Com Bolsonaro na capa retratado com vestimentas de um trumpista que invadiu o Capitólio em 2021, revista abordou situação jurídica do ex-presidente e apontou que EUA perderam posto de “adulto democrático” para o BrasilO ex-presidente Jair Bolsonaro é tema da capa da nova edição impressa da revista britânica The Economist, que foi apresentada nesta quinta-feira (28/08). A publicação destaca o julgamento que corre no Supremo Tribunal Federal, no qual ele é réu por tentativa de golpe de Estado, e diz que o Brasil oferece uma lição de “maturidade democrática” aos EUA.

“Os dois países parecem estar trocando de lugar. Os Estados Unidos estão se tornando mais corruptos, protecionistas e autoritários”, diz a reportagem. “Em contraste, o próprio país [Brasil] está determinado a salvaguardar e fortalecer sua democracia.”

Na capa, Bolsonaro é retratado com o rosto pintado de verde, amarelo e azul, e um chapéu com chifres de touro e pele de animal. A imagem faz referência a um notório apoiador do presidente dos EUA, Donald Trump, que foi preso após invadir o Capitólio americano em 6 de janeiro de 2021.

Conhecido como “viking do Capitólio” ou “Xamã do Qanon”, ele usava os mesmos ornamentos, com o rosto pintado com as cores da bandeira americana. O paralelo brasileiro, quando bolsonaristas invadiram e destruíram os prédios da Praça dos Três Poderes ocorreu apenas dois anos depois, em 8 de janeiro.

Paralelo entre Trump e Bolsonaro

A The Economist fez um paralelo entre as táticas de Trump e Bolsonaro para contestar suas derrotas nas urnas, questionar o sistema de votação e instigar apoiadores a rejeitar os resultados.

A revista também elogiou o engajamento de instituições brasileiras para “seguir as regras e avançar por meio de reformas”, além de julgar os responsáveis pela tentativa de golpe de Estado. Nos EUA, Trump foi indiciado por incentivar o ataque à sede do Congresso americano, mas teve autorização para disputar a eleição e o processo ficou engavetado após sua eleição.

“Esses são os traços da maturidade política. Pelo menos temporariamente, o papel de ‘adulto democrático’ do hemisfério ocidental se deslocou para o sul”.

“Trump dos Trópicos”

Também foi citada a tentativa de Trump de intervir na ação penal e livrar Bolsonaro, chamado pela publicação de “Trump dos Trópicos”, do que chamou de caça às bruxas jurídico. A aposta da reportagem é que a interferência da Casa Branca terá efeito contrário e pode até cacifar a base governista para a próxima eleição.

A análise da publicação britânica é que Bolsonaro será declarado culpado. A revista cita ainda o risco de apoiadores “fanáticos” do ex-presidente rejeitarem o resultado. O julgamento formal de fato do “Núcleo 1” da trama golpista terá início em 2 de setembro.

Por outro lado, os autores também criticam o STF. Sem citar diretamente Alexandre de Moraes, questionam casos em que magistrados abrem processos judiciais, como o inquérito das fake news, em que o papel de “vítima, promotor e juiz” fica centralizado em uma única pessoa.

“É amplamente reconhecido que juízes não eleitos com tanto poder podem corromper a política, bem como salvá-la de golpes. Os próprios juízes reconhecem a necessidade de mudança.”

gq (OTS)