04/11/2025 - 9:56
Muçulmano nascido em Uganda de apenas 34 anos lidera pesquisas de eleição para prefeito de Nova York. Suas posições socialistas parecem agradar a muitos nova-iorquinos, mas não a um em especial: Donald Trump.Nova York vai eleger nesta terça-feira (04/11) um novo prefeito. A desistência do atual prefeito, o democrata Eric Adams, anunciada em setembro, significa que a cidade terá um novo mandatário.
Entre os candidatos estão o democrata Zohran Mamdani, de apenas 34 anos e uma estrela em ascensão no partido; o ativista republicano Curtis Sliwa; e o ex-governador de Nova York Andrew Cuomo, que concorre como independente.
Sliwa, a quem as pesquisas eleitorais dão chances mínimas, é um conservador que apresentou vários programas de rádio, se descreve como populista e outsider e é conhecido na cidade por seu grupo de patrulheiros Anjos da Guarda.
Cuomo, amplamente considerado um centrista, renunciou ao cargo de governador há quatro anos, em decorrência de uma série de acusações de assédio sexual que ele nega. Depois de uma derrota surpreendente para Mamdani nas primárias democratas, em junho, ele decidiu concorrer como independente.
Mamdani, o candidato democrata, é considerado o grande favorito, segundo as pesquisas eleitorais. Se ele vencer, será o prefeito mais jovem desde 1892 e também o primeiro muçulmano.
Quem é Zohran Mamdani?
O favorito na disputa para prefeito de Nova York nasceu em Uganda, filho de pais de ascendência indiana. Sua mãe, Mira Nair, é uma respeitada cineasta indiana-americana, e seu pai, Mahmood Mamdani, é um acadêmico ugandense nascido na Índia.
Quando Mamdani tinha 5 anos, a família se mudou de Uganda para a África do Sul, antes de se estabelecer em Nova York, dois anos depois. Ele descreve sua criação como privilegiada, mas diz que não foi uma experiência típica para um nova-iorquino. Em 2018 obteve a cidadania americana.
Sua ascensão política foi rápida. Ele foi eleito para a Assembleia Estadual de Nova York em 2020 e anunciou sua campanha para prefeito em outubro de 2024. Mamdani era então visto como um desconhecido que não chegaria nem perto da nomeação. No final, sua vitória sobre Cuomo foi convincente, com 56,4% dos votos.
Mamdani é fã e músico de hip-hop e produziu músicas desse gênero. Ele também é muçulmano e fã de vários times esportivos, incluindo o New York Mets (beisebol), o New York Giants (futebol americano) e o time de futebol inglês Arsenal.
Quais são as políticas e os princípios de Mamdani?
Moradia é um dos temas centrais da campanha eleitoral de Mamdani, em parte devido a sua experiência anterior à política, quando ele ajudava pessoas de baixa renda a evitar despejos. Numa metrópole que, segundo um relatório de 2025 do banco alemão Deutsche Bank, tinha os aluguéis mais caros do mundo no centro da cidade (um apartamento médio de três quartos custava 8.500 dólares por mês, cerca de R$ 46 mil), os apelos dele pelo congelamento dos aluguéis, aumento da oferta de moradias populares e maior regulamentação sobre proprietários privados encontraram eco em muitos eleitores.
Outro indicador de suas posições é a sua filiação aos Socialistas Democráticos da América, uma organização política de esquerda que atua dentro do Partido Democrata. Mamdani também defende a criação de um imposto fixo de 2% para quem ganha mais de 1 milhão de dólares por ano, o aumento do imposto corporativo, ônibus gratuitos, um salário mínimo de 30 dólares por hora (bem superior aos atuais 16,50) e a expansão da oferta de creches públicas.
“Você deve falar uma linguagem que todos possam entender e com a qual todos se identifiquem e também abordar as dificuldades que as pessoas enfrentam e que ocupam o seu cotidiano”, disse Mamdani à revista britânica New Statesman em setembro. “Muitas vezes, [os democratas] falam sobre democracia, mas se você não consegue morar na cidade que considera seu lar, não tem muito tempo para se preocupar com valores.”
O que dizem os críticos de Mamdani?
Como seus princípios e políticas estão bem mais à esquerda do que é comum nos EUA, muitos discordam de Mamdani. Alguns dizem que sua versão de socialismo, mesmo numa cidade com uma inclinação bem mais progressista do que a média nos EUA, o torna uma figura polarizadora.
Para o ex-governador de Nova York David Paterson, os temores despertados por Mamdani são semelhantes aos que o presidente Donald Trump gera. “Trump se dirige a um outro público e faz generalizações negativas. Zohran Mamdani fez a mesma coisa. Mas ele está falando sobre democratas ou republicanos comuns.”
O apoio de longa data de Mamdani aos direitos palestinos também foi percebido por alguns como um problema numa cidade que tem a maior população judaica fora de Israel. “Para ser claro, inequívoco e dito de forma aberta: acredito que Zohran Mamdani representa um perigo para a comunidade judaica de Nova York”, disse o rabino Elliot Cosgrove, da conservadora Sinagoga de Park Avenue, num sermão no início deste mês.
Mas essa opinião não é compartilhada por toda a população judaica de Nova York, e muitos afirmaram gostar de Mamdani.
Empresários também expressaram reservas. O investidor Bill Ackman declarou que as “políticas antiempresariais de Mamdani, incluindo impostos mais altos para as empresas, vão eliminar empregos em Nova York e fazer com que empresas deixem a cidade”.
Qual a importância do cargo de prefeito de Nova York?
Com uma população de quase 8,5 milhões e cerca de 65 milhões de visitantes por ano, Nova York é um importante centro cultural e financeiro. A cidade enfrenta grandes desafios em habitação, transporte público e finanças públicas. A prefeitura tem um orçamento anual de 116 bilhões de dólares e uma ampla área de atuação, que incluem educação e segurança pública.
O tamanho da metrópole e seu perfil internacional fazem com que o trabalho do prefeito seja acompanhado em todo o país e também no exterior. Tamanha visibilidade já levou vários ex-prefeitos de Nova York a se candidatarem à presidência dos EUA, ainda que nenhum tenha sido bem-sucedido. Mamdami, porém, que nasceu em Uganda, não pode concorrer à presidência.
Caso Mamdani vença a disputa, suas acaloradas discussões com Trump, também um nova-iorquino, provavelmente serão um tópico recorrente nos EUA. Trump já se referiu a Mamdani como um “lunático comunista” e um “desastre prestes a acontecer”. Já o candidato a prefeito afirmou que tentará cooperar com o presidente pelo bem da cidade, mas que também não vai se deixar intimidar.
“Se você quer debater como tornar a vida dos nova-iorquinos mais difícil, atacando as pessoas nesta cidade e até mesmo aquilo que ela é, então lutarei contra você”, disse ele a Trump por meio de uma entrevista a dois humoristas.
Com suas visões políticas completamente opostas, as relações entre o presidente e o provável futuro prefeito de Nova York têm tudo para se tornar um novo campo de batalha na política americana.
