A empresa Science Corporation, fundada por Max Hodak, ex-presidente da Neuralink, que adquiriu a tecnologia promissora da Pixium Vision em abril deste ano, acaba de lançar um implante ocular que promete restaurar visão de cegos.  Nomeado ‘Prima’, o objeto consiste em um chip de 2 milímetros cirurgicamente posicionado sob a retina.

A motivação da compra foi um vídeo postado de um paciente com deficiência visual lendo pela primeira vez com o implante ocular.

O procedimento para implantação dura aproximadamente 80 minutos, e contém um par de óculos com uma câmera que captura as informações visuais e emite padrões de luz infravermelha no chip. O sistema age como um painel solar, convertendo a luz em um padrão de estimulação elétrica, além de enviar esses pulsos elétricos para o cérebro – os sinais são interpretados como imagens, imitando quase fielmente o processo de visão natural.

Outros procedimentos já tinham sido desenvolvidos, mas nenhum deles chegou perto de realmente imitar a visão natural. Um dos primeiros, apelidado de Argus II, envolveu em seu processo eletrodos maiores que eram colocados no topo da retina – ele foi foi aprovado para uso comercial na Europa em 2011 e nos EUA em 2013. Porém, em 2020 o fabricante, Second Sight, parou de produzir o dispositivo devido a dificuldades financeiras.

Ao contrário de outras tecnologias anteriores, essa busca estimular o córtex visual do cérebro e não alterar a visão dos pacientes – ela consegue a chamada “visão de forma”, ou a percepção das formas, padrões e outros elementos visuais. Em um primeiro momento a realidade enxergada não possui as cores padrões, e sim uma imagem com tonalidade amarelada.

O estudo inicial envolveu 38 participantes com 60 anos ou mais no Reino Unido e na Europa – seis pessoas acabaram abandonando a experiência em menos de um ano. Os testes incluíram pessoas com atrofia genética – uma condição avançada de degeneração macular relacionada à idade que causa perda gradual da visão central. Como ficam localizados na parte de trás da retina, os fotorreceptores convertem a luz em sinais que são enviados ao cérebro e processados.

Os voluntários começaram com uma acuidade visual – a nitidez com que uma pessoa consegue enxergar – média de 20/450, mas a taxa normal é de 20/20. Ao fim do experimento, aqueles que permaneceram conseguiram ler quase cinco linhas a mais no gráfico de visão, ou 23 letras, em média, em comparação ao que conseguiam no início – essa mudança foi suficiente para melhorar sua visão para cerca de 20/160.

Mesmo que os resultados tenham sido promissores, cinco dos voluntários não notaram diferença em sua visão, reforçando que a tecnologia depende de cada organismo. Outro ponto de atenção envolve o questionamento de James Weiland, engenheiro biomédico e oftalmologista da Universidade de Michigan.“É um passo à frente para próteses de retina, com certeza. Mas há alguns detalhes que não sabemos que podem nos dizer o quão grande é esse passo. Um desses detalhes é se os pacientes estavam usando uma imagem ampliada quando reconheceram essas letras”, afirmou. O fator teria importância por ser uma ação manual e não natural, aumentando a distância no processo de recriação da visão.

A Science Corporation informou que os pacientes têm a opção de utilizar a função, mas não mencionou a frequência com que ela foi usada.

Apesar de não ser uma solução totalmente aplicada, seu estudo já representa um salto no auxílio a cidadãos que possuem a deficiência. É importante notar que há uma necessidade de busca por alternativas como essa, já que a atrofia genética é o principal empecilho na vida cotidiana de pessoas mais velhas – estima-se que mais de 195 milhões de pessoas sejam atingidas ao redor do mundo.