A estonteante beleza do Mar do Caribe atrai milhares de turistas à ilha. Na foto, a Praia de Ancón, em Trinidad, uma das mais bonitas do país.

 

A primeira vez que estive em Cuba, surpreendeu- me o número de cubanos, de todas as partes da ilha, que exaltavam Trinidad, cidade histórica no litoral sul da ilha. “É a mais bela cidade do país”, arriscavam alguns, embora me parecesse difícil fazer tal afirmação num país tão cheio de belezas históricas e naturais. Infelizmente, na ocasião, não tive oportunidade de conhecê-la. De volta a Cuba, Trinidad passou a ser meu destino certo, prioridade no roteiro.

Nem bem havia chegado à cidade e comecei a perceber que se tratava mesmo de um lugar especial, com uma atmosfera que eu não havia presenciado até então. Atraído pelo som de uma buzina, vi que estava diante de uma das manifestações mais tradicionais do país, embora pouco reverenciada pelos turistas: um carro todo decorado, desses antigos, que ainda se encontram bem preservados em Cuba, levava uma debutante para dar um passeio pela cidade. Entre bexigas e fitas coloridas, a garota destacava-se com um lindo vestido de festa, cabelo todo enfeitado, feliz com seus recém-completados 15 anos. Algo tipicamente cubano, mas que eu nunca havia presenciado. Foram as melhores boas-vindas que a cidade poderia me oferecer.

Deixei minhas coisas no hotel e segui no rastro de onde o carro desaparecera. Trinidad é desses lugares em que o simples passeio por suas ruas estreitas já é algo inspirador. Com pouco mais de 50 mil habitantes, a cidade abriga uma das maiores áreas históricas preservadas do país, com mais de 1.200 edifícios de grande valor arquitetônico, tendo a Plaza Mayor e a Igreja de Santíssima Trindade como ponto central.

 

 

 

Acima, dois tesouros da época colonial: a Plaza Mayor e a Igreja da Santíssima Trindade. À direita, o centro histórico de Trinidad. ele abriga um conjunto de edifícios de grande valor arquitetônico, erguidos em torno da Plaza Mayor.

 

Protegida entre o Mar do Caribe e a imponente Serra do Escambray, Trinidad foi declarada Patrimônio Histórico da Humanidade em 1988. Ela preserva 500 anos de história do ciclo da cana-de-açúcar, que, assim como no Brasil, teve sua importância incontestável. Foi fundada em 1514, pelo “conquistador” (com as devidas aspas) Diego Velásquez, e ganhou fama como capital colonial do açúcar, mantendo tal prestígio até o início do século 20.

Hoje, possui também uma forte atmosfera interiorana, com pessoas pela rua a qualquer hora do dia ou da noite, gente andando de bicicleta, de cavalo, em carroças, pessoas nas janelas e vizinhos colocando o papo em dia. Clima perfeito para se caminhar entre suas ruas estreitas, muitas ainda de paralelepípedo. É bom lembrar que o país tem um dos mais baixos índices de violência do mundo. Trinidad não é diferente e esses passeios podem ser feitos com muita tranquilidade.

É nesses passeios que se descobre, por exemplo, que a música realmente faz parte do dia a dia da cidade, e que ela não está presente apenas em bares lotados de turistas que se apinham para ouvir “Guantanamera” e músicas do Buena Vista Social Club, uma visão bem estereotipada da cultura cubana. Em Trinidad é comum encontrar nas ruas rodinhas de jovens com violão, pessoas com instrumentos de percussão e ouvir música saindo das casas. No centro da cidade, o clima rola solto em locais como a Casa da Música e a Casa da Trova, o primeiro com shows de graça, a céu aberto, bem próximo da Plaza Mayor, onde cubanos se misturam a noruegueses, brasileiros, espanhóis, alemães e viajantes de mais uma dezena de nacionalidades mundo afora. Uma festa.

 

Em Trinidad de cuba é comum encontrar rodinhas de jovens com violão nas ruas

Permanência mínima

Nem pense em ficar menos de três dias em Trinidad. É preciso reservar pelo menos um dia para as atrações do centro histórico, um para o Vale do Engenhos (região nos arredores da cidade onde estão as antigas fazendas de cana) e um, claro, não poderia deixar de ser, para o mar, o belíssimo Mar do Caribe.

Para quem está no centro, é fácil presumir a importância da Igreja de São Francisco, a julgar pela quase onipresença de sua torre, visível de várias partes da cidade e estampada em nove de cada dez cartões-postais da cidade. Construída em 1813, foi a mais importante instituição religiosa da região durante todo o século 19, abrigando também um convento franciscano.

Hoje, é sede do Museu da Luta contra Bandido, um espaço dedicado às guerrilhas contrarrevolucionárias que ocorreram no país entre 1960 e 1965. Grupos contrários à revolução liderada por Ernesto Che Guevara e Fidel Castro, muitos financiados pelos Estados Unidos, abrigaram-se nas montanhas de Escambray e travaram dezenas de batalhas com a população de Trinidad, defensores da nova ordem.

