A catedral de Odense, na Dinamarca, guardou por nove séculos as relíquias do rei dinamarquês São Canuto, o Santo, e de seu irmão Benedikt. Ambos foram assassinados em 1086 d.C., e apenas alguns anos depois, em 1100 d.C., o rei Canuto foi santificado.

A história das relíquias tem sido de turbulência. Inicialmente, elas eram objeto de adoração dos fiéis católicos. Depois da reforma protestante, em 1536, elas chegaram a ser muradas e escondidas.

Desde o século 19, os sacrários de madeira dos irmãos estão em exibição na catedral de Odense como patrimônio nacional.

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Agora, pesquisadores examinaram alguns dos tecidos nos dois sacrários. Eles concluíram que o sacrário do rei Canuto não contém mais os preciosos tecidos de seda colocados em sua consagração. Em vez disso, é provável que os tecidos do sacrário de seu irmão tenham sido transferidos em algum momento para o sacrário do rei Canuto.

O estudo a esse respeito foi publicado na revista “Heritage Science”.

Quebra-cabeça

Os sacrários de Canuto e Benedikt sempre foram um quebra-cabeça na história dinamarquesa. Ambos contêm vários tecidos bem preservados de seda e linho. A questão é: quantos anos têm esses tecidos e qual é o seu contexto histórico?

De acordo com fontes históricas, os dois irmãos estavam cobertos de valiosos tecidos quando entesourados. Fontes descreveram como o sacrário de Canuto em 1536 era forrado com uma bela e rara seda.

Décadas mais tarde, ambos os sacrários foram murados na catedral, colocados verticalmente de modo que os ossos e tecidos ficassem em uma pilha na parte inferior de cada santuário. A partir de então, não houve relatos dos preciosos tecidos no sacrário do rei Canuto quando ele foi reexaminado em 1694 e 1833.

“É tentador sugerir que os preciosos tecidos do rei foram roubados em algum momento após 1582”, disse o professor e especialista em arqueometria Kaare Lund Rasmussen, da Universidade do Sul da Dinamarca.

Ausência de tecidos

Quando os dois sacrários foram removidos de seus esconderijos murados e preparados para ser exibidos em 1874, os pesquisadores da época ficaram intrigados com a ausência de tecidos valiosos no sacrário do rei Canuto. Seu irmão Benedikt era quem tinha os tecidos mais valiosos. Os pesquisadores de então declararam-se incapazes de julgar a qual dos sacrários pertenciam os tecidos encontrados.

Eles decidiram mover os melhores tecidos do sacrário de Benedikt para o do rei Canuto. Assim, este último poderia contar com os mais belos e preciosos tecidos quando exposto sob uma tampa de vidro.

Rasmussen e seus colegas realizaram análises químicas dos tecidos em ambos os sacrários e concluíram que eles têm a mesma idade e que sua idade coincide com a de 1086, quando os dois irmãos foram consagrados.

“Juntamente com fontes históricas, isso nos convence de que hoje, o rei Canuto está em seu sacrário com o que são na verdade os tecidos funerários de seu irmão”, afirmou Rasmussen.

Requinte maior

Entre os tecidos destinados a Benedikt, mas posteriormente colocados com Canuto, estão uma almofada com pássaros e um tecido denominado Seda de Águia.

“Eles são requintados e bonitos, mas os tecidos do rei Canuto devem ter sido ainda mais requintados”, disse Rasmussen.

De acordo com pesquisadores de nível sênior do Museu Nacional da Dinamarca, Ulla Kjær e Poul Grinder-Hansen, as sedas luxuosas podem ter sido enviadas do sul da Itália para os sacrários na Dinamarca pela viúva do rei Canuto, Edel, possivelmente trazida para casa pelo meio-irmão de Canuto, o rei Érico I.

Na época da canonização e consagração de Canuto, a tecelagem de seda na Europa ainda não estava estabelecida fora das fronteiras do Império Bizantino e a seda era um artigo de importação precioso e muito cobiçado.