23/12/2015 - 22:29
A histórica zona portuária do Rio de Janeiro, que engloba os bairros de Santo Cristo, Gamboa e Saúde, está ganhando uma cara nova. Abandonada há anos, ela vem passando por uma revitalização, resultado de um projeto concebido em 2009 em uma rara conjunção entre os governos municipal, estadual, federal e a iniciativa privada. Celebrado por muitos, criticado por outros tantos, o Porto Maravilha tem transformado profundamente a paisagem da capital fluminense.
Impulsionado pela expectativa dos grandes eventos esportivos (Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016), o empreendimento tem entre seus objetivos resolver problemas de mobilidade da região e recuperar uma área que tem 75% de seu território tombado como patrimônio cultural. A fim de atrair os investimentos necessários para financiar as ações, foi criado um mecanismo que permite aos investidores construir além dos limites atuais, pagando a mais por isso.
A mudança mais radical que já pode ser vista foi a demolição do Elevado da Perimetral, via sobre a Avenida Rodrigues Alves que ligava as zonas sul e norte, passando por cima do porto. Em seu lugar, está sendo construída uma via expressa que deverá ser entregue até junho de 2015. O Binário do Porto, conjunto de avenidas que também servirão ao trânsito local, já foi finalizado.
A previsão para a conclusão das principais obras viárias, entre elas o Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), é o fim do primeiro semestre de 2016, segundo Alberto Silva, presidente da Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio de Janeiro (CDURP). “Há uma série de obras que incluem não só a obra viária, mas a infraestrutura de drenagem de água e esgoto, abastecimento de água, rede de telecomunicação e gás”, diz Silva.
Entre as realizações culturais previstas, o Museu de Arte do Rio de Janeiro (MAR) é um dos destaques. Instalado na praça Mauá, em dois prédios distintos que foram interligados – o Palacete Dom João VI e um edifício modernista –, o museu promove exposições e cursos diversos. O Museu do Amanhã, projeto do arquiteto espanhol Santiago Calatrava que deve ficar pronto no quarto trimestre de 2016, será um espaço dedicado às ciências.
Porto dividido
Nem só de maravilhas vive o porto. Críticos ao projeto afirmam que ele foi concebido priorizando o capital financeiro em detrimento dos interesses sociais. “O projeto Porto Maravilha visa a uma suposta revitalização que realmente está ocorrendo, mas não houve uma contemplação nem uma observação dos aspectos sociais específicos da área”, critica Cláudio Carlos, professor doutor do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ).
A população da área tem um histórico de exclusão social. Na região surgiu a primeira favela do Rio de Janeiro, funcionou o mercado de escravos, e perto dali moraram estivadores, operários, comunidades negras e de judeus. “Agora o perfil social de ocupação da área está sendo brutalmente modificado”, diz Carlos. Para o professor, ao introduzir dinâmicas de um grupo de alto poder executivo em um bairro de perfil socioeconômico de baixa renda, a população mais pobre acaba marginalizada, fenômeno conhecido como gentrificação.
Questionado sobre essa possibilidade, Alberto Silva afirmou que a preocupação com a gentrificação é legítima, mas não procede. “Uma das linhas de ação do projeto é a promoção do desenvolvimento social da região por meio de programas de qualificação profissional, de inserção no mercado de trabalho, de apoio ao pequeno e ao microempresário da região, entre outros”, diz. Silva também defende que a restauração do bairro vai ter o efeito de valorizar os imóveis dos moradores tradicionais.