 

No alto da página, um dos vários carros antigos que transitam pela cidade; na foto central, um dos moradores típicos de Trinidad; à esquerda, uma das muitas imagens de Che Guevara que podem ser vistas em muros e paredes locais.

Documentos, fotos e vários objetos do acervo do museu ilustram como tudo ocorreu: entre eles, a rede e a mochila usadas por Che durante as campanhas, armas que pertenceram a heróis da revolução e até mesmo um pedaço da fuselagem de um avião norte-americano espião, o U-2, abatido sobre o espaço aéreo cubano em 1962.

Se estiver com pique de museus, aproveite para visitar o Museu Romântico, cujo acervo é integrado por uma bela coleção mobiliária de meados do século 19, mais precisamente entre 1830 e 1860, período que ficou conhecido como romântico. No interior do prédio estão expostas delicadas peças de vidro, porcelana, mármore, madeira e muitas obras de arte que permitem fazer uma ótima reconstituição de como era o cotidiano naquela época.

 

Um museu de arquitetura e outro de arqueologia completam o passeio daqueles que gostam de conhecer melhor a história dos locais que visitam. Todos se localizam nos arredores da Plaza Mayor, que também concentra as principais lojas, feiras de artesanato e restaurantes. Aliás, uma prática comum nas cidades turísticas cubanas é o morador transformar o quintal de casa em um restaurante. Nem todos são oficializados pelo governo, embora isso não represente necessariamente uma perda de qualidade. Por conta dessa clandestinidade, o serviço é oferecido de modo bem discreto e é preciso ficar atento. Em geral, são aconchegantes e a comida é muito boa. Ótima oportunidade para se experimentar um autêntico prato da culinária criolla por um preço mais em conta do que nos restaurantes turísticos.

O segundo dia deve ser dedicado à herança do ciclo da cana-de-açúcar. As construções dessa época estão espalhadas numa região chamada de Vale dos Engenhos, também declarada Patrimônio da Humanidade pela Unesco. Está localizado entre a Serra do Escambray e a cidade, numa área que se estende por aproximadamente 16 quilômetros e exibe dezenas de fazendas bem preservadas. No século 18, a região tinha mais de 82 moinhos de cana, onde trabalhavam quase 3 mil escravos. Hoje, algumas fazendas oferecem passeios guiados pelos antigos engenhos de extração de açúcar e aos locais onde os escravos eram aprisionados, testemunhos da dor e da glória do passado.

 

A torre de Manaca-Isznaga, na região do Valle de los Ingenios. Construída em 1815, tem mais de 44 metros de altura.

Um dos ambientes interiores do Museu da Luta contra Bandido

 

Um dos pontos altos do passeio é a chegada à fazenda Iznaga, onde de longe se avista a Torre de Manaca-Iznaga, com seus mais de 44 metros de altura, sentinela de toda a planície. Foi construída em 1815 por Alejo Iznaga y Borrel, para melhor controlar sua propriedade. Hoje, a antiga casa grande é uma espécie de museu onde o turista pode ter uma idéia de como viviam os grande barões do açúcar. A subida à torre, embora exija um pouco de preparo físico, vale a pena. São 184 degraus que permitem uma visão privilegiada de todo o Vale dos Engenhos.

Uma prática comum nas cidades turísticas cubanas é o morador transformar seu quintal em restaurante

 

O terceiro dia pode ser dedicado ao atrativo que mais leva turistas à ilha: as belas praias. Na situada na península da parte sul da cidade, o mar se encarregou de levar uma areia muito fina e muito branca. Fica a pouco mais de dez quilômetros do centro, aumentando a tentação de alugar uma moto ou mesmo uma bicicleta para fazer o trajeto.

Embora seja bem frequentada, Ancón não costuma ficar lotada de turistas. Um hotel construído na orla possibilita curtir a praia e ainda desfrutar de uma pequena estrutura aberta a todos, com bar e um quiosque que oferece passeios de barco. Uma das pedidas é seguir mar adentro até os recifes que encantam mergulhadores do mundo todo, desde os menos experientes até aqueles que já chegam habilitados a mergulhos de profundidade.

A torre da Igreja de São Francisco e o convento

As translúcidas águas da Praia de Ancón

 

Cayo Blanco, a 25 quilômetros da costa, é um dos locais mais impressionantes para essa prática, com abundante vida marinha e naufrágios seculares. Se a pessoa não é tão adepta da prática de mergulho, pode simplesmente sair caminhando pela orla, com pequenas pausas para descansar. Ou, ainda, não fazer nada, deitar na praia e ver o tempo e a brisa passarem.

Depois de um dia de muito sol, praia e areia, a pedida é voltar para a cidade, tomar um banho, descansar um pouco e se preparar para mais uma noite pelas ruelas do centro histórico, perfeitas para quem quer fazer amigos, dançar, ouvir música e, claro, respirar história.

 

 

Serviço

Quem leva: A Sanchat Turismo é considerada a número 1 em Cuba, com grande experiência em viagens para todos os destinos da ilha e para todo o Caribe.

Informações: tel.: (11) 3017-3140,

site: www.sanchattour.com.br,

e-mail: sanchattour@sanchattour.com.br.