12/12/2023 - 15:21
Apenas nove pessoas formam o reduzido gabinete do novo presidente argentino. Entre eles estão ultradireitistas, economistas e até peronistas. Mas, quem são e o que se espera deles?O novo presidente da Argentina, o populista de direita Javier Milei, de 53 anos, optou por uma equipe reduzida de colaboradores, com alguns “seguidores fiéis” de seu partido, o A Liberdade Avança, e com ex-membros do gabinete do ex-presidente Mauricio Macri (2015-2019).
Também estão no grupo alguns “técnicos recém-chegados”, como descreveu à DW o sociólogo argentino Marcos Novaro, professor da Universidade de Buenos Aires (UBA). Ele diz que, em geral, este é um grupo de “pessoas que não se conhecem” e sem experiência política, mas com prestígio profissional.
O novo gabinete, onde a maioria tem idade mais avançada do que Milei, possui ligações inclusive com o peronismo kirchnerista – tendência política que governou a Argentina nos últimos anos.
Com suas escolhas, Milei põe “ênfase em conseguir uma coalizão para aprovar suas medidas no Legislativo, mas também, em nome da ideia de um governo mais amplo”, uma vez que o partido governista possui poucos deputados e senadores, acrescentou o cientista político argentino Luis Schenoni, da University College London (UCL).
Juntamente com a redução do número de ministérios – de 18 para 9 – Schenoni destaca o fato de vários ministros terem formação em economia, além da proporção de mulheres no gabinete, que é “a mais alta na história democrática” argentina, assegurou. Elas são minoria, mas ocupam 3 das 9 vagas, assim como “algumas das posições mais importantes”.
Luis Caputo, o ministro “mais importante em curto prazo”
À frente do Ministério da Economia, o economista Luis Caputo, de 58 anos, professor da Universidade Católica da Argentina, será “o ministro mais importante em curto prazo”, avaliou o politólogo Schenoni.
Por sua vez, Novaro avalia que sua indicação, assim como da equipe econômica, de modo geral, destaca um “gesto pragmático” de Milei ao deixar de lado seus assessores de campanha, os defensores da dolarização e da eliminação do Banco Central.
Ele foi secretário e ministro das Finanças e presidente do Banco Central durante o governo de Macri. Novaro avalia que Caputo “não é um macroeconomista”, de forma que terá de se apoiar em outras “estrelas” do governo Milei, como Santiago Bausili, presidente do Banco Central do novo governo.
Ele terá de renegociar a dívida dos bancos com o Banco Central que contribui para os altíssimos índices de inflação no país. Ele provavelmente será “um dos ministros que perderá capital político com maior rapidez, à medida em que a situação econômica se deteriore muito rapidamente, antes de melhorar”. Isso, segundo as previsões de praticamente todos os analistas e do próprio Milei, afirma Schenoni.
Diana Mondino, a “diplomata econômica”
Entre as mulheres, destaca-se a figura de Diana Mondino, de 65 anos, senadora por Buenos Aires e nova ministra do Exterior. “Sem experiência relevante em diplomacia”, ela é integrante do partido de Milei e professora de economia na mesma universidade particular do novo presidente, a Ucema, considerada a meca do liberalismo argentino.
Mondino será a responsável por levar adiante “uma diplomacia fundamentalmente econômica”, explica Schenoni. Ela terá de aparar as arestas com o Brasil e a China geradas durante a campanha, embora deva se concentrar em negociar com os Estados Unidos e organismos internacionais em busca de financiamento para o plano de estabilização idealizado por Milei em seu programa de ajuste econômico, explica Novaro.
Patricia Bullrich, “peça-chave” para a segurança
A ex-candidata à Presidência derrotada no primeiro turno das eleições e nova ministra da Segurança, Patricia Bullrich, de 67 anos, será responsável pelo “segundo tema mais importante da agenda de governo”. Schenoni a considera uma “peça-chave”, por ser a representante de uma ala pró-Milei mais à direita dentro de uma das principais coalizões de oposição, a Juntos pela Mudança, de centro-direita, que integra seu partido, o PRO.
É uma das poucas figuras experientes na equipe do novo governo, reassumindo o cargo que ocupou no mandato de Macri. Ela tem uma tarefa imediata, que é “colaborar para conter a crise e os protestos sociais”, afirma o sociólogo da UBA. Planos mais ambiciosos, como a reforma das forças de segurança e o combate ao narcotráfico, provavelmente ficarão para mais adiante.
Luis Petri, a continuidade da “agenda pró-democracia”
O advogado e ex-candidato a vice-presidente na chapa de Bullrich, Luis Petri, é o novo ministro da Defesa. Sua indicação, segundo Schenoni, “demonstra que Milei, no que diz respeito a temas de controle das forças de segurança e da violência política a nível doméstico, tem intenção de delegar essas questões ao PRO”.
A nomeação de Petri também tem o objetivo de apaziguar as preocupações de que a vice-presidente Victoria Villarruel – que costuma negar os crimes cometidos durante a ditadura – pudesse ter influência sobre as Forças Armadas. O politólogo Schenoni avalia que seu nome também sinaliza a continuidade da “agenda pró-democracia” dos governos argentinos dos últimos anos.
Sandra Pettovello, “um dos elos mais fracos”
A jornalista e licenciada em Ciências da Família Sandra Pettovello, de 55 anos, está á frente do megaministério do Capital Humano, que combina as antigas pastas da Educação, Trabalho e Desenvolvimento Social.
A militante do A Liberdade Avança não possui muita experiência, mas tem origens no PRO, força com a qual ainda possui ligações. Segundo Novaro, ela seria “um dos elos mais fracos” do novo governo em razão da quantidade de áreas sob sua responsabilidade, que englobam funcionários e organizações “bastante politizadas” próximas ao governo anterior.
Ela terá ainda o papel ideológico central de “repensar a assistência social em termos de formação de capital para o setor privado”, assim como para a “administração da situação social no contexto das terríveis políticas de ajuste anunciadas pelo presidente”, avalia Schenoni.
Os demais, em segundo plano
Schenoni considera que o restante da equipe, incluindo o novo chefe de gabinete, o engenheiro Nicolás Posse, reflete o perfil do próprio Milei, que não apenas tem origem no meio econômico, mas também o tem como prioridade. Dessa forma, estará alinhado à política de ajustes apresentada pelo presidente.
Ainda que estejam inicialmente em segundo plano, os ministros do Interior, Guillermo Francos, de 73 anos; e da Infraestrutura, o economista Guillermo Ferraro, de 68 anos, são provas do esforço de Milei de alistar algumas figuras do peronismo.
A eles se junta o advogado Mariano Cúneo Libarona, de 62 anos, como ministro da Justiça, encarregado de “normalizar a relação do Executivo com a Suprema Corte, encerrar a judicialização iniciada pelos peronistas contra os juízes e defender o respeito à independência do Judiciário”, afirma Novaro.
O cardiologista Mario Russo foi o escolhido de última hora como ministro da Saúde, pasta que inicialmente seria englobada pelo ministério do Capital Humano.