Um artigo publicado no periódico Antiquity, em 23 de outubro deste ano, registrou o encontro de um esqueleto com ossos do período Neolítico e da Era Romana. Os restos foram achados dentro de um cemitério da Era Romana, na cidade de Pommerœul, Bélgica, junto a outros 76 sepultamentos. O espécime chamou atenção pela forma em que foi encontrado – em posição fetal, o que é incomum para cemitérios romanos.

A pesquisa revelou que os ossos encontrados eram 2,5 mil anos mais velhos do que a primeira data registrada, além de conter em sua composição resquícios de DNA de pelo menos cinco pessoas que viveram em milênios diferentes – a primeira análise tinha levado os arqueólogos a acreditarem que o material era da década de 1970.

Em 2019, o grupo de pesquisadores da especialista Barbara Veselka, autores do artigo, decidiu seguir sua pesquisa no cemitério e descobriu que todos os esqueletos – menos os enterrados em posição fetal – são do período romano. O achado em posição diferente data de três eras do período Neolítico (7.000 a 3.000 a.C.), e por possuir tantos resquícios de épocas diferentes recebeu atenção especial dos pesquisadores.

Técnicas arqueológicas, como a análise esquelética, datação por radiocarbono e sequenciamento genético do DNA antigo, foram as responsáveis por identificar que o material corresponde a pelo menos cinco pessoas diferentes. Barbara Veselka explicou ao site Live Science que existe uma probabilidade alta que mais de cinco seres tenham contribuído para a construção do “indivíduo”, mas apenas esses materiais genéticos foram identificados.

“Um pino de osso romano encontrado perto do crânio foi datado por radiocarbono de 69 a 210 d.C., e a análise genética do crânio determinou que era de uma mulher que viveu na época romana, por volta do terceiro ao quarto século”, completou a especialista. Foi essa primeira análise aprofundada que permitiu que os arqueólogos criassem hipóteses sobre como esse material poderia ser coletado e agrupado.

As descobertas sugerem que os romanos pudessem ter acidentalmente perturbado uma sepultura neolítica enquanto enterravam os restos cremados de seus companheiros – por essa razão eles teriam adicionado o crânio e um pino de osso à cova antiga para completá-la.

Os autores do estudo também investigam a possibilidade de os romanos terem criado o esqueleto em retalhos propositalmente – eles teriam encontrado os ossos neolíticos e o crânio da era romana espalhados no terreno e teriam organizado as peças para criar uma “pessoa completa”. Nessa última hipótese, o estudo descreve que a comunidade romana pode “ter sido inspirada pela superstição ou sentiu a necessidade de se conectar com quem havia ocupado a área antes deles” para montar o esqueleto em forma de corpo.

A descoberta também pode indicar que ambas as civilizações, a neolítica e a romana, tenham escolhido locais de sepultamento iguais pela proximidade com o rio – já que corpos d’água eram considerados, nas duas culturas, importantes em questões geográficas e espirituais.