01/11/2025 - 12:38
Colapso de estrutura em estação de trem causou 16 mortes, gerou manifestações em massa e mergulhou país em uma crise. Embate entre governo do país e movimento estudantil continua, 12 meses depois.Em circunstâncias normais, o estudante de Novi Sad, Boris Kojcinovic, estaria agora pesquisando guias de programas de mestrado no exterior. Mas as circunstâncias para os estudantes na Sérvia estão longe do normal devido aos bloqueios e protestos liderados por estudantes, que já duram um ano.
Assim, ele divide seu tempo entre a leitura de textos para sua tese e a verificação de listas de voluntários para um evento que marca neste sábado (01/11) o primeiro aniversário do desabamento da cobertura de concreto na entrada da estação ferroviária de Novi Sad, que matou 16 pessoas em 1º de novembro de 2024.
Kojcinovic é um dos rostos do movimento de protesto estudantil que, como dizem seus colegas ativistas, expôs o que eles consideram uma verdade óbvia: a corrupção e a negligência sistêmica levaram ao desabamento.
O movimento estudantil convocou para este sábado uma manifestação na cidade para homenagear as vítimas da tragédia na estação. O evento acontece para marcar o aniversário de uma tragédia que também teve um profundo impacto na política e na sociedade sérvias.
Crescimento de um movimento
“Nossa vitória é que as pessoas perceberam que algo não está funcionando e que precisamos de uma sociedade justa com instituições que funcionem”, disse Kojcinovic à DW.
Usando o slogan “Vocês têm sangue nas mãos” e inundando os espaços online e offline com imagens de impressões de mãos vermelhas (o símbolo do protesto), o movimento estudantil sérvio que surgiu após a tragédia de Novi Sad cresceu consideravelmente nos últimos 12 meses, formando uma rede, com apoiadores em todo o país e na diáspora sérvia.
Para garantir que seu apelo por justiça seja ouvido pelo maior número possível de pessoas, os estudantes percorreram o país a pé, conversaram com as pessoas e organizaram inúmeras manifestações e protestos em todo o território nacional.
Grupos de estudantes chegaram a pedalar até Estrasburgo e correr até Bruxelas para levar sua mensagem à União Europeia.
Protestos estudantis persistentes
Ao longo do último ano, os estudantes aprenderam a planejar, negociar e resistir em grande escala. Mas não conseguiram forçar os detentores do poder a assumirem a responsabilidade.
As autoridades, por sua vez, adotaram uma abordagem multifacetada, buscando a simpatia de estudantes e professores oferecendo-lhes empréstimos habitacionais baratos e salários mais altos, respectivamente, enquanto utilizam campanhas difamatórias, ataques físicos e intervenções policiais truculentas para intimidar os que protestam. Nenhuma dessas táticas funcionou.
Guerra de desgaste
O cientista político Zoran Stojiljkovic descreveu a situação à DW em agosto como “um equilíbrio de impotência” – uma avaliação que Bojan Klacar, diretor executivo do Centro para Eleições Livres e Democracia (CESID), afirma ainda ser válida. “Estamos em uma crise política que não foi totalmente resolvida e para a qual não há um desfecho final à vista em curto prazo”, disse Klacar à DW.
A coalizão governista ainda não tem controle total da situação e perdeu sua antiga dominância, mas pelo menos está mais consolidada do que há seis meses, quando os protestos estavam no auge. “O governista Partido Progressista Sérvio (SNS) esteve principalmente na defensiva até o final de abril. Hoje, ele pode definir a agenda, e o faz”, disse Klacar.
Os estudantes também não estão em uma posição melhor. Klacar afirma que o movimento mudou consideravelmente o clima social, mas não as relações políticas no país.
“Eles não estão preparados para reverter o processo a seu favor, em termos de infraestrutura, programa, ideologia ou nível de energia existente neste momento. Portanto, os dois blocos estão envolvidos em um jogo de paciência, uma batalha de nervos e um certo tipo de desgaste”, disse ele.
Eleições cruciais
O que os estudantes querem são eleições. As autoridades, no entanto, raramente mencionam o assunto. O presidente da Sérvia, Aleksandar Vucic, apenas afirmou que as eleições serão realizadas no próximo ano, sem especificar a data.
Klacar considera o momento das eleições o trunfo do SNS. Escolher a data das eleições permitirá que o partido se mantenha um passo à frente de seus oponentes. “Para o SNS, é mais conveniente que as eleições sejam realizadas daqui a cerca de um ano ou um pouco mais tarde”, disse ele.
Mas, para que uma eleição tardia seja favorável ao governo, este teria que apresentar mais “boas notícias” e resolver uma série de problemas acumulados, desde as sanções americanas à petrolífera sérvia NIS, de propriedade russa, até possíveis dificuldades no fornecimento de gás. “Sem resolver essas questões e sem garantir a estabilidade desejada pelos eleitores do SNS, não tenho certeza se o partido estará totalmente preparado para as eleições”, disse Klacar.
Estudantes dizem que estarão prontos
Para os estudantes, por outro lado, duas condições são decisivas: manter a energia dos protestos elevada e criar uma atmosfera semelhante à de um referendo, onde as pessoas vejam a eleição como um plebiscito sobre Vucic e o SNS.
Os estudantes estão convictos de que estarão prontos, independentemente de quando as eleições forem convocadas, pois já estão se preparando a todo vapor. Além de organizar protestos, eles estão construindo uma infraestrutura eleitoral que inclui equipes, observadores e um programa político.
A lista de candidatos dos estudantes está quase completa, mas permanece envolta em segredo. Isso gerou críticas e elogios: enquanto alguns dizem que os eleitores devem saber quem serão os candidatos o mais rápido possível, outros argumentam que é mais sensato esperar para evitar que os candidatos sejam desacreditados pelo partido governista e pela mídia alinhada em um estágio inicial.
“A lista dos estudantes reflete o próprio movimento estudantil”, diz o estudante Boris Kojcinovic. “É diversa em termos de educação, origem e até mesmo orientação política.” “A ideia é que não pensamos se somos conservadores ou liberais, de esquerda ou de direita, se somos crentes ou não. Queremos algo em comum, e esse objetivo comum é uma sociedade melhor, bem administrada e justa, com instituições que funcionem.”
