Símbolo de identidade l, os mariachis expressam a alma rural mexicana em suas canções sentimentais e patrióticas. Guadalajara, a capital do Estado de Jalisco, é o berço desses trovadores.

 

Há melhor maneira de compreender a realidade de um lugar do que passear por suas ruas? São elas que revelam as alegrias e os segredos de uma cidade. O que falar, então, quando as praças são musicais?

Assim são as praças de Guadalajara, a segunda cidade mais importante do México, berço dos mariachis, os trovadores mexicanos. Nas praças, eles se apresentam e mantêm viva a alma popular, com canções que falam de amor e alardeiam patriotismo. A maioria dos mexicanos se identifica com os músicos e os encara como representantes is.

Quando se ouve a palavra mariachi, de imediato vem à mente a imagem de um conjunto de músicos vestidos com o tradicional traje de charro (jaqueta bordada, cintos largos e botas), sombreros e mais trompetes, violinos e guitarras – a vihuela – que se apresenta geralmente de pé. Eles expressam uma história milenar de embate l com o colonialismo espanhol.

 

O tradicional traje de charro é o uniforme dos mariachis, mistura de vaqueiro com trovador. Depois da Revolução de 1910-1920, a música deles virou expressão de patriotismo.

 

O México assimilou a influência externa sem perder as origens. Os mariachis são resultado de uma mestiçagem rural genuína de música, canto e dança.

Embora a música provenha de séculos atrás, sua forma típica de apresentação consolidou-se recententemente, em meados do século 19, em Cocula, pequena cidade ao redor de Guadalajara. Quanto ao local de nascimento, não existem dúvidas, mas o mesmo não acontece com a origem do termo.

Os coculenses garantem que os indígenas cocas, habitantes da região, chamavam os seus músicos de mariachis. Outra hipótese afirma que