02/12/2025 - 17:05
Com a aproximação das festividades de fim de ano, ressurge na Europa um dos personagens mais controversos do folclore natalino: o Zwarte Piet, ou “Pedro Negro”. Na tradição de Natal nos Países Baixos, ele é o ajudante de São Nicolau — a figura histórica que inspirou o Papai Noel —, mas sua representação visual tem gerado intensos debates sobre racismo e herança colonial.
A tradição: no dia 5 de dezembro, São Nicolau distribui presentes com a ajuda de Zwarte Piet;
O visual: o personagem é geralmente interpretado por pessoas brancas usando blackface (rosto pintado de preto), perucas crespas e batom vermelho;
A defesa: tradicionalistas alegam que a cor da pele se deve à fuligem das chaminés;
A história: a origem do personagem remonta a 1850, época em que a Holanda lucrava com a escravidão, retratando-o como um servo mouro.
As crianças bem-comportadas recebem presentes de São Nicolau na véspera do dia do santo, 5 de dezembro. Já as que não se comportaram recebem a visita do Zwarte Piet. A polêmica reside na caracterização: defensores da prática argumentam que se trata de uma tradição inocente e que a pele do personagem é escura devido à “fuligem da chaminé”, por onde ele desce para entregar os presentes.
Contradições históricas
A justificativa da fuligem, no entanto, é contestada por historiadores e ativistas. A análise visual do personagem clássico derruba a teoria: se fosse apenas sujeira de carvão, o personagem não vestiria trajes renascentistas impecáveis, não usaria brincos de argola dourados e nem teria o cabelo caracterizado como crespo.
A origem documentada do personagem remonta a 1850, quando um livro infantil introduziu a figura de um servo negro ao lado do santo branco. É fundamental observar o contexto: nessa época, a Holanda ainda era uma potência colonial que lucrava imensamente com o tráfico de escravizados. O Zwarte Piet original é, portanto, a caricatura de um servo escravizado.
Estereótipos e mudança
Com o passar das décadas, o personagem evoluiu. Deixou de ser uma espécie de “bicho-papão” punitivo para se tornar uma figura boba e brincalhona. Para os movimentos negros, essa mudança apenas perpetuou outro estereótipo nocivo: o do negro servil e intelectualmente inferior, que existe apenas para o entretenimento do homem branco.
Diante da crescente pressão internacional e dos protestos antirracistas, a tradição começa a mudar. Muitas cidades holandesas e a própria televisão pública já estão substituindo o blackface completo por versões do personagem apenas com “manchas de fuligem” (Sooty Piets) ou pinturas em cores diversas, tentando desvincular a festa de sua origem racista.
