Pela primeira vez na história, cientistas registraram o acasalamento de tubarões-leopardo na natureza, e a observação, além de inédita, revelou um comportamento inesperado: uma fêmea copulando com dois machos em sequência. O evento, documentado em vídeo na Nova Caledônia, território francês no sul do Oceano Pacífico, auxilia nos estudos sobre hábitos reprodutivos de uma espécie globalmente ameaçada de extinção.

O flagrante foi realizado pelo biólogo marinho Hugo Lassauce, da Universidade da Sunshine Coast, em 12 de julho de 2024. Após um ano de monitoramento semanal da população de tubarões na região, Lassauce presenciou a cena completa – durante 90 minutos, ele observou os dois machos, de aproximadamente 2,3 metros de comprimento cada, agarrando as nadadeiras peitorais da fêmea com a boca para imobilizá-la no fundo do mar, um comportamento típico de acasalamento em tubarões.

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O primeiro macho acasalou com a fêmea por 63 segundos. Logo em seguida, sem intervalo, o segundo macho realizou o ato por 47 segundos. Após o acasalamento, a fêmea se afastou nadando ativamente, enquanto os machos permaneceram imóveis na água, possivelmente exaustos pelo esforço. Lassauce esperou por uma hora na água para não interferir e conseguiu filmar o processo junto a sua equipe.

A descoberta, publicada no Journal of Ethology, é considerada um marco para a biologia marinha. O registro de poliandria (uma fêmea acasalando com múltiplos machos) expande a compreensão sobre o comportamento da espécie Stegostoma tigrinum e as maneiras de conservá-la.

A análise genética da prole ainda poderá determinar quantos pais contribuem para cada ninhada de ovos, uma informação importante para entender a diversidade genética da população.

Christine Dudgeon, co-autora do estudo, ressalta que a observação indica que o local na Nova Caledônia é um habitat crítico para o acasalamento da espécie, o que pode guiar estratégias de manejo e proteção. O conhecimento adquirido também pode ser fundamental para pesquisas de inseminação artificial que visam reintroduzir os tubarões-leopardo em áreas onde foram extintos.

Curiosamente, as fêmeas desta espécie também são capazes de reprodução assexuada por partenogênese na ausência de machos, demonstrando uma notável flexibilidade reprodutiva.