04/07/2025 - 5:39
Talibã retornou ao poder no Afeganistão em 2021 e impôs no país um regime fundamentalista islâmico, que baniu mulheres da vida pública.A Rússia tornou-se nesta quinta-feira (03/07) o primeiro país a reconhecer o governo dos talibãs como legítimo no Afeganistão, três meses após retirar os fundamentalistas islâmicos de sua lista de organizações terroristas. Desde que retornou ao poder em 2021, o regime afegão busca reconhecimento e investimentos internacionais.
A decisão foi tomada pelo presidente russo, Vladimir Putin, a partir de uma proposta do ministro do Exterior, Sergei Lavrov. A informação foi confirmada por Dmitri Zhirnov, embaixador russo em Cabul. Ele afirmou que o reconhecimento do Emirado Islâmico do Afeganistão – nome escolhido pelos talibãs – “demonstra o desejo da Rússia de estabelecer uma cooperação plena com o Afeganistão”.
O embaixador destacou a tradicional amizade da Rússia com o povo afegão, país centro-asiático invadido pela União Soviética entre 1979 e 1989, numa guerra que resultou na morte de cerca de 15 mil soldados soviéticos.
Nesta quinta-feira, diplomatas talibãs içaram sua bandeira – branca com o credo islâmico escrito no centro – na sacada de sua embaixada na capital russa pela primeira vez desde sua chegada ao poder, em 2021, segundo a agência de notícias russa TASS. O Talibã retornou ao poder no Afeganistão após derrubar o governo apoiado por estrangeiros, e impôs uma versão austera da lei islâmica.
Desde então, o Talibã vem reprimindo fortemente as mulheres. O regime fundamentalista baniu meninas e mulheres do acesso à educação e da vida pública. Essa postura tem evitado que nações ocidentais reconheçam o governo talibã. Além disso, altos membros do Talibã permanecem sob sanções internacionais, inclusive da ONU.
“Marco histórico”
O regime talibã classificou a decisão russa como “corajosa e histórica”. “Esta decisão realista da Rússia será lembrada como um marco importante na história das relações bilaterais e estabelecerá um precedente positivo para outros países”, afirmou o ministro do Exterior talibã, Mawlawi Amir Khan Muttaqi, em comunicado.
Muttaqi considerou que, com este primeiro passo, “teve início o processo de reconhecimento formal” do governo talibã e expressou a expectativa de que “este processo continue”.
O novo embaixador afegão, Mawlawi Gul Hassan, chegou a Moscou na terça-feira e apresentou suas credenciais ao Ministério do Exterior nesta quinta-feira. Atualmente, os talibãs administram missões diplomáticas em pelo menos 14 países, incluindo Turquia, China e Paquistão, mas a Rússia é o primeiro país a reconhecê-los formalmente.
Putin promulgou em dezembro de 2024 uma lei que permitia a remoção dos talibãs e de outros grupos da lista de organizações terroristas, desde que renunciassem a apoiar, justificar e fazer propaganda do terrorismo. Os talibãs foram incluídos na lista em 2003 sob o argumento de que utilizavam métodos terroristas e mantinham vínculos com formações armadas ilegais na região russa da Chechênia.
Aproximação anterior a 2021
A Rússia começou a estabelecer pontes com os talibãs anos antes de eles recuperarem o poder em Cabul em 2021, após a retirada militar dos EUA. Inclusive, os recebeu em Moscou em diversas ocasiões. A mudança de postura ocorreu quando os talibãs declararam guerra ao Estado Islâmico. Posteriormente, alguns de seus representantes foram convidados em 2018 para visitar a capital russa.
A Rússia foi o primeiro país a abrir um escritório de representação comercial em Cabul após a tomada do poder pelo Talibã e anunciou planos de usar o Afeganistão como um centro de trânsito de gás com destino ao Sudeste Asiático. Outros Estados, incluindo China e Paquistão, aceitaram embaixadores do país em suas capitais, mas não reconheceram o regime oficialmente.
Apenas a Arábia Saudita, Paquistão e Emirados Árabes Unidos reconheceram o Talibã durante o seu primeiro mandato no poder, de 1996 a 2001.
cn (EFE, AFP, Lusa)