27/05/2022 - 8:47
O primeiro genoma humano sequenciado com sucesso de um indivíduo que morreu em Pompeia, na Itália, após a erupção do Monte Vesúvio em 79 d.C., foi apresentado em um estudo publicado na revista Scientific Reports. Antes disso, apenas pequenos trechos de DNA mitocondrial de restos humanos e animais de Pompeia haviam sido sequenciados.
- Descoberto quarto de escravos em casa luxuosa de Pompeia
- Como um visitante via o interior de uma mansão em Pompeia? Confira
- Esqueleto revela detalhes da vida cultural em Pompeia
Gabriele Scorrano, do Departamento de Biologia da Universidade de Roma Tor Vergata (Itália), e uma equipe internacional que incluiu o brasileiro Thomaz Pinotti, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e da Universidade de Copenhague (Dinamarca), examinaram os restos de dois indivíduos encontrados na Casa do Artesão em Pompeia e extraíram seu DNA. A forma, a estrutura e o comprimento dos esqueletos indicavam que um conjunto de restos mortais pertencia a um homem com idade entre 35 e 40 anos no momento de sua morte, enquanto o outro conjunto de restos mortais pertencia a uma mulher com idade superior a 50 anos.
Embora os autores tenham conseguido extrair e sequenciar DNA antigo de ambos os indivíduos, eles só conseguiram sequenciar todo o genoma dos restos mortais do homem devido a lacunas nas sequências obtidas dos restos mortais da mulher.
Indícios de tuberculose
As comparações do DNA do indivíduo do sexo masculino com o DNA obtido de 1.030 outros antigos e 471 indivíduos modernos da Eurásia ocidental sugeriram que seu DNA compartilhava mais semelhanças com os italianos centrais modernos e outros indivíduos que viveram na Itália durante a era imperial romana. No entanto, análises do DNA mitocondrial e do cromossomo Y do desse homem também identificaram grupos de genes que são comumente encontrados em habitantes da ilha da Sardenha, mas não entre outros indivíduos que viveram na Itália durante a era imperial romana. Isso sugere que pode ter havido altos níveis de diversidade genética em toda a Península Itálica durante esse período.
Análises adicionais do esqueleto e do DNA do homem identificaram lesões em uma das vértebras e sequências de DNA que são comumente encontradas em Mycobacterium, o grupo de bactérias ao qual pertence a bactéria causadora de tuberculose Mycobacterium tuberculosis. Isso sugere que o indivíduo pode ter sido acometido pela tuberculose antes de sua morte.
Os autores especulam que pode ter sido possível recuperar com sucesso o DNA antigo dos restos mortais do indivíduo do sexo masculino porque os materiais piroclásticos liberados durante a erupção teriam fornecido proteção contra fatores ambientais de degradação do DNA, como o oxigênio atmosférico. Ainda segundo os pesquisadores, as descobertas demonstram a possibilidade de recuperar DNA antigo de restos humanos de Pompeia e obter mais informações sobre a história genética e a vida dessa população.