07/05/2025 - 6:47
Com o intuito de investigar as condições de vida em Marte, uma missão de cientistas espanholas descobriu uma forma inusitada de se obter alimentos no espaço. Simulando as condições de vida no planeta vermelho, a missão Hypatia 2 constatou o potencial promissor do sangue menstrualcomo fertilizante para conseguir alimento de brotos verdes.
A Hypatia 2 foi a primeira missão simulada na qual as astronautas utilizaram coletores menstruais, numa iniciativa que busca normalizar a ideia de que as mulheres podem viajar ao espaço sem interromper o ciclo menstrual e que, longe de ser um fardo devido à geração de lixo, não produz resíduos e pode ainda gerar benefícios na produção de alimentos.
A tripulação ficou isolada por duas semanas no mês de fevereiro, com restrições de água e comida, na Estação de Pesquisa do Deserto Marciano (MDRS), localizada nos Estados Unidos. Durante esse tempo, as astronautas realizaram vários experimentos e os resultados das pesquisas foram publicados nesta segunda-feira (07/05).
Fertilizante natural para plantas
De acordo com a geóloga Marina Martínez, que participou do estudo, durante a missão, foi utilizado o sangue de duas tripulantes que estavam menstruadas naquele período como fertilizante natural para plantas. O projeto contou com a colaboração de pesquisadores do Hospital Sant Pau, em Barcelona, na Espanha.
“É surreal, mas até agora nenhum estudo científico se preocupou em provar que o sangue menstrual é de fato um fertilizante natural eficaz”, diz Martínez.
De acordo com os resultados preliminares de experimentos conduzidos no canteiro de leguminosas previamente germinadas na estação, o canteiro fertilizado com uma solução de sangue menstrual misturada com água produziu um número maior de raízes e brotou mais rápido do que o não fertilizado.
Martínez enfatiza ainda o quão “valioso” é ter brotos verdes como alimento em missões espaciais, onde os astronautassó se alimentam com comida desidratada.
Os efeitos no corpo feminino
Jennifer García Carrizo, que também integrou a tripulação, afirmou que a visão masculinizada da ciência historicamente levou as astronautas a suspenderam suas menstruações com métodos hormonais para evitar o desperdício de absorventes internos e externos não recicláveis.
A falta de compreensão do corpo feminino é observada até mesmo entre a elite da comunidade científica. Para uma missão de uma semana da qual participou a astronauta Sally Ride, por exemplo, a Nasa (agência espacial americana) enviou para o espaço 100 absorventes internos, um número estratosférico para um período tão curto.
Outra área de pesquisa da missão – que também investigou o uso de energia fotovoltaica, entre outras coisas – foi analisar se há preconceito de gênero no impacto sobre o corpo das mulheres nessas condições de simulação de Marte.
Para isso, as integrantes da tripulação realizaram testes antropométricos antes e depois da estadia em Utah para avaliar os efeitos da missão analógica, que incluía mobilidade e restrições alimentares – especialmente de proteínas – na composição corporal. Uma das conclusões preliminares é que elas mantiveram o peso e a força, mas perderam massa muscular.
Esta e outras investigações, disseram as cientistas, continuarão a ser desenvolvidas em uma terceira missão Hypatia planejada para 2027.
(DW)