Conferência das Partes das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 21), que será realizada entre 30 de novembro e 11 de dezembro em Paris, virá carregada de grandes desafios, mas com uma boa dose de otimismo. Desde que Estados Unidos e China mostraram maior firmeza no combate ao aquecimento global, a expectativa de um acordo mundial efetivo de redução de emissões de gases estufa aumentou. As duas maiores economias do mundo são também os principais poluidores da atmosfera: juntos, EUA e China respondem por praticamente 40% das emissões globais. Sem uma guinada política desses atores, qualquer transformação real seria inviável.

Para Márcio Santilli, sócio fundador do Instituto Socioambiental (ISA), a mudança de postura de EUA e China sinaliza uma mudança de paradigma importante, mas ainda estamos muito atrasados na criação de políticas públicas e de mecanismos que reduzam efetivamente as emissões a ponto de a temperatura global não subir 2oC, limite fixado pelo Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC, na sigla em inglês). ltrapassar essa barreira traria danos irreversíveis ao planeta, como o derretimento de geleiras, o aumento do nível dos oceanos e catástrofes climáticas.

“Embora as propostas na mesa não indiquem um compromisso suficientemente ambicioso, o protagonismo desses países, que em outros momentos jogavam para trás o avanço das negociações, indica agora um horizonte de estabilização e redução de emissões. Apesar de não apontar para um acordo que garanta a não ultrapassagem dos 2ºC, é uma novidade importante no processo”, diz Santilli.

Mais importante do que um acordo em Paris, afirma Santilli, será o que virá depois da reunião. A consequência mais benéfica dessa nova orientação dos principais atores internacionais (e aqui podemos incluir a União Europeia e os países em desenvolvimento) seria a fundação de uma nova lógica de mercado: uma economia de baixo carbono.

Por razões estratégicas (e não exatamente ambientais), EUA e China investem pesado em tecnologias de energia limpa. Os primeiros querem depender menos do petróleo do Oriente Médio. Para os chineses, estar na vanguarda tecnológica da matriz energética do futuro, além das óbvias vantagens financeiras, resolverá um problema de saúde pública. De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, a poluição mata cerca de 4 mil chineses por dia.

A Índia e países europeus, como a Alemanha, também apostam maciçamente em tecnologias de energia limpa, como a solar e a eólica. “A importância disso no dia seguinte a Paris é a incorporação dessa lógica ao mercado internacional. Quando isso passa a dar dinheiro para quem manda no mundo, certamente vai existir outra dinâmica nesse processo”, afirma Santilli.

Desafios

Para Carlos Rittl, secretário executivo do Observatório do Clima, organização brasileira que reúne diferentes entidades civis para discutir a questão climática, o acordo vai girar em torno de três elementos: adaptação, mitigação e financiamento, pontos que precisam avançar urgentemente.

O financiamento ambiental é um dos pontos mais críticos, diz Rittl. Na conferência de Copenhague, em 2009, os países desenvolvidos se comprometeram a criar um fundo para apoiar ações de mitigação e adaptação, sobretudo em países pobres. Essa reserva deveria chegar a 2020 com um aporte anual de US$ 100 bilhões, mas está longe disso.
“Em regiões mais pobres, a necessidade de recursos é para agora. É um elemento fundamental do pacote que deve sair de Paris”, defende Rittl.

Uma das soluções apontadas por ele seria a criação de mecanismos financeiros novos. “Discutiu-se em alguns momentos da negociação uma espécie de grande IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) internacional, que seria uma taxação sobre transações financeiras de capital especulativo no mundo”, diz. Propostas como essa ainda assustam segmentos do setor privado, mas esse modelo econômico só tende a crescer. Quem não se adaptar ficará para trás.

No caso do Brasil – que, apesar de propostas mais definidas de redução de emissão, ainda é modesto em suas proposições, investe pouco em energias limpas e muito em combustíveis fósseis –, essa ideia poderia ser uma solução. “A saída para o vermelho da crise econômica poderia estar no ‘verde’, ao gerar novos empregos e fomentar a economia regional com novos negócios”, afirma Rittl.

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