01/10/2007 - 0:00
Aumenta o número de brasileiros, sobretudo jovens, que tiram a própria vida. No Brasil, nos últimos anos, as mortes por suicídio de pessoas entre 15 e 24 anos cresceram 1.900%
Temos um problema sério pela frente: no Brasil, em 20 anos, o número de mortes por suicídio cresceu 1.900% na faixa etária de 15 a 24 anos. Com tal incidência, representa a terceira principal causa de morte de pessoas em plena vida produtiva. As conseqüências atingem também a família. Pesquisas mostram que cada morte afeta – profundamente e por tempo prolongado – pelo menos cinco pessoas.
As estatísticas revelam a extensão de um problema que merece a nossa reflexão. Nos últimos 40 anos, as taxas de mortalidade mundial por suicídio subiram cerca de 60%. Nada menos do que um milhão de pessoas morrem por ano por essa causa – uma morte a cada 40 segundos, praticamente todas elas em conseqüência de depressão ou de algum transtorno mental.
Estimativas da Organização Mundial de Saúde (OMS) sinalizam que haverá mais de 1,5 milhão de vidas perdidas por esse motivo em 2020, representando 2,4% de todas as mortes. A OMS também registrou que permanece a tendência de crescimento das mortes entre os jovens, especialmente nos países em desenvolvimento.
Diante da gravidade do assunto, o tema há alguns anos passou a integrar as políticas de saúde pública em diversas partes do mundo. Com a criação de programas de prevenção, países como os Estados Unidos já estão conseguindo reduzir o número de casos. “Isso mostra que a melhor conduta é criar redes de proteção para dar o suporte necessário às pessoas em risco e suas famílias”, opina Humber to Corrêa, psiquiatra e chefe do Departamento de Saúde Mental da Universidade Federal de Minas Gerais.
Em 2006, o governo brasileiro formou um grupo de estudos para traçar as diretrizes de um plano nacional de prevenção do suicídio, que deve ficar pronto este ano. A promessa é incluir verbas no orçamento de 2008 para colocar essas idéias em prática. “O que existe hoje é apenas uma cartilha destinada a profissionais da saúde”, comenta o psiquiatra.
REDUZIR AS TAXAS de suicídio é um desafio coletivo. A sociedade precisa romper com os tabus e se engajar nessa batalha. Apesar de não serem raras as famílias em que alguém não tentou ou morreu, pouco se fala do assunto. A mídia, um poderoso instrumento de educação e conscientização, também se omite sobre essa questão “desgostosa”. “Mas a nossa resposta não pode ser o silêncio. Nossas chances de chegar às pessoas que precisam de ajuda dependem da visibilidade”, prossegue o médico.
Quem pensa em se matar deve saber que mais gente pensa sobre isso e pode ajudar. No final de junho, entre os dias 28 e 30, 80 conferencistas de 16 países se reuniram em Belo Horizonte (MG) para trocar as suas experiências sobre o assunto durante o II Congresso Latino-americano de Suicidologia. “Uma das nossas tarefas é convencer donasde- casa, pais, educadores, jornalistas, publicitários, líderes comunitários e de opinião de que o debate sobre o suicídio não é uma questão moral ou religiosa, mas um assunto de saúde pública e que pode ser prevenido. Aceitar essa idéia é o primeiro passo para poupar milhares de vidas”, conclui Humberto Corrêa, que presidiu o evento.
Dicas Úteis
Leve a sério quando alguém ou um parente diz que a vida não vale a pena e se mostra deprimido. Por baixo disso pode estar a intenção de interromper a vida
Estudos em diversas regiões do planeta mostram que quase todos os indivíduos que se suicidaram estavam padecendo de um transtorno mental.
A Inglaterra conseguiu reduzir o número de mortes por suicídio com um amplo programa de tratamento de depressão.
No Rio de Janeiro há um serviço especializado para quem perdeu pessoas próximas por suicídio, o Projeto Conviver. Outro começará a funcionar em Belo Horizonte, em Minas Gerais, este mês.