Depois de 48 horas de apagão imposto pelo grupo fundamentalista para combater “imoralidade”, fontes locais relatam retomada da conectividade. Corte provocou caos em empresas, mercados e bancos.Após 48 horas de um apagão nas telecomunicações atribuído à repressão imposta pelo grupo fundamentalista Talibã, as redes de telefonia móvel e a internet foram restauradas nesta quarta-feira (01/10) no Afeganistão.

O serviço de telefonia móvel e a internet foram cortados nesta segunda-feira sem aviso prévio, paralisando negócios e deixando os afegãos ainda mais isolados do resto do mundo.

O apagão ocorreu semanas depois de o governo começar a cortar as conexões de internet de alta velocidade em algumas províncias sob o pretexto de combater a “imoralidade”, por ordem do obscuro líder supremo do Talibã, Hibatullah Akhundzada.

No entanto, ainda há confusão em torno do estado atual da conectividade à internet no Afeganistão, depois de algumas redes serem aparentemente restauradas. A agência de notícias Associated Press noticiou anteriormente o que alegava ser uma declaração do Talibã negando relatos de que o apagão foi uma ação deliberada e afirmando que os antigos cabos de fibra ótica estão desgastados e sendo substituídos. Mais tarde, porém, descobriu-se que a declaração era falsa.

Jornalistas da agência de notícias AFP, contudo, relataram nesta quarta-feira que os sinais de celular e wi-fi haviam retornado às províncias de todo o país, incluindo Kandahar, no sul, Khost, no leste, Ghazni, no centro, e Herat, no oeste.

Na noite de quarta-feira, centenas de afegãos saíram às ruas da capital, Cabul, espalhando a notícia de que a internet havia retornado.

Apagão como forma de combate à “imoralidade”

Este foi o primeiro corte nas telecomunicações desde que o Talibã retornou ao poder em 2021e voltou a impor uma versão fundamentalista da lei islâmica no Afeganistão. As conexões de internet já vinham funcionando de maneira extremamente lenta ou intermitente nas últimas semanas.

A Netblocks, uma organização que monitora a segurança cibernética e a governança da internet, disse que o apagão aprecia ser “consistente com a desconexão intencional do serviço”, com a conectividade caindo para 1% dos níveis normais.

Nesta quarta-feira, a Netblocks postou uma atualização no X, afirmando que “dados da rede ao vivo mostram a restauração parcial da conectividade da internet no Afeganistão em meio a protestos após um apagão nacional de telecomunicações de dois dias”.

“O incidente ocorre enquanto a liderança do Talibã aplica novas regras de ‘imoralidade’ às operadoras de telecomunicações”, afirmou o grupo.

Impacto no comércio, bancos e serviços

O corte levou ao fechamento de empresas, aeroportos e mercados, enquanto os bancos e os correios não tinham condições de operar. Os afegãos não conseguiram se comunicar dentro ou fora do país, e muitas famílias impediram seus filhos de irem à escola em meio às incertezas.

A ONU afirmou nesta terça-feira que a paralisação “deixou o Afeganistão quase completamente isolado do mundo exterior” e pediu às autoridades que restabelecessem o acesso.

Em 16 de setembro, quando os primeiros serviços de internet foram cortados em algumas regiões no norte do país, um porta-voz da província de Balkh disse que a proibição havia sido ordenada pelo líder do Talibã.

“Esta medida foi tomada para prevenir o vício; opções alternativas serão implementadas em todo o país para atender às necessidades de conectividade”, escreveu o porta-voz nas redes sociais.

“Estudos recentes no Afeganistão descobriram que os aplicativos de internet afetaram gravemente os fundamentos econômicos, culturais e religiosos da sociedade”, disse.

rc (AP, AFP)