04/11/2025 - 16:53
Chanceler federal sinaliza início de ações de repatriações e deportações de refugiados do país do Oriente Médio e contradiz ministro do seu governo, que expressou dúvidas sobre retornos.Com o fim da guerra civil em seu país, os sírios já não têm motivos para pedir asilo na Alemanha, afirmou o chanceler federal da Alemanha, Friedrich Merz, na segunda-feira (03/11). Segundo o chefe da coalizão governista, cujo partido conservador tenta ganhar vantagem na disputa por popularidade contra a ascendente ultradireita, as repatriações de refugiados também já podem começar.
“Agora não há mais motivos para asilo na Alemanha e, portanto, também podemos começar com as repatriações”, disse Merz.
“Sem estas pessoas, a reconstrução [da Síria] não será possível. Aqueles que estiverem na Alemanha e se recusarem a retornar ao país também poderão, naturalmente, ser deportados num futuro próximo,” disse Merz, líder da legenda União Democrata Cristã (CDU).
Pouco menos de 1 milhão de sírios vivem hoje na Alemanha e representam, portanto, pouco mais de 1% da população. O país foi o que mais recebeu refugiados escapando da guerra civil na Síria, sobretudo durante o governo de Angela Merkel.
Contradição no governo
Em dezembro do ano passado, a queda do regime do ditador Bashar al-Assad concretizou o fim do conflito sírio. Desde então, um governo de transição tomou posse e, em outubro, ocorreram as primeiras eleições.
Mas as Nações Unidas alertaram que as condições atuais na Síria não permitem repatriações em grande escala, com cerca de 70% da população ainda dependente de ajuda humanitária — opinião compartilhada pelo próprio ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Johann Wadephul, durante sua viagem ao país na semana passada.
Após uma visita a Damasco, Wadephul expressou dúvidas de que muitos sírios optariam por retornar, dada a devastação e a instabilidade contínua no país, que, segundo ele, tornavam difícil imaginar uma existência digna.
Criticado por correligionários da CDU, Wadephul acabou retrocedendo e, nesta terça-feira, afirmou não ter diferenças com Merz sobre o tema. A contradição, entretanto, foi interpretada pela oposição como falta de coesão dentro do governo.
“Para que serve um ministro das Relações Exteriores, se, quando ele vai à Síria e tem uma impressão da situação, a avaliação do seu próprio ministro das Relações Exteriores não é tida como confiável?,” criticou Katharina Dröge, líder do grupo parlamentar do Partido Verde no Bundestag
Merz foi amplamente acusado de racismo, inclusive dentro do próprio partido, no mês passado ao vincular imigrantes a um “problema na paisagem urbana”.
Pressão da AfD
Retornos forçados precisariam ultrapassar obstáculos legais. Mesmo assim, têm sido defendidos pelo partido populista de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que têm obtido resultados favoráveis nas pesquisas de opinião eleições estaduais previstas para o ano que vem.
A campanha da legenda se baseia, em grande medida, numa plataforma contra a imigração, afirmando que o Islã é incompatível com a sociedade alemã.
A migração tem liderado consistentemente as pesquisas sobre as principais preocupações dos alemães nos últimos anos. Para alguns estrategistas conservadores tradicionais, apenas uma política de asilo linha-dura pode fazer frente à ascensão da AfD nas urnas. Outros defendem desafiar o partido de forma mais robusta.
A Alemanha vem analisando há vários meses a possibilidade de deportar sírios com antecedentes criminais. Merz disse ainda ter convidado o presidente sírio, Ahmed al-Sharaa, a ir discutir a questão durante uma visita ao país europeu.
Força de trabalho
Apenas cerca de mil pessoas retornaram à Síria com ajuda federal alemã no primeiro semestre deste ano. Centenas de milhares de sírios na Alemanha possuem apenas autorizações de residência temporárias, e 920 tinham ordens de deportação em agosto deste ano.
Diante da escassez de mão de obra na Alemanha, cidadãos sírios se tornaram uma importante força de trabalho. Segundo o governo, há mais de 6 mil médicos de nacionalidade síria no país europeu.
“A Alemanha tem interesse em retê-los porque nosso próprio sistema de saúde precisa deles”, disse a ministra para Cooperação Econômica e Desenvolvimento, Svenja Schulze, neste ano.
Pelo menos um parlamentar da União Social Cristã (CSU), partido irmão da CDU na Bavária, propôs que as deportações de sírios com antecedentes criminais fossem sucedidas pelo retorno forçado dos desempregados.
ht (Reuters, dpa, ots)
