Foi com emoção, “raspando na trave”, mas o Senado dos EUA finalmente aprovou neste domingo um pacote de medidas que inclui a legislação mais abrangente e ambiciosa da história do Congresso daquele país para combater as mudanças climáticas, o Inflation Reduction Act.

O Partido Democrata conseguiu arregimentar seus 48 senadores que, complementados pelos dois independentes que apoiam o governo de Joe Biden, somaram 50 dos 100 votos da Casa; o voto de Minerva foi dado pela vice-presidente Kamala Harris, na condição de presidente do Senado. A proposta agora segue para a Câmara dos Representantes, onde deve ser aprovada com mais folga pela maioria democrata.

“X-tudo”

Batizada de “Lei de Redução da Inflação de 2022”, o pacote é um “x-tudo” de medidas, incluindo ações para reduzir a inflação e o preço dos remédios, revisão de impostos e, por fim, a injeção de cerca de US$ 370 bilhões para redução das emissões de gases de efeito estufa da economia dos EUA na próxima década.

A proposta foi costurada nas últimas semanas, com o líder democrata no Senado, Chuck Schumer, tendo que negociar ponto a ponto com dois correligionários mais refratários à questão, os senadores Joe Manchin, da Virgínia Ocidental, e Kyrsten Sinema, do Arizona.

Manchin era tido como o voto mais crítico, por conta de suas conexões com a indústria do carvão em seu estado natal. Para obter o apoio dele, a liderança democrata teve que suavizar os principais aspectos da proposta climática, como o fim de novos projetos de exploração de petróleo e gás em áreas públicas; na lei final, essa medida não foi apenas excluída, mas revertida, com uma exigência de liberação de novos blocos de exploração pela Casa Branca nos próximos anos. Na última semana, Sinema emergiu como voto a ser conquistado pelos democratas, o que exigiu um esforço de última hora para aplacar os interesses da senadora.

Empreendimento substancial

Não tão robusta quanto a proposta de US$ 4 trilhões feita por Biden no começo de seu mandato para reconstruir a infraestrutura pública e os sistemas de apoio às famílias dos EUA, a proposta aprovada ainda é um empreendimento substancial.

“Este projeto faz o maior investimento de todos os tempos no combate à crise existencial das mudanças climáticas”, afirmou Joe Biden após a aprovação do texto pelo Senado. “Ele aborda a crise climática e fortalece nossa segurança energética, criando empregos na fabricação de painéis solares, turbinas eólicas e veículos elétricos nos Estados Unidos com trabalhadores norte-americanos”.

Pedro Henrique de Cristo traz detalhes muito interessantes da negociação do Inflation Reduction Act no Fervura no ClimaAPBBCGuardianNYTReutersWall Street JournalWashington PostPoder 360IstoÉFolha e g1, entre outros, repercutiram a notícia.

Em tempo: A Austrália também avançou na última sexta-feira (5/8) com a aprovação da primeira legislação sobre clima do país em mais de uma década. Apresentada pelo novo primeiro-ministro Anthony Albanese, a medida revisa os compromissos do governo australiano sob o Acordo de Paris, consagrando em lei uma meta de redução de emissões de carbono de 43% até 2030 em relação aos níveis de 2005, além de um compromisso de descarbonização total da economia até 2050. O Guardian destacou a notícia e detalhou os principais pontos do pacote climático australiano.