Ministro do STF gerou controvérsia após falar sobre “derrota do bolsonarismo”. Luís Roberto Barroso é alvo preferencial de apoiadores do ex-presidente e já deu outras declarações consideradas provocadoras.Após declarar a estudantes que “nós derrotamos o bolsonarismo”, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luís Roberto Barroso se viu alvo de uma nova enxurrada de críticas.

“Nós derrotamos a censura, nós derrotamos a tortura, nós derrotamos o bolsonarismo para permitir a democracia e a manifestação livre de todas as pessoas”, afirmou Barroso na noite de quarta-feira (12/07) durante o Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE) em Brasília.

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) apontaram a fala como evidência de parcialidade do ministro e demandaram seu impeachment do cargo. O STF, por sua vez, argumentou que a declaração era uma referência “ao voto popular e não à atuação de qualquer instituição”.

Presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – a quem caberia a abertura de um processo nesse caso – criticou a fala como “inadequada, inoportuna e infeliz”. Pacheco insinuou que Barroso extrapolou suas competências com o comentário, mas sinalizou que não deve levar o pleito dos bolsonaristas adiante.

Barroso, por sua vez, disse que a fala foi uma referência ao “extremismo golpista”, e que ele não quis ofender os eleitores do ex-presidente.

Assim como outros colegas da Corte, ele é alvo preferencial de apoiadores de Bolsonaro, que acusam os magistrados de perseguir conservadores e atuar para barrar a reeleição do político de ultradireita.

O ministro comandou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no período que antecedeu a eleição de 2022 e, também por este motivo, foi atacado diretamente pelo ex-presidente diversas vezes, tendo protagonizado outros tantos embates com seus apoiadores. Relembre alguns episódios.

“Perdeu, mané”

Em novembro, passadas as eleições, um grupo de apoiadores do ex-presidente derrotado protestava pelo terceiro dia seguido contra integrantes do Supremo que participavam de uma conferência em Nova York, nos Estados Unidos.

Como outros no Brasil, os manifestantes alegavam, sem provas, que houve fraude eleitoral em prejuízo de Bolsonaro.

Ao ser interpelado por um manifestante que pedia a abertura do código-fonte das urnas eletrônicas, Barroso reagiu com um seco: “Perdeu, mané, não amola”. A frase, depois, foi resgatada por golpistas em uma pichação durante a depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília em 8 de janeiro, mas com a grafia incorreta: “Perdel mané” .

Indagado depois por repórteres sobre se se arrependia de ter dito aquilo, Barroso ironizou: “Me arrependo porque tem um 'perdeu' ali com 'L'. Isso sim é de lascar.”

Perseguição

Ainda em novembro, antes do episódio em Nova York, Barroso teve que ser acudido pela Polícia Militar após um grupo de bolsonaristas cercar um imóvel em Santa Catarina onde o ministro estava hospedado. O magistrado havia sido reconhecido enquanto jantava num restaurante, foi vaiado e xingado.

Barroso sobre Bolsonaro: “Mau perdedor”

Criticado por Bolsonaro, que o acusou de interferir indevidamente junto à Câmara para enterrar uma proposta encampada por bolsonaristas para instituir o voto impresso, Barroso sugeriu que o líder de ultradireita mente e afirmou que atendeu a convites oficiais dos deputados para falar sobre o tema na condição de presidente do TSE. “Mentir precisa voltar a ser errado de novo”, respondeu no Twitter. “E foi a própria Câmara que derrotou a proposta de retrocesso. Mas sempre haverá maus perdedores.”

Tensões com as Forças Armadas

Em agosto de 2021, após a Câmara enterrar o voto impresso, Barroso, à época à frente do TSE, anunciou a criação de uma comissão externa de transparência com participação das Forças Armadas.

Era uma tentativa de neutralizar os esforços de cooptação dos militares pelo governo e enfraquecer a campanha de descrédito contra o sistema eletrônico de votação, mas o gesto acabou jogando mais lenha na fogueira bolsonarista ao emplacar de vez as Forças Armadas como fiadoras da eleição.

Contrariado com questionamentos sobre as urnas eletrônicas feitos pelos militares, Barroso afirmou em abril de 2022 que eles estavam sendo orientados a “atacar o processo [eleitoral] e tentar desacreditá-lo”. A declaração alvoroçou bolsonaristas e foi considerada ofensiva por fardados nos altos escalões.

“Eles convidaram as Forças Armadas a participar do processo. Será que ele se esqueceu de que o chefe das Forças Armadas se chama Jair Messias Bolsonaro?”, reagiu o então presidente à época. “Não iremos lá para bater palmas.”

Xingamentos

Bolsonaro também se dirigiu no passado de forma agressiva a Barroso diversas vezes, a quem já até se referiu como “filho da puta” (agosto de 2021) e “criminoso” (agosto de 2022). Essa retórica não ficou restrita somente a Barroso, mas foi estendida a outros membros do Supremo: ele chamou Alexandre de Moraes de “canalha” (setembro de 2021) e já falou que os ministros deveriam “calar a boca” e parar de “encher o saco dos outros” (março de 2022).

ra (ots)