O massacre de Srebrenica, ocorrido há exatas três décadas, permanece como a pior atrocidade na Europa desde a Segunda Guerra Mundial e o único genocídio em solo europeu após o Holocausto. Nedzad Avdic, que na época tinha apenas 17 anos, é um dos poucos a ter sobrevivido ao terror que tirou a vida de mais de 8 mil homens e meninos bósnios muçulmanos.

“Eu só andava assim, com a cabeça baixa, sem querer ver nada. Só pensava que morreria rapidamente e que não sofreria”, relata Avdic, revivendo os momentos angustiantes de 1995.

O contexto de uma guerra brutal na Bósnia

O massacre de Srebrenica foi um capítulo sombrio da Guerra na Bósnia, que eclodiu após o colapso da Iugoslávia e a declaração de independência da Bósnia e Herzegovina em 1992. O conflito envolveu os três principais grupos étnicos da região — sérvios ortodoxos, bósnios muçulmanos e croatas católicos — e transformou cidades em zonas de combate.

Srebrenica, uma cidade de maioria bósnio-muçulmana, havia sido declarada uma “zona de segurança” pela Organização das Nações Unidas (ONU), atraindo dezenas de milhares de refugiados em busca de proteção. No entanto, a promessa de segurança foi quebrada quando forças sérvias invadiram a área em julho de 1995, perpetrando um massacre em grande escala.

A sobrevivência e a luta por justiça

Ferido no peito, braço e pé, Nedzad Avdic conseguiu escapar milagrosamente. “Andamos por dias, com dor. Implorei ao meu amigo que me deixasse para trás, que tentasse se salvar – pelo menos a si mesmo – porque achei que não havia chance para nós dois sobrevivermos. Mas ele insistiu, me ajudou e, no final, conseguimos de alguma forma chegar ao território livre”, conta Avdic, lembrando a coragem e a solidariedade que o mantiveram vivo.

O Tribunal Penal Internacional para a ex-Iugoslávia reconheceu oficialmente o massacre como um genocídio, apesar da contínua negação por parte da Sérvia e dos sérvios da Bósnia. Três décadas depois, a busca por justiça e a identificação dos restos mortais das vítimas continuam, com cerca de mil pessoas ainda desaparecidas.

“A negação – apesar dos veredictos, apesar de tudo – está se tornando cada vez mais proeminente, mais agressiva. E glorificar crimes, criminosos de guerra, é simplesmente algo que nos machuca e nos afeta”, desabafa Avdic, sublinhando a dor persistente causada pela falta de reconhecimento total dos horrores vividos.

A história de Nedzad Avdic é um lembrete pungente da necessidade de lembrar e aprender com os eventos mais sombrios da história, para que tragédias como o genocídio de Srebrenica jamais se repitam.