10/02/2016 - 19:29
Entre as várias atrações turísticas que o Rio de Janeiro oferecerá aos visitantes durante a Olimpíada, uma provavelmente atrairá perto de 100% deles: o Parque Nacional da Tijuca. Esse pedaço de Mata Atlântica incrustado na capital fluminense cobre cerca de 3,5% da área do município, o que o torna o menor parque nacional brasileiro. Mesmo assim, é o mais visitado: cerca de 3 milhões de pessoas o procuram anualmente para conhecer ao menos um de seus diversos pontos turísticos, como o Cristo Redentor, a Pedra da Gávea, o Corcovado, a Vista Chinesa e o Pico da Tijuca.
Misturado à área urbana do Rio, o parque foi criado em 1961, cobrindo então a área do Maciço da Tijuca (Paineiras, Corcovado, Tijuca, Gávea Pequena, Trapicheiro, Andaraí, Três Rios e Covanca). Ele se tornou Reserva da Biosfera da Unesco em 1991 e teve sua extensão ampliada por decreto federal em 2004, passando a incluir lugares como o Parque Lage, a Serra dos Pretos Forros e o Morro da Covanca.
Por trás de seu título de maior floresta urbana replantada do mundo, o Parque Nacional da Tijuca oculta uma interessante história de devastação e recuperação ambiental. Nos séculos 17 e 18, a maior parte do Maciço da Tijuca foi ocupada por monoculturas (sobretudo café e cana-de-açúcar) e dilapidada pela extração de madeira e de carvão. A destruição teve graves sequelas ambientais, a maior das quais foi a redução drástica no volume de água para o consumo dos habitantes.
Ainda em 1817, d. João VI interveio na área, decretando a proteção da bacia do rio Carioca, então um dos principais responsáveis pelo abastecimento da cidade. Por volta de 1820, porém, novas fazendas se instalaram na região, produzindo o que mapas do começo do governo imperial descreveram como “terras cansadas” e “matas estragadas”. Quatro décadas depois, com a população do Rio de Janeiro em rápido crescimento, tornou-se inevitável agir para preservar as nascentes da floresta. As autoridades da época calculavam que a cidade precisava de 60 milhões de litros de água para cerca de 400 mil habitantes, mas a produção era de apenas 8 milhões de litros.
Diante desse cenário, d. Pedro II emitiu em 1861 um decreto que declarava as florestas da Tijuca e das Paineiras como Florestas Protetoras. Foi o início de um processo de desapropriação de chácaras e fazendas, destinado a promover o reflorestamento e favorecer a regeneração natural da flora local. O replantio não foi fácil – por registros de época, foi só a partir de 1869 que surgiram resultados mais consistentes, com o uso de sementes de matas próximas. Mas a ação do homem, associada ao processo de regeneração natural, formou a grande floresta que atualmente ocupa o Maciço da Tijuca.
De acordo com a museóloga Ana Cristina Vieira, coordenadora da Associação de Cultura do Parque Nacional e autora dos textos do livro Parque Nacional da Tijuca – uma floresta na metrópole, o melhor rendimento das intervenções humanas veio ao longo do século passado. Na década de 1940, por exemplo, a Floresta da Tijuca passou por um período de forte revitalização sob a gestão do milionário e mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya. Ele abriu restaurantes, consolidou vias internas e recantos e chamou Roberto Burle Marx para criar projetos paisagísticos.
Quando foi fundado, em 1961, o parque recebeu o nome de Parque Nacional do Rio de Janeiro e tinha cerca de 3.300 hectares. Seis anos depois, ele conquistou seu nome atual, e em 2004 ganhou seus contornos definitivos, chegando a 3.958,47 hectares.
A sua rica flora mistura espécies nativas da região, como cedro, ingá, ipê-amarelo, ipê-tabaco, jequitibá e quaresmeira, a outras plantadas, como fruta-pão, jabuticabeira, jambeiro, jaqueira e mangueira. A fauna sofreu mais com a devastação, e seus representantes ou escondem-se dos visitantes ou têm hábitos noturnos. Mesmo assim, há registros de mamíferos como alguns tipos de macacos, pacas e tatus, aves como arapongas, beija-flores e juritis, além de répteis como cobras, iguanas e calangos.
Ana Cristina observa que, sem as matas do Parque Nacional da Tijuca, a temperatura na cidade seria entre 4°C e 7°C mais alta. A contribuição ambiental faz do parque, portanto, um feliz exemplo de beleza funcional, a colaborar para a montagem do cenário de uma das mais belas cidades do mundo.