04/07/2025 - 9:43
Agências de inteligência da Alemanha e Holanda afirmam ter evidências do emprego sistemático por tropas russas de agente usado na Primeira Guerra Mundial. Cloropicrina seria jogada em trincheiras para expulsar soldados.A Rússia estaria usando cada vez mais armas químicas nos ataques à Ucrânia, afirmaram nesta sexta-feira (04/07) o Serviço Federal de Inteligência da Alemanha (BND) e os Serviços de Informações e Segurança Militar (MIDV) e de Informações e Segurança Geral (AIVD) da Holanda. A substância empregada é a cloropicrina, que pode ser letal em altas concentrações em espaços fechados.
Segundo os serviços secretos, há evidências de quer os militares russos estão lançando com drones um asfixiante para expulsar os soldados ucranianos de suas trincheiras. “A conclusão mais importante é que podemos confirmar que a Rússia está intensificando o uso de armas químicas”, afirmou o ministro da Defesa holandês, Ruben Brekelmans.
A cloropicrina foi usada pela primeira vez na Primeira Guerra Mundial, e ficou conhecida como Cruz Verde, porque os projéteis carregados com este tipo de agente eram marcados com uma cruz verde. É uma substância asfixiante, que pode causar dificuldade de respirar ou falta de ar, irritação grave na pele, nos olhos e no trato respiratório. Se ingerida, pode causar queimaduras na boca e no estômago, náuseas e vômito.
O BND destacou que a situação representa uma grave violação da Convenção sobre Armas Químicas, um tratado que entrou em vigor em 1997 e que proíbe o uso agentes pulmonares em todas as circunstâncias. Além da cloropicrina, foi identificado também o emprego de gás lacrimogêneo no conflito, também proibido.
Os serviços secretos afirmaram ainda que o uso de gás lacrimogêneo e cloropicrina por tropas russas se tornou uma prática padrão. As agências disseram também que a Rússia está investindo pesadamente em seu programa de armas químicas, com a contratação de novos cientistas e a expansão de projetos de pesquisa.
Primeiros relatos de maio de 2024
Em maio do ano passado, os Estados Unidos e o Reino Unido acusaram pela primeira vez a Rússia de usar cloropicrina nos ataques. Moscou, porém, alegou que foi descoberto com o uso de explosivos um esconderijo ucraniano no leste do país da substância. A Ucrânia negou as alegações.
Em 2004, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq) declarou as acusações feitas pelos dois países como “insuficientemente fundamentadas”. O ministro do Exterior holandês, Caspar Veldkamp, afirmou que a Holanda vai abordar a questão na reunião da próxima semana da Opaq e disse que as conclusões dos serviços secretos serão compartilhadas nesse encontro. “É importante mostrar à comunidade internacional como a Rússia atua”, afirmou.
De acordo com Brekelmans, pelo menos três mortes na Ucrânia estão ligadas ao uso de armas químicas, enquanto mais de 2.500 soldados feridos no front relataram sintomas compatíveis com o uso desse tipo de armamento.
O Ministério da Defesa da Ucrânia afirma que a Rússia já utilizou agentes químicos contra tropas ucranianas mais de 9 mil vezes.
A estação pública neerlandesa NOS noticiou que, de acordo com o Ministério da Defesa ucraniano, a substância foi utilizada em 9.000 ataques contra soldados ucranianos, nos quais o gás causou pelo menos três mortes.
cn (dpa, Reuters, AFP, Lusa)