Todos os dias, através dos jornais, tevês, rádios e internet, enxurradas de informações e notícias – verídicas ou não – invadem nossa mente. Nada mais esquizofrênico do que a primeira página de um bom jornal: ali, a salada é mais do que mista. Ou seriam as 12 casas zodiacais as vencedoras desse campeonato?

Previsão do tempo, bolsa de valores, turismo, meio ambiente e biodiversidade, artes, política, crimes, editoriais, corrupção, chats, celebridades, tragédias naturais, receitas de bolo, novas dietas… Tudo é fragmentado, rápido, descartável, profundamente superficial ou superficialmente profundo.

Nos últimos anos têm surgido muitas perguntas e explicações – variadas e, algumas, bem engraçadas – sobre um suposto juízo final marcado para 2012. Quando uma informação desse porte surge, os astrólogos são pressionados e, logo, se tornam reféns da necessidade de encontrar uma resposta obrigatória, complexa ou simplista, capaz de elucidar e dirimir os medos e as inquietações das pessoas. E lá vamos nós, tecendo analogias simbólicas, levantando hipóteses razoáveis relacionadas aos ciclos planetários e, quem sabe, citando calendários da antiguidade, profecias daqui e de lá. Afinal, nossa eterna necessidade de compreensão remonta à própria origem da história da humanidade e é por conta dela que garantimos nossa sobrevivência.

Esse dilema de ignorar, por um lado, e consumir o excesso de informação, por outro, vai aos poucos quebrando nossa coluna vertebral. Tudo é difuso, mal costurado, ouvimos o que queremos, apagamos da mente aquilo que não interessa – enfim, ninguém é de ferro.

Permanece, no entanto, o fato de que, do ponto de vista astrológico, 2010 é bem mais complicado do que 2012, ano a que fazem referência o calendário maia e quetais. Recuando no tempo, no fim de 2008, Plutão entrou no signo de Capricórnio e assistimos a um primeiro “chacoalhão” do céu: uma grande crise econômica nos EUA que se espalhou rapidamente na Europa e em outros continentes. As análises no início eram bem sombrias, mas algumas intervenções drásticas foram feitas, alguns países se saíram melhor, outros pior. A crise parecia algo sem saída, até mais grave do que a depressão econômica iniciada em 1929, mas não foi.

 

De qualquer maneira, ali estava um óbvio sinal de que algo não ia bem na economia mundial e as medidas profiláticas propostas não haviam sido encaradas com a seriedade suficiente. Entre mortos e feridos, as instituições financeiras e os bancos se levantaram sem demora. Mas o resto dos mortais, nem tanto.

 

Todos nós somos hábeis em fazer uma maquiagem rápida em assuntos espinhosos, desviar de problemas e ir adiando a solução, até que algo pior aconteça. E aconteceu. Agora, em 2010, a “bola” da vez é a Grécia, com um déficit econômico gigantesco, que vem perturbando o sono de toda a União Europeia. Para evitar uma metástase geral, fizeram-se novamente as intervenções necessárias a fim de estagnar o processo de corrosão da economia europeia antes de ele se disseminar entre outros países da União.

Para nós, leigos, fica a suspeita de que existe algo de muito errado na liberação desses créditos de salvação, assim como nas gigantescas dívidas públicas desses países. A chamada “economia de papel” – esses rios de dinheiro invisível que passeiam pelas bolsas de valores do mundo e que escorrem por entre os dedos das mãos muitas vezes pouco limpas de homens públicos – corresponde a essa face obscura de Plutão: enriquece alguns poucos e lança na rua da miséria muitos milhares de indivíduos.

A “economia de papel” corresponde à face escura de Plutão: Dinheiro sujo escondido em bolsos de homens públicos

Acima, réplica do famoso calendário maia, no qual o ano de 2012 aparece como o final de um ciclo histórico mundial inteiro. Ao lado, imagem da reunião do G-20 em Busan, na Coreia do Sul, em 4 de junho, na qual ministros da Economia e governantes de vários países discutiram a crise financeira causada pelo desequilíbrio da economia grega.

Plutão, creio, é quem vem dando as cartas mais determinantes do jogo cósmico nos últimos dois anos. Vale lembrar que ele pode ficar em um signo por volta de 18 anos, o que caracteriza um ciclo de tendências, seja do ponto de vista da cultura, seja da política ou da economia para muitos países.

