segurança em Hazelton, no estado da Pensilvânia.

Ele pertence ao mesmo Partido Nacional do conservador Nasry Asfura, candidato à Presidência de Honduras incensado por Trump como aliado na luta contra o “narcocomunismo” e que tem boas chances de se eleger ao cargo .

Hernández teria ajudado a traficar 400 toneladas de cocaína para os EUA

Promotores americanos acusaram Hernández de orquestrar, ao longo de mais de 20 anos, um lucrativo esquema de tráfico de drogas que teria inundado os EUA com mais de 400 toneladas de cocaína.

Seu elo com o narcotráfico teria começado em 2004, quando Hernández ainda era deputado. A campanha vitoriosa que o levou à Presidência de Honduras em 2013 teria sido irrigada com dinheiro do crime – incluindo uma propina de 1 milhão de dólares paga pelo megatraficante mexicano El Chapo , para assegurar a livre passagem de navios carregados de cocaína.

Hernández, que sempre negou envolvimento com o crime e se diz vítima de “perseguição política”, acabou reeleito em 2017. Mesmo impopular , já no primeiro mandato de Trump, seguiu sendo tratado por Washington como um parceiro regional no combate à imigração irregular e ao narcotráfico – até o irmão dele, Tony, ser preso em 2018 em Miami sob suspeita de ligação com traficantes.

O próprio Hernández acabaria preso e extraditado para os EUA em 2022, semanas após deixar a Presidência de um dos países mais pobres , violentos e corruptos da América Central.

“O ex-presidente foi uma figura central em um dos maiores e mais violentos esquemas de tráfico de cocaína do mundo. Hernández usou os lucros do tráfico de drogas para financiar sua ascensão política e, uma vez eleito presidente, utilizou os recursos de aplicação da lei, militares e financeiros do governo de Honduras para ampliar seu esquema de tráfico de drogas”, declarou à época a chefe do DEA, agência americana de combate às drogas, Anne Milgram.

Um comunicado do Departamento de Justiça americano publicado após a condenação afirmava que, enquanto foi presidente, Hernández “promoveu publicamente legislações e os esforços que alegava realizar em apoio às medidas antinarcóticos em Honduras” enquanto, “ao mesmo tempo, protegia e enriquecia os traficantes de drogas de seu círculo próximo e aqueles que lhe ofereciam subornos alimentados por cocaína, permitindo que conquistasse e mantivesse o poder”.

Vítima de uma “armação”?

Trump havia anunciado que planejava indultar Hernández, alegando que o governo do ex-presidente Joe Biden “armou uma cilada” para o ex-governante hondurenho.

Enquanto críticos consideram que o indulto enfraquece a luta contra o narcotráfico, defensores do perdão presidencial apontam irregularidades no julgamento.

Hernández pediu o indulto a Trump por meio de uma carta na qual o elogiava e recordava a colaboração entre os dois países durante o primeiro mandato do republicano, de acordo com o portal Axios, que teve acesso ao documento.

“Nosso pai foi vítima de uma conspiração entre a esquerda radical e o narcotráfico”, afirmou em novembro uma das filhas dele, Ana Daniela, em postagem nas redes sociais. “João Orlando nunca foi o vilão. Na verdade, foi o presidente que resgatou Honduras do narcotráfico e do crime organizado.”

Honduras, um país com cerca de 10 milhões de habitantes, tem um longo histórico de relações com os EUA: primeiro como produtor de bananas, depois como base estratégica para ações de contra-insurgência de Washington na América Latina e, nos dias atuais, como parceiro no combate ao tráfico de drogas .

Como relata o New York Times , o país virou nos anos 2000 uma parada importante na rota da cocaína, que sai da América do Sul e chega aos EUA pela fronteira com o México. Foi nessa época que as taxas de homicídio dispararam no país. O tráfico prosperou especialmente após o golpe que depôs o presidente esquerdista Manuel Zelaya, em 2009.

O indulto de Trump a Hernández vem num momento em que os EUA acumulam uma presença militar massiva no Mar do Caribe para pressionar o presidente venezuelano Nicolás Maduro, associado por Washington ao “narcoterrorismo” .

ra (EFE, ots)