EUA e UE tentam exercer influência moderadora sobre governo Netanyahu. Mas quem conseguiria interagir com Teerã visando evitar uma nova escalada após um possível ataque retaliatório israelense?Após o ataque aéreo maciço do Irã, Israel quer retaliação. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, disse nesta terça-feira (16/04) que o ataque seria realizado com cuidado e não por impulso.

Na noite de domingo passado, o Irã atacou Israel diretamente de seu território pela primeira vez, em retaliação a um ataque com mísseis contra o prédio da embaixada iraniana na capital síria, Damasco, em que vários membros do alto escalão da Guarda Revolucionária foram mortos. O Irã e seus aliados culpam Israel pelo ataque. Israel não emite comentários sobre o assunto.

De acordo com os israelenses, quase todos os drones, foguetes e mísseis de cruzeiro lançados pelo Irã foram repelidos. Agora, o Irã agora alerta que “a menor ação” de Israel contra “os interesses do Irã” resultará em uma “reação dura, abrangente e dolorosa”.

Os EUA e a União Europeia (UE) estão tentando exercer influência moderadora sobre Israel.

Mas quem tem influência sobre o Irã e poderia neutralizar uma nova escalada após um possível ataque retaliatório de Israel?

Catar

De acordo com o gabinete presidencial iraniano, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, conversou na nesta terça-feira por telefone com o emir do Catar, Tamim bin Hamad al-Thani. O Irã e o Catar mantêm relações diplomáticas estreitas. Eles se tornaram particularmente próximos durante a crise do Catar. Entre 2017 e 2021, o Catar foi isolado no mundo árabe por instigação da Arábia Saudita. Entre outras coisas, Riad acusou o Catar de apoiar grupos terroristas na região. O Irã e o Catar apoiam a organização terrorista Hamas.

Com a autorização do governo israelense, o Catar é um dos mais importantes doadores de ajuda humanitária à Faixa de Gaza e é considerado um importante mediador entre Israel e o Hamas. Sob a mediação do Catar, Israel e o Hamas concordaram em novembro de 2023 com um breve cessar-fogo e troca de prisioneiros.

Omã

O Sultanato opera discretamente, abaixo do radar público, e há muito tempo desempenha um papel crucial como mediador entre o Irã e os EUA.

Sem Omã, os acordos alcançados nas negociações sobre o programa nuclear iraniano nas últimas duas décadas teriam sido inconcebíveis. Além disso, o país também está fazendo campanha para a libertação de prisioneiros americanos e europeus no Irã.

O New York Times noticia que desde o último fim de semana o governo dos EUA tem buscado diálogo com as autoridades iranianas através do governo de Omã e da Suíça. Os EUA e o Irã não têm relações diplomáticas. O contato deve ser estabelecido por meio de outros países.

Arábia Saudita

Historicamente adversária regional do Irã e aliada próxima dos EUA, a Arábia Saudita também está interessada em evitar que a situação se agrave ainda mais, pois o país depende das exportações de petróleo, que seriam prejudicadas no caso de uma ampliação da guerra.

Foi somente em 2023 que as relações entre a Arábia Saudita e o Irã foram normalizadas, graças à mediação da China. Os dois países trocaram embaixadores novamente, concentraram-se no aumento do comércio e até discutiram a cooperação em defesa.

No entanto, a Arábia Saudita não tem poder para exercer nenhuma influência direta sobre o Irã devido à sua história e, em vez disso, opta por uma estratégia indireta: o ministro das Relações Exteriores saudita, Faisal bin Farhan bin Abdullah, sugere a China como mediadora. Em uma conversa com seu colega chinês, o ministro saudita disse que seu país tem grandes expectativas e espera que a China desempenhe um papel ativo e importante para que a situação ameaçadora no Oriente Médio volte à normalidade.

China

Pequim afirma querer evitar uma nova escalada no Oriente Médio. Pelo menos é o que informa a agência de notícias estatal chinesa Xinhua. A China é o parceiro comercial mais importante do Irã. Os dois países também cooperam militarmente. Em sua conversa telefônica com seu colega iraniano, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, pediu nesta terça-feira ao Irã que use de moderação. Wang também garantiu ao Irã que a China, como poder de veto no Conselho de Segurança da ONU, condenou o ataque com mísseis ao prédio da embaixada iraniana em Damasco. No entanto, no próprio grêmio da ONU não foi possível chegar a um acordo sobre uma condenação.

“A China não quer que a situação no Oriente Médio saia do controle. O país já está enfrentando o aumento dos custos de transporte e um aumento drástico nos riscos de fornecimento de energia”, disse James Dorsey, cientista político da Universidade Tecnológica de Nanyang, em Cingapura, ao jornal cingapuriano Zaobao.

Entretanto, a China não tem canais de comunicação com Tel Aviv, segundo Dorsey. “A única coisa que a China pode fazer é apelar a Israel, juntamente com a comunidade internacional, para evitar uma escalada e reagir com moderação.”

Rússia

Tradicionalmente, Moscou tem boas relações políticas com todos os atores envolvidos: Israel, os grupos palestinos, a Arábia Saudita e o Irã. A Rússia é considerada uma aliada próxima do Irã. Teerã e Moscou expandiram ainda mais sua cooperação sob as sanções dos EUA. O Irã fornece drones para o Exército russo, que são usados contra a Ucrânia.

A crescente tensão entre o Irã e Israel está desviando a atenção da guerra na Ucrânia. A Rússia está realmente interessada em diminuir a escalada no Oriente Médio?

“Qualquer coisa que leve a um aumento nos preços da energia, especialmente preços mais altos do petróleo, é benéfico para a Rússia, pelo menos a curto e até mesmo a médio prazo”, diz David Sharp, especialista militar israelense, em entrevista à DW. “Mas se o Irã se envolver em uma grande guerra e se uma guerra for travada contra o Irã, teoricamente seria possível que o fornecimento de armas iranianas para a Rússia venha a sofrer restrições.”

Moscou pediu moderação tanto de Israel quanto do Irã. Em uma conversa com o chefe do Conselho de Segurança Nacional de Israel, Zachi Ha-Negbi, nesta segunda-feira, o secretário do Conselho de Segurança da Rússia, Nikolai Patrushev, enfatizou a necessidade de “contenção de todos os lados do conflito no Oriente Médio, para evitar uma escalada”. Patrushev enfatizou que a Rússia é da opinião de que as diferenças devem ser resolvidas “exclusivamente por meios políticos e diplomáticos”.

Turquia

A Turquia tem apoiado a posição palestina desde os primeiros dias do conflito no Oriente Médio. Na semana passada, Ancara chegou a anunciar sanções econômicas contra Israel. O governo turco também teme mais tensão e violência entre Irã e Israel. O governo turco também teme novas tensões e violência entre o Irã e Israel e pediu moderação a ambas as partes.

“Diferentemente de outros países da região, como Catar, Omã e Arábia Saudita, a Turquia tem uma longa fronteira terrestre com o Irã”, diz Gülru Gezer, diplomata e diretora para política externa da Fundação Turca de Pesquisa em Política Econômica (TEPAV). “Uma possível instabilidade no vizinho Irã poderia ter sérias consequências para a Turquia, especialmente no que diz respeito à migração do Irã. A Turquia infelizmente já teve que passar por isso com as guerras na Síria e no Iraque.”