Nightjet vai oferecer três vezes por semana a possibilidade de viajar de noite entre as duas capitais europeias. Linha anterior foi encerrada em 2014.No plano de horários divulgado pela estação central de Berlim consta que o novo Nightjet que fará a viagem entre a capital alemã e Paris sairá às 20h18 de todas as segundas, quartas e sextas-feiras. As paradas são em Halle, Erfurt e Estrasburgo. A chegada está prevista para as 10h25 da manhã seguinte na Gare de l'Est, em Paris.

As viagens de volta, de Paris para Berlim, serão sempre nas terças e quintas-feiras e nos sábados. Até o fim de 2024, a oferta deverá ser ampliada para os demais dias da semana.

Os assentos mais baratos custam pouco menos de 30 euros. Há também vagas em vagões do tipo couchette com até seis camas ou vagões-leito com uma a três camas, chuveiro e café da manhã.

Em tempos de crises governamentais, o restabelecimento da conexão noturna entre as duas capitais é uma notícia agradável para os ministros dos Transportes da Alemanha, Volker Wissing, e da França, Clément Beaune.

E não só porque a linha aproxima alemães e franceses, mas também como medida de proteção climática, já que a nova conexão ferroviária faz concorrência aos voos entre as duas capitais e leva clara vantagem na emissão de gases poluentes.

Linha rápida complementar

O renascimento dos trens noturnos já estava sendo preparado pelo governo alemão anterior, no âmbito da presidência alemã da UE, em 2020. O projeto TransEuropExpress 2.0 deverá conectar 13 metrópoles europeias por meio de trens noturnos, entre elas também Viena e Amsterdã e Zurique e Barcelona.

Se depender dos governos de Alemanha e França, logo haverá também uma linha expressa entre Berlim e Paris, como complemento aos trens noturnos. Já no fim de 2024 os primeiros trens dos modelos ICE ou TGV poderão estar circulando.

Mas ainda há questões em aberto. O lado alemão prefere uma conexão pela cidade de Saarbrücken, argumentando que ela seria mais rápida, enquanto o governo francês defende que o trem de alta velocidade passe por Estrasburgo.

Na França, a metrópole alsaciana é tida como a capital da Europa e luta para não perder importância perante Bruxelas. Assim, o ministro Beaune declarou à imprensa francesa, alguns meses atrás, que a linha passará apenas provisoriamente por Saarbrücken e que no mais tardar a partir de 2026, por Estrasburgo.

Tanto os trens de alta velocidade como os noturnos têm o apoio da União Europeia. Em 2021, quando a UE festejou o Ano Europeu do Transporte Ferroviário, a Comissão Europeia definiu a meta de dobrar o transporte de pessoas por trens de alta velocidade até 2030.

Alta procura por bilhetes

Apesar da redução na oferta nos últimos anos, viajar em trens noturnos continua sendo uma opção para os europeus. Só na França 215 mil pessoas compraram um bilhete no verão passado, uma alta de 15% em relação ao ano anterior.

A viagem inaugural de Berlim para Paris foi feita nesta segunda-feira (11/12) por Beaune e pelo embaixador francês em Berlim, ao lado de representantes das empresas ferroviárias envolvidas – além da alemã Deutsche Bahn e da francesa SNCF, a austríaca ÖBB e a belga SNCB participam do projeto. Wissing e o presidente da Deutsche Bahn estavam na estação central de Berlim para a despedida da delegação que partiu para a França.

Segundo a Deutsche Bahn, a procura por bilhetes é alta, principalmente para os feriados de fim de ano. Só depois haverá de novo “capacidade livre suficiente”.

Mas a grande busca por bilhetes no fim do ano não pode esconder o fato de que o renascimento dos trens noturnos é uma lógica política e de mercado: os trens noturnos não são considerados lucrativos.

Áustria salvou os trens-leito

Em 2016, a Deutsche Bahn pediu a consultores de gestão que calculassem se pelo menos parte da frota de trens noturnos poderia ser salva. Mas o duro veredito dos profissionais foi que não havia perspectiva de lucro, nem mesmo na City Night Line Perseus, entre Berlim e Paris, que já havia sido encerrada em 2014.

Que ainda haja trens-leito circulando na Alemanha e em outros países europeus deve-se sobretudo à empresa austríaca ÖBB. Em 2016, a ÖBB comprou o negócio deficitário de trens noturnos da Deutsche Bahn, assumiu algumas rotas e continuou a operá-las – e agora também está a bordo do projeto Berlim-Paris.

Sobretudo preocupações climáticas reacenderam o interesse pelas viagens de trem noturno na Europa. Além das empresas ferroviárias estatais, várias empresas privadas também oferecem trens noturnos: a empresa sueca Snälltåget conecta Berlim e Estocolmo, e no Reino Unido existe a Caledonian Sleeper.

A França, ao contrário da Alemanha, vai subsidiar a nova linha noturna entre as duas capitais com cerca de 10 milhões de euros por ano. Em Paris, o Ministério dos Transportes espera que a rota seja rentável após dois ou três anos.

O projeto também se beneficia de apoio da Bélgica, uma vez que o trem que parte de Berlim é dividido em Mannheim e uma parte passa por Colônia, Aachen e Liège até chegar a Bruxelas. Na Bélgica, os trens noturnos estão isentos de custos de itinerário e de energia durante dois anos.