Um incêndio em um navio cargueiro que transportava quase 4 mil automóveis, que já dura três dias, gerou novos receios quanto aos potenciais riscos gerados pelos carros elétricos.

O navio Fremantle Highway, registrado no Panamá e fretado pela empresa japonesa K Line, estava no Mar do Norte, a cerca de 27 quilômetros da ilha de Ameland, quando o incêndio começou, na noite de terça-feira. Suspeita-se que o fogo tenha começado em um automóvel elétrico.

O cargueiro, que fazia o trajeto entre a Alemanha e o Egito, transportava 3.783 automóveis, dos quais 498 eram elétricos, informou um porta-voz da K Line. Relatos iniciais diziam que havia somente 25 desses veículos a bordo.

A Mercedez-Benz informou que em torno de 350 carros a bordo eram da marca alemã e diz cooperar com a empresa responsável pelo transporte. Não foi informado se o navio transportava automóveis de marcas japonesas.

A Guarda Costeira holandesa disse nesta sexta-feira (28/07) que a causa do incêndio era desconhecida. A imprensa do país, porém, relatou que a origem das chamas seria a bateria de um dos carros elétricos a bordo.

Os veículos com baterias de íon de lítio estão sujeitos a menos risco de incêndio do que os movidos a diesel ou gasolina, mas o perigo é grande se as baterias pegarem fogo, pois elas queimam mais lentamente e suas chamas são mais difíceis de serem controladas.

Jogar mais água para tentar conter o fogo também não é uma solução viável, uma vez que pode provocar o naufrágio do navio e gerar danos ambientais.

O Fremantle Highway, de 199 metros de comprimento, ainda está à deriva a cerca de 17 quilômetros da ilha holandesa de Terschelling.

Risco de incêndio

O incidente renovou as preocupações em torno dos perigos dos carros elétricos. Vídeos com esse tipo de conteúdo aparecem cada vez mais nas redes sociais, mostrando chamas tomando conta de carros elétricos, mas, segundo verificou a DW, isso raramente é verdadeiro.

Ainda assim, incidentes como o naufrágio do navio de transporte de automóveis Felicity Ace há cerca de um ano geram repetidas discussões. O navio se incendiou no trajeto entre Emden, na Alemanha, e os Estados Unidos. As tentativas de controlar as chamas fracassaram porque os carros elétricos pegaram fogo.

Ao final, a tripulação teve que abandonar o navio, que naufragou próximo à Costa dos Açores, levando consigo em torno de 4 mil carros, incluindo modelos das marcas Porsche e Bentley. A suspeita de que uma bateria defeituosa de um carro elétrico pudesse ser a causa do incêndio não foi confirmada.

Especialistas como o pesquisador de acidentes Markis Egelhaaf, da certificadora de testes Dekra e outros como Dana Maißner, do Instituto de Tecnologia e Segurança de Navios em Rostock-Warnemünde, na Alemanha, chegaram diversas vezes à conclusão de que carros elétricos não representam risco maior de incêndio.

Segundo afirmam, esse risco não é mais alto do que nos demais tipos de veículos. Todos os carros registrados devem cumprir certos pré-requisitos legais que garantem ao motorista e aos passageiros o nível mais alto de segurança, seja com motores a diesel ou gasolina, gás natural ou elétrico.

Mesmo assim, a empresa de seguros Allianz destaca que carros elétricos em chamas podem ser traiçoeiros, porque o fogo é capaz de reacender através de um tipo de reação química.

Anastasios Leonburg, assessor de Riscos Marítimos da Allianz, cita uma reportagem do jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung que afirma que grandes quantidades de água são necessárias durante um longo período de tempo para extinguir as chamas. Ele diz que muitas vezes, por uma questão de custos, os navios não possuem os equipamentos adequados.

Boa performance em testes de colisão

Os veículos elétricos são projetados de modo que, em caso de defeito ou acidente, a bateria é automaticamente desconectada de todos os outros componentes e cabos, para que a corrente elétrica não possa ser transmitida.

Dessa forma, é altamente improvável que o automóvel se incendeie após um acidente. Segundo o Automóvel Clube da Alemanha (Adac), os carros elétricos performam melhor nos testes de colisão do que os convencionais.

O Corpo de Bombeiros alemão também chegou a conclusão semelhante. Apesar de a Associação das Brigadas de Incêndio da Alemanha destacar instruções especiais para o combate ao fogo em veículos com baterias de lítio de íon no estatuto alemão de seguros para acidentes, instruções semelhantes também existem para todos os tipos de materiais e produtos químicos.

No que diz respeito à avaliação de risco, os bombeiros profissionais não veem diferença entre os vários tipos de automóveis. Segundo o Adac, os testes feitos pelos bombeiros também sugerem que a intensidade dos incêndios não depende do tipo de veículo, mas, acima de tudo, do material utilizado, especialmente os plásticos.

rc/bl (DW, Reuters, DPA)