Depois de deixar vencer ultimato que abria janela para sair do país em segurança, líder venezuelano parece apostar na lealdade de aliados chavistas ao mesmo tempo em que tenta novo contato com Trump.Sob intensa pressão do governo dos Estados Unidos, o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, deixou vencer um ultimato dado pelo presidente Donald Trump para deixar o país até a sexta-feira passada (28/11).

Ambos conversaram brevemente por telefone no dia 21 de novembro, uma sexta-feira. Trump disse a Maduro que ele tinha uma semana para deixar a Venezuela em segurança rumo ao destino de sua escolha, acompanhado de seus familiares, segundo relataram à agência de notícias Reuters pessoas informadas sobre a ligação.

Esse período de salvo-conduto expirou na sexta-feira passada, o que levou Trump a declarar, no sábado, o fechamento do espaço aéreo venezuelano.

Segundo informou inicialmente o jornal Miami Herald, Trump teria oferecido ao líder da Venezuela a chance de se salvar e salvar a sua família desde que deixasse o poder e o país imediatamente.

Durante a ligação, o líder venezuelano fez uma série de pedidos, todos recusados por Trump. Maduro disse a Trump que estava disposto a deixar a Venezuela, desde que ele e seus familiares recebessem anistia legal completa, incluindo a remoção de todas as sanções dos EUA e o fim de um caso que ele enfrenta perante o Tribunal Penal Internacional, disseram três das quatro pessoas ouvidas pela Reuters.

Maduro também solicitou a suspensão das sanções contra mais de cem funcionários do governo venezuelano, muitos dos quais acusados pelos EUA de violações dos direitos humanos, tráfico de drogas ou corrupção. Maduro teria ainda pedido a Trump que a vice-presidente Delcy Rodríguez liderasse um governo interino até a realização de novas eleições na Venezuela.

Desde meados de agosto, os Estados Unidos mantêm uma forte presença naval e aérea no mar do Caribe, em águas próximas à Venezuela, incluindo o maior porta-aviões do mundo, o USS Gerald R. Ford, com o argumento de combater o tráfico de drogas e o narcoterrorismo, de que Maduro é acusado. Maduro e seu governo sempre negaram todas as acusações criminais e dizem que os EUA buscam uma mudança de regime para assumir o controle dos vastos recursos naturais da Venezuela, sobretudo o petróleo.

Ofensiva terrestre “improvável”

Nesta segunda-feira, a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, não descartou a possibilidade de envio de tropas americanas para a Venezuela. “Há opções disponíveis para o presidente”, disse, pouco antes de uma reunião de Trump com o Conselho de Segurança Nacional, na qual seria discutida também a situação na Venezuela.

Mas o pesquisador venezuelano Jesus Renzullo, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga) em Hamburgo, disse considerar improvável que haja uma ofensiva terrestre dos EUA.

“A presença de tropas na costa caribenha é ridiculamente pequena para efetuar uma invasão eficaz do território venezuelano”, afirmou Renzullo ao site de notícias alemão Tagesschau. “As forças americanas que analisam o Caribe estimam que seriam necessários 100 mil soldados para uma invasão efetiva da Venezuela.” No momento, 15 mil estão estacionados perto da costa da Venezuela.

O professor David Smilde, da Universidade de Tulane e que estuda a Venezuela há mais de três décadas, diz que só quem não entende o chavismo pensa que uma demonstração de força vá causar uma mudança de governo. “Esse é exatamente o tipo de coisa que os une”, afirmou Smilde sobre o envio de forças militares dos EUA, em declarações à AP.

A Venezuela vem se preparando para um possível conflito desde setembro, quando os EUA atacaram as primeiras embarcações acusadas de transportar drogas no Caribe. Desde então, os militares americanos atacaram cerca de 20 embarcações que acusaram de transportar drogas, matando mais de 80 pessoas.

No domingo, questionado se um ataque contra a Venezuela era iminente depois de ter dito, dias atrás, que operações por terra para deter supostos traficantes de drogas venezuelanos começariam “muito em breve” e de ter declarado fechado o espaço aéreo do país sul-americano, Trump respondeu: “Não tirem nenhuma conclusão precipitada disso”.

Chavismo demonstra coesão

A intensa pressão por parte de Trump é também um teste de lealdade para o regime de Maduro. Analistas dizem que, até agora, não há sinais de dissidência. Segundo a diretora da fundação alemã Friedrich Ebert na Venezuela, Anja Dargatz, os assessores mais confiáveis continuam a apoiar Maduro, e não há “um milímetro” de divergência entre eles, declarou ao telejornal Tagesschau.

Maduro e seus apoiadores deram uma demonstração de força nesta segunda-feira em Caracas, onde o presidente venezuelano liderou uma marcha que reuniu milhares de apoiadores que carregavam bandeiras venezuelanas e vestiam as camisetas vermelhas do partido governista. “Vivemos 22 semanas de agressão que podem ser descritas como terrorismo psicológico. Essas 22 semanas nos testaram, e o povo da Venezuela testou seu amor pela pátria”, disse Maduro, em frente ao Palácio Presidencial de Miraflores.

O pesquisador Ronal Rodríguez, da Universidade del Rosario, na Colômbia, disse que o chavismo, movimento que Maduro herdou do falecido presidente Hugo Chávez, tem uma capacidade “notável” de coesão diante da pressão externa. “Quando a pressão vem do exterior, eles conseguem se unir, se defender e se proteger.”

A base dessa lealdade é a rede de corrupção abençoada por Chávez e Maduro, que dá aos leais a permissão para enriquecer. Rodríguez explica que essa política frustrou tentativas anteriores de depor Maduro e o ajudou a contornar sanções econômicas e reivindicar uma vitória numa eleição perdida.

Rodríguez diz que prisão e tortura podem fazer parte da punição, que geralmente é mais severa para acusados de crimes militares. A estratégia tem sido crucial para Maduro, cada vez mais autoritário, manter o controle sobre os militares, aos quais ele permite traficar drogas, petróleo, animais selvagens e uma infinidade de mercadorias em troca de quartéis leais.

“Essa tem sido uma ferramenta muito eficaz porque o chavismo sempre foi capaz de eliminar aqueles atores que, em algum momento, tentam se insurgir”, disse Rodríguez à agência de notícias AP.

Maduro pediu nova ligação telefônica

O secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, afirmou que a designação do Cartel de los Soles, um grupo que o governo Trump afirma ser liderado por Maduro, como uma organização terrorista estrangeira oferece a Trump opções adicionais para lidar com Maduro. Hegseth não forneceu detalhes sobre quais elas seriam, mas a Reuters informou que as opções em consideração pelos EUA incluem uma tentativa de derrubar Maduro.

Segundo pessoas ligadas ao governo dos EUA, Maduro teria solicitado uma nova ligação telefônica com Trump, mas não está claro se o líder venezuelano ainda teria um salvo-conduto para deixar o poder e a Venezuela.