22/07/2025 - 13:18
A busca por conselhos no ChatGPT não se limita mais a dúvidas gerais. Um levantamento recente aponta que a terapia já se tornou um dos principais usos das ferramentas de Inteligência Artificial (IA). Muitos usuários, como Hannah, relatam que a interação com a IA “realmente pode ajudar a acalmar a mente” ao ruminar sobre problemas.
É compreensível por que usar o ChatGPT como um suposto terapeuta se tornou tão popular. Em uma era em que a solidão é considerada epidemia pela Organização Mundial da Saúde (OMS), ter alguém com quem desabafar é cada vez mais raro. Além disso, a IA, programada para não discordar do usuário, oferece um ouvinte que parece sempre compreensivo.
O perigo do “conselheiro” não qualificado
No entanto, é nesse ponto que mora o perigo. “O objetivo real de todas essas ferramentas, incluindo e especialmente o ChatGPT, é manter os usuários na plataforma pelo maior tempo possível”, alerta Mattia Della Rocca, professor de Psicologia na Universidade de Roma Tor Vergata.
Para algumas pessoas, digitar seus medos mais íntimos em uma caixa de texto pode ser mais fácil do que se abrir com um profissional de saúde mental. Seja pela dificuldade em se expressar verbalmente ou pelo medo do julgamento, essa barreira inicial é real. Tanto é que a IA já vem sendo utilizada por psicólogos como uma ferramenta para facilitar esse primeiro contato.
“Inicialmente você faz a primeira e segunda sessão com o nosso chatbot aqui. Você vai apresentar algumas informações e aí, a partir dessas informações que a gente coleta, a gente segue com o atendimento”, explica Ana Karla Soares, doutora em Psicologia Social pela UFPB. Nesse cenário, porém, os chatbots são programados por profissionais da área e alimentados com bibliografias específicas e abordagens psicológicas validadas.
“Então isso tem um benefício enorme, porque a pessoa vai estar ali usando uma tecnologia que lhe é mais próxima, mas continua sendo assistida por uma teoria psicológica. E aí depois ela passa para o atendimento presencial”, completa Soares.
Consciência sobre os riscos e o valor da saúde mental
No caso do ChatGPT, não há como garantir que as respostas sejam embasadas em teorias psicológicas. Ele atua mais como um conselheiro do que um terapeuta qualificado, o que pode representar um risco real para quem enfrenta problemas psicológicos sérios. “Nunca uma IA vai ter a sensibilidade de um psicólogo de notar que aquela pessoa está frágil e que a qualquer momento ela pode tirar a própria vida”, adverte Soares.
Idealmente, todos deveriam ter acesso a acompanhamento psicológico com um profissional qualificado. “Eu estou escolhendo a pior opção só porque é de graça. Isso só vai ser prejudicial para você. E poderia colocar em risco o valor da saúde mental, especialmente para a Geração Z”, afirma Mattia Della Rocca.
Contudo, a realidade é que nem todos têm condições financeiras para pagar por um psicólogo, especialmente em um país tão desigual como o Brasil. Assim, independentemente das recomendações de especialistas, a terapia via ChatGPT provavelmente continuará existindo. As ferramentas de inteligência artificial e seus diversos usos vieram para ficar.
O importante é ter a consciência de que conversar com o ChatGPT nunca substituirá uma consulta com um profissional de saúde mental de verdade. Além disso, é crucial lembrar que, toda vez que você interage com ele, está oferecendo seus dados de forma gratuita para a OpenAI.