05/12/2025 - 7:45
Mediado pelos EUA, acordo visa encerrar conflito que eclodiu em 1998. Pacto concede ainda aos Estados Unidos acesso preferencial a minerais estratégicos da região.Os presidentes da Ruanda, Paul Kagame , e da República Democrática do Congo , Félix Tshisekedi, assinaram nesta quinta-feira (04/12), em Washington, um acordo de paz , mediado pelos EUA e alcançado no início do ano, para encerrar o conflito entre ambos os países.
“Estamos resolvendo uma guerra que já dura décadas”, afirmou o presidente americano, Donald Trump , durante a assinatura do pacto. “Eles passaram muito tempo se matando, e agora vão passar muito tempo se abraçando, dando as mãos e aproveitando economicamente dos EUA, como todos os outros países fazem”, acrescentou.
Trump detalhou que o acordo contempla um cessar-fogo permanente, o desarmamento das forças não estatais, o retorno dos refugiados e a responsabilização para aqueles que cometeram atrocidades. O pacto inclui ainda um componente econômico ao conceder aos Estados Unidos acesso preferencial a minerais estratégicos da região.
Os presidentes dos dois países africanos agradeceram a Trump por sua participação no acordo, mas esclareceram que se “as coisas não saírem como deveriam”, a responsabilidade não recairá nele. “Cabe a nós, na África, trabalhar com nossos parceiros para consolidar e ampliar esta paz”, disse Kagame.
Por sua vez, Tshisekedi se mostrou esperançoso. “Seremos lúcidos, mas firmemente otimistas. Estes acordos de Washington pela paz e pela prosperidade devem ser para nossos povos um símbolo de um compromisso irreversível”, acrescentou.
Entenda o conflito
Desde 1998, o leste da República Democrática do Congo vive um conflito alimentado por grupos rebeldes e pelo Exército, apesar da missão de paz da ONU (Monusco). Estima-se que mais de 100 movimentos armados estejam envolvidos no conflito, sendo o grupo rebelde Movimento 23 de Março (M23 ), apoiado por Ruanda – segundo a ONU e vários países ocidentais –, o mais notório.
Ruanda nega apoiar o M23. A crise no leste congolês se agravou no final de janeiro, quando o M23 assumiu o controle de Goma, capital da província de Kivu do Norte, e semanas depois de Bukavu, capital da vizinha Kivu do Sul. A crise humanitária que já era severa piorou ainda mais.
Em junho, a República Democrática do Congo e Ruanda ratificaram seu acordo de paz em Washington, durante uma cerimônia no Departamento de Estado, com a presença do secretário de Estado, Marco Rubio, e dos ministros do Exterior de ambos os países.
No entanto, a violência continuou na região, e em novembro representantes congoleses e do M23 assinaram em Doha um acordo-quadro, mediado pelo Catar, com o objetivo de alcançar uma paz definitiva.
Vantagens para os EUA
O acordo assinado nesta quinta também possui um componente econômico que concede aos EUA acesso preferencial a minerais estratégicos da região. Washington está ansioso para garantir esses minerais enquanto busca conter a dominância global da China. “Vamos extrair algumas das terras raras”, disse Trump. “E todo mundo vai ganhar muito dinheiro.”
Os EUA buscam alternativas à China para terras raras usadas em diversos equipamentos de alta tecnologia. O país asiático responde por quase 70% da mineração mundial de terras raras e controla aproximadamente 90% do processamento global desses minerais.
Para o cofundador e diretor executivo da organização Friends of the Congo em Washington, Maurice Carney, o principal motivo do acordo foram os interesses comerciais das partes. “Os interesses econômicos das elites locais em Kigali e Kinshasa e das elites globais em Washington e nos EUA convergem, e são esses interesses que estão sendo atendidos, não os do povo congolês”, afirmou.
cn (DW, EFE)
