22/03/2019 - 8:14
Nos últimos anos, as empresas começaram a perceber a sustentabilidade não apenas como uma boa prática. Em tempos de relações cada vez mais estreitas com públicos de interesse, maior acesso à informação e escassez de recursos naturais, a sustentabilidade assumiu o papel de protagonista, como valor essencial para a perenidade dos negócios.
De acordo com os relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgados em 2017, cerca de três em cada dez pessoas no mundo — um total de 2,1 bilhões — não têm acesso a água potável em casa, e seis em cada dez — ou 4,5 bilhões — carecem de saneamento seguro. Os impactos negativos da degradação ambiental, como secas e escassez de água doce, assumiram papel relevante na lista de desafios da humanidade.
No caso da indústria, cujo emprego de recursos como água e energia é fundamental para a operação, períodos de escassez hídrica têm o potencial de impactar a produção fortemente. Assim, o uso eficiente desses materiais e a mitigação de impactos passaram a figurar na estratégia das companhias e também estão em linha com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), adotados por empresas signatárias do Pacto Global.
O objetivo seis do compromisso consiste em assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos – que, por conta de seu impacto, é responsabilidade da indústria, além do poder público. Entre suas premissas está aumentar substancialmente, até 2030, a eficiência do uso da água em todos os setores e assegurar retiradas sustentáveis e o abastecimento de água doce para enfrentar a escassez de água, bem como melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos.
Em linha com esses aspectos, algumas iniciativas já são realidade na indústria, como melhorias no planejamento da produção, a fim de reduzir a necessidade de limpeza de plantas industriais, e realização de limpezas a seco preliminarmente ao uso de água – processo que, em alguns casos, pode corresponder a mais da metade do consumo de água em fábricas.
O apoio a iniciativas públicas também pode contribuir não só para a empresa – que utiliza fontes hídricas do entorno – como para a comunidade. É o caso do Programa Produtor de Água, por exemplo, realizado em parceria com a prefeitura de Guaratinguetá (SP) e a Fundação Espaço ECO. O projeto tem como objetivo aumentar a disponibilidade de água na bacia hidrográfica do Ribeirão de Guaratinguetá – responsável por 90% do abastecimento público de água do município. A iniciativa prevê práticas e manejos de conservação do solo, recuperação das matas ciliares e proteção dos remanescentes de vegetação nativa e nascentes.
Além disso, mais do que projetos específicos e emergenciais para situações de escassez hídrica, incluir o tema na estratégia de negócios é uma premissa importante, já que o consumo de água está totalmente relacionado ao desenvolvimento da operação. Indicadores de monitoramento e metas de redução, ainda que em ambientes administrativos, podem fazer a diferença para uma mudança estrutural no curto, médio e longo prazo.
Embora haja um investimento inicial para o desenvolvimento desses projetos, há economia no longo prazo e mitigação de possíveis riscos decorrentes de períodos de escassez. Projetos como esses tornam os ODS concretos e a indústria só tem a ganhar. Quem sabe assim, cientes de nossa corresponsabilidade frente a esses desafios, revertemos minimamente o grave cenário hídrico previsto para os próximos anos.
(*) Emiliano Graziano é gerente de Sustentabilidade da Basf para a América do Sul