04/10/2019 - 12:14
Um francês conseguiu mover seus quatro membros paralisados usando um exoesqueleto inovador, controlado pela mente, afirmaram cientistas em estudo publicado na revista “The Lancet Neurology”. O sistema, que funciona registrando e decodificando sinais cerebrais, foi testado durante dois anos nos centros de pesquisa Clinatec e CEA e na Universidade de Grenoble (França).
O tetraplégico de 28 anos, morador de Lyon e conhecido apenas como Thibault, perdeu os movimentos ao cair de uma altura de 12 metros em um acidente numa boate, há quatro anos.
“O cérebro ainda é capaz de gerar comandos que normalmente moveriam os braços e pernas, mas não há nada para realizá-los”, afirmou Alim Louis Benabid, professor emérito da Universidade de Grenoble e principal autor do estudo.
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Os cientistas consideram que o processo ainda é experimental e sua aplicação clínica está a anos de distância. Mas se mostram otimistas quanto ao seu potencial de melhorar a qualidade de vida e a autonomia dos pacientes.
Usando os membros robóticos, Thibault conseguiu andar e mover os braços usando uma espécie de armadura montada no teto para se equilibrar.
Fazer com o cérebro
“Quando você está em minha posição, quando você não pode fazer nada com seu corpo… Eu queria fazer algo com meu cérebro”, disse o rapaz.
Uma parte fundamental do processo foi uma cirurgia na qual dois implantes foram colocados entre o cérebro e a pele, para “ler” a área que controla os movimentos. Os 64 eletrodos em cada implante leram sua atividade cerebral e transmitiram as instruções para um computador. A seguir, um programa leu as ondas cerebrais e as converteu em instruções para controlar o exoesqueleto.
O estudo incluiu também a execução de tarefas mentais por Thibault (como jogos de computador) a fim de treinar um algoritmo para entender seus pensamentos e aumentar progressivamente o número de movimentos que ele poderia fazer. Seu progresso foi medido nos graus de liberdade que ele tinha durante as tarefas, como operar um interruptor acionado pelo cérebro para começar a andar ou estender a mão para tocar objetos.
“Era como [ser] o primeiro homem na Lua”, disse Thibault ao andar. “Não andei por dois anos. Esqueci o que é ficar de pé, esqueci que era mais alto que muitas pessoas na sala.”
“Não posso ir para casa amanhã em meu exoesqueleto, mas cheguei a um ponto onde posso andar. Eu ando quando quero e paro quando quero”, acrescentou o rapaz.
Não invasivo
Um segundo paciente recrutado para o estudo foi excluído porque um problema técnico impedia a comunicação entre os implantes cerebrais e o algoritmo.
Segundo Benabid, o exoesqueleto usado foi o primeiro sistema cerebral sem fio invasivo de computador para cérebro projetado para uso em longo prazo destinado a ativar os quatro membros.
“Estudos anteriores de cérebro-computador usaram dispositivos de gravação mais invasivos implantados sob a membrana mais externa do cérebro, onde acabam parando de funcionar”, disse ele. “Eles também foram conectados a fios, limitados a criar movimento em apenas um membro, ou concentraram-se em restaurar o movimento dos músculos dos próprios pacientes.”
De acordo com Benabid, embora o exoesqueleto “não tenha alterado o estado clínico” de Thibault, o rapaz “já considera sua mobilidade protética em rápido crescimento uma recompensa”.