Konstantin Gabov e Sergey Karelin estão entre os quatro repórteres condenados a pena de quase 6 anos por cobrir as atividades de fundação do líder oposicionista Alexei Navalny, que morreu em 2024 na cadeia.Um tribunal em Moscou, na Rússia, condenou nesta terça-feira (15/04) por “extremismo” os jornalistas Sergey Karelin, Konstantin Gabov, Antonina Favorskaya e Artyom Kriger a cinco anos e meio de prisão. Os quatro eram acusados de ter produzido fotos e vídeos para o canal no YouTube do líder oposicionista Alexei Navalny, que morreu em fevereiro de 2024 dentro de uma colônia penal.

O canal do YouTube em questão, “Navalny Live”, continua sendo operado por funcionários da FBK, fundação anticorrupção criada pelo oposicionista que é oficialmente considerada “extremista” pelo Kremlin. Funcionários e apoiadores da entidade estão sendo processados criminalmente na Rússia.

Os jornalistas negaram as acusações, afirmando que não trabalhavam para a FBK, mas apenas cobriam jornalisticamente as atividades da fundação.

A sentença deles difere pouco do pedido pela Procuradoria, que queria 5 anos e 11 meses de prisão.

O julgamento foi conduzido a portas fechadas, como parte de uma repressão de dissidentes que atingiu um patamar inédito desde a invasão russa da Ucrânia, em fevereiro de 2022.

“Jornalistas tratados como criminosos perigosos”

Os cinegrafistas Gabov e Karelin são ex-funcionários da DW. Já Favorskaya e Kriger trabalhavam, antes de serem presos, para a agência independente de notícias Sota Vision, tendo coberto processos judiciais movidos contra presos políticos.

“Com a sentença, a Rússia demonstra com toda a severidade que é um país que desrespeita o Estado de Direito. O regime tenta com todas as forças distorcer os fatos, e leva jornalistas corajosos ao tribunal como se fossem criminosos perigosos”, comentou o diretor-geral da DW, Peter Limbourg.

“Cada dia que Antonina Favorskaya, Konstantin Gabov, Sergey Karelin e Artyom Kriger passam na prisão é demais. Nossa total solidariedade está com eles e com suas famílias”, afirmou Limbourg.

Jornalista foi presa ao visitar cemitério onde Navalny está enterrado

Favorskaya havia acompanhado os processos contra Navalny e visitado a colônia penal “lobo polar” em Kharp, na Sibéria. Foi ali que o oposicionista veio a óbito, em circunstâncias ainda não esclarecidas.

Após o enterro de Navalny, Favorskaya documentou como pessoas deixaram flores no cemitério. Foi numa dessas visitas ao cemitério, em 17 de março, que ela foi presa.

Gabov e Karelin foram presos um mês depois disso, e Kriger, em junho. Todos os quatro aguardavam na prisão pelo julgamento.

Em outubro, Gabov e Karelin haviam relatado à DW as difíceis condições a que estiveram sujeitos durante a prisão preventiva, em celas imundas e superlotadas. A advogada de Karelin, Katerina Tertuchina, chamou as más condições de prisão de “tortura”.

Rússia está na lanterna da liberdade de imprensa

Segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, praticamente não existe liberdade de imprensa na Rússia, que ocupa o 162º lugar dentre 180 países no ranking mundial da entidade.

A ONG contabiliza ao menos 37 jornalistas assassinados por terem exercido seu trabalho durante o governo do presidente Vladimir Putin.

No dia 4 de fevereiro de 2022, poucas semanas antes de invadir a Ucrânia, o Kremlin baniu a DW do país, forçando o fechamento da redação em Moscou e bloqueando totalmente o acesso de seus sites na Rússia. O serviço russo da DW continua a operar a partir de Riga, na Letônia.

ra/bl (DW, AFP, Reuters)