Dezenas de toneladas de material sólido extraterrestre colidem com a Terra diariamente. A maior parte desse material é pequena o suficiente para queimar na atmosfera, mas alguns fragmentos são grandes o suficiente para causar uma situação mais séria. Em 2013, um corpo de 20 metros de diâmetro explodiu sobre Chelyabinsk (Rússia), ferindo gravemente mais de 1.500 pessoas. A mais recente cratera de impacto na Terra foi formada em 2007, quando um asteroide colidiu com uma pequena vila no Peru. Um impacto de asteroide em 1947 no extremo leste da Rússia resultou na formação do mais jovem campo de crateras em nosso planeta: Sikhote-Alin. O evento extraterrestre mais impressionante, relativamente recente, aconteceu em 1908, quando um corpo explodiu sobre a Sibéria, destruindo 2.000 km2 de floresta em Tunguska.

Um novo artigo publicado na revista Geology mostra que analisar corpos de organismos mortos por um impacto de asteroides pode nos ensinar quanto dano ocorre no local de tal colisão cósmica. A equipe de pesquisa escavou trincheiras nas bordas de quatro crateras (Kaali Main e Kaali 2/8 na Estônia, Morasko na Polônia e Whitecourt no Canadá) localizadas em dois continentes diferentes que se formaram com milhares de anos de diferença. O dr. Jüri Plado e o dr. Argo Jõeleht, do Instituto de Ecologia e Ciências da Terra da Universidade de Tartu (Estônia), notaram: “(…) surpreendentemente, em todos esses lugares encontramos a mesma coisa: pedaços de carvão de milímetros a centímetros misturados com material ejetado durante sua formação e situados no mesmo local em relação à cratera”.

Modelo digital de elevação das crateras Kaali, na Estônia. Crédito: Argo Jõeleht

Muitas coincidências

A principal autora deste estudo, drª Ania Losiak, do Instituto de Ciências Geológicas da Academia Polonesa de Ciências e da Universidade de Exeter (Reino Unido), disse: “No começo, pensamos que esses carvões foram formados por incêndios florestais que ocorreram pouco antes do impacto, e os carvões ficaram presos nessa situação. Mas algo não estava certo com essa hipótese, havia muitas coincidências; por que haveria grandes incêndios florestais pouco antes da formação de quatro diferentes pequenas crateras de impacto divididas por milhares de quilômetros e anos? Por que ele seria encontrado apenas em um local muito específico dentro da manta de material ejetado proximal (perto do centro)? Não fazia sentido, então decidimos investigar mais e analisar as propriedades dos pedaços de carvão encontrados misturados no material ejetado das crateras e compará-lo com os carvões de incêndios florestais”.

Como corpos estudados em uma investigação criminal, as propriedades dos restos orgânicos transformados em carvão refletem as condições em que foram mortos. Com base em suas propriedades, podemos reconhecer claramente os carvões formados como resultado de um incêndio florestal e aqueles encontrados dentro de ejectas (partículas ejetadas que viajam pelo ar ou sob a água e se depositam no solo ou no fundo) proximais de crateras de impacto. A professora Claire Belcher, da Universidade de Exeter, coautora do estudo, explicou: “Os carvões de impacto são realmente estranhos: parecem ter sido formados em temperaturas muito mais baixas do que os carvões de incêndio, não possuem seções que foram formadas ao tocar diretamente a chama e são todos muito semelhantes entre si, enquanto em um incêndio é comum encontrar madeira fortemente carbonizada ao lado de galhos pouco afetados”.

Compreensão melhorada

“Isso definitivamente não é o que esperávamos quando começamos este estudo: achamos que os carvões de impacto foram formados quando fragmentos de árvores quebradas pelo impacto foram misturados com material local ejetado da cratera”, acrescentou a drª Losiak.

“Este estudo melhora nossa compreensão dos efeitos ambientais da formação de crateras de pequeno impacto, de modo que, no futuro, quando descobrirmos um asteroide com alguns metros de diâmetro ou mais vindo em nossa direção apenas algumas semanas antes do impacto, poderemos determinar o tamanho e o tipo de zona de evacuação necessária”, disse o professor Chris Herd, da Universidade de Alberta (Canadá), coautor do estudo.

“Nossa pesquisa também pode ajudar a encontrar novas crateras de impacto na Terra. Esperamos que estejam faltando em nossos registros mais de dez crateras formadas nos últimos 10 mil anos. Precisamos encontrá-las, antes que seus parentes nos visitem inesperadamente”, explicou o coautor professor Witek Szczuciński, da Universidade Adam Mickiewicz em Poznan (Polônia).