As divindades greco-romanas inspiraram e guardam uma relação evidente com os significados dos planetas na astrologia. Plutão, na mitologia grega, era o senhor dos mortos e dos mundos subterrâneos. Seu nome em grego, Hades, significa riqueza. Na antiguidade, não havia altares nem celebrações em sua honra, pois ele era invisível. Sem o seu consentimento, nem as sementes podiam germinar para, depois, serem transformadas em alimento.

Em analogia com o significado de Plutão, são também “invisíveis” o magma do planeta, a energia atômica, os recursos hídricos ou minerais que estão sob a superfície da terra – riquezas ou matérias-primas valiosíssimas, sendo a mais óbvia delas o petróleo, chamado de “ouro negro”. Ou seja: Plutão simboliza toda forma de poder extremamente concentrada, esteja ele dentro da terra, de uma semente ou de um átomo.

Capricórnio, signo pelo qual transita Plutão no presente momento, está relacionado ao poder do Estado, da economia, da religião, das instituições em geral, a tudo o que é sólido e estruturado, construído através do tempo, das leis, do trabalho e da disciplina.

No final de 2009, com a entrada de Saturno no signo de Libra, observamos que essas tensões do cosmos começaram a se intensificar. Em ângulo difícil com Plutão, esse ciclo acaba por trazer à tona temas crônicos ou cristalizados dessas estruturas que podem entrar em colapso ou chegar a seu limite. A falta de compromisso e a lentidão para se enfrentar os sérios problemas da devastação natural das florestas, da poluição generalizada, da falta de água potável, do aquecimento global, entre outros temas urgentes, têm tornado as consequências dessa omissão mais e mais graves em todos os continentes.

 

Terremotos e outros cataclismos naturais, por seu lado, correspondem à face mais visível de Plutao

Em Porto Príncipe, capital do Haiti, pessoas sentam-se em frente às ruínas de uma igreja destruída pelo terremoto de 12 de janeiro. O sismo foi um dos mais devastadores em toda a história das grandes hecatombes geológicas.

Estamos, por outro lado, acompanhando uma sucessão de fenômenos que representam a face astrológica mais visível de Plutão: terremotos violentos, como os do Haiti, do Chile e da China. Uma cena emblemática dessa devastação crônica, moral, física e política do Haiti foi a foto do suntuoso palácio do governo em Porto Príncipe amassado como um papel, tombado ao chão.

Em janeiro de 2010, os temporais que causaram deslizamentos em Angra dos Reis e, poucos dias depois, outros muito piores na periferia do Rio de Janeiro – a “Cidade Maravilhosa” –, escancararam para os quatro cantos do planeta a negligência dos nossos governantes e os horrores da pobreza aqui reinante.

Até o Vaticano, que é um Estado independente dentro da Itália, não escapou da ação subversiva de Plutão, com as denúncias de pedofilia praticada por membros do clero. Há séculos, denúncias do gênero mancham a reputação da Igreja Católica. Só que, desta vez, atingiram o próprio papa, que teve de se desculpar publicamente por esses crimes “invisíveis”, cujas sequelas nunca se apagam, cometidos no seio da instituição que ele dirige.

No fim de 2009, o esperado encontro do COP 15 na Dinamarca deveria ter encontrado soluções práticas e compromissos rápidos para fazer parar a degradação ambiental mundial. O encontro teve, no entanto, resultados pífios. O que se viu foram grandes debates entre entidades não governamentais e políticas, todas elas preocupadas sobretudo com suas agendas domésticas e ainda pouco ou nada comprometidas com a complexidade do problema. Em Copenhague, novamente interesses econômicos falaram mais alto.

Há uma sincronia evidente entre dois fenômenos muito fortes relacionados ao simbolismo de Plutão: enquanto recentemente o vulcão da Islândia cuspia fogo, cinzas e fumaça, no Golfo do México uma plataforma rompida fazia vazar milhares de litros de petróleo diariamente na costa dos Estados Unidos. Ambos os eventos implicam prejuízos imensos para a economia, os cidadãos e a natureza. No caso dessa plataforma de petróleo, como reverter mais essa irresponsabilidade? Onde estão os culpados?

É assim que podemos entender os ciclos de Plutão: feitos de coisas que acontecem, mas que estão fora do nosso controle, ou então na forma de ações inconscientes, irracionais e violentas – como são, por exemplo, os atentados terroristas.

 

As catástrofes naturais atingem tanto países pobres quanto ricos, mas as saídas e as novas propostas realistas para esse acerto de contas com a mãe natureza não estão dentro de nenhuma agenda mundial de desenvolvimento. Para isso, seria necessária uma governança mundial, para além dos países e das fronteiras geopolíticas, e isso infelizmente ainda soa mais como “Imagine”, a bela e utópica canção de John Lennon: “Imagine all the people living life in peace. Imagine there’s no country…”

Os ciclos de Plutão sao feitos de coisas que acontecem, mas que estão fora do nosso controle

Na madrugada de 1º de janeiro, a Praia do Bananal, na Ilha Grande (RJ), 100 quilômetros ao sul do Rio de Janeiro, foi palco de um deslizamento que cobriu casas e parte de uma pousada instalada no local. Quinze pessoas morreram e o lugar ficou desfigurado. O desastre ocorreu após muitos dias de chuva torrencial, que provocaram, segundo relatórios oficiais, 44 mortes em toda a região.

Nos meses seguintes a junho de 2010, ainda teremos diversas outras “contraturas” no céu astrológico. Júpiter se encontrará com Urano no signo de Áries, em oposição a Marte e a Saturno, no signo de Libra. Estes dois últimos planetas, por sua vez, estarão em quadratura com Plutão. Tudo isso acontecerá, como agravante, em signos cardinais.

Existe uma radicalização de valores e de premissas, sejam elas sociais, políticas e, sobretudo, econômicas, uma vez que o fiel da balança sempre está voltado para os interesses dos lucros, da sobrevivência, etc. O radicalismo deverá se manifestar tanto no conservadorismo (associado a Saturno) quanto nas forças de renovação (Urano) das estruturas de poder. Júpiter e Urano, em conjunção, tendem a acelerar a produção, o conhecimento e a implementação mais rápida de ideias e tecnologias que já existem (energias solar e eólica, edifícios verdes, etc.) ou que serão criadas para a solução de problemas ambientais.

A presença de Plutão num signo de terra indica um ciclo de tendência para uma visão mais realista e pragmática da vida, da ciência e da natureza. A ecologia e a espiritualidade devem ser praticadas não como uma “atitude” politicamente correta, mas como uma necessidade de sobreviver física e moralmente às dificuldades pelas quais possivelmente passaremos. Muito daquilo que temíamos que pudesse acontecer já está acontecendo, e nossa existência é sempre marcada por mudanças e pela transitoriedade, agora em ritmo superacelerado.

A tal “música das esferas” vem ganhando um ar heavy metal. Temos de nos mexer…

Essa “cardinalidade” dos signos está associada a iniciativas, ação, confrontos e movimentos que devem acontecer para dar mais uma forte chacoalhada no planeta e na humanidade. Qual seria, entretanto, a outra forma para se romper com estruturas arcaicas e engessadas?

 

Perguntas lançadas ao cosmos, de uma forma ou de outra, retornam a nós, uma vez que ele é o espelho de tudo aquilo que nos acontece, tanto no plano individual quanto no coletivo. Os planetas são meros símbolos da nossa psique, que também está em movimento e em contínua transformação.

A astrologia tem uma função teleológica, sinalizando não só os eventos, mas a decifração desses símbolos, o que nos leva à questão do significado e do sentido da vida: o que estamos fazendo aqui?

Nossa existência é sempre marcada por mudanças e pela transitoriedade, agora em ritmo superacelerado

Na Cidade do Vaticano, o papa Bento 16 saúda a multidão na Praça de São Pedro, em 16 de maio. Naqueles dias, a Igreja Católica vivia uma das suas maiores crises nos tempos modernos, por causa dos escândalos de pedofilia envolvendo sacerdotes católicos em vários países do mundo. Segundo a astrologia, nem mesmo a cidadela maior da religião cristã consegue escapar da ação de Plutão quando chega a sua hora.

 

Serviço

Tereza Kawall: http://bliss1000.blogspot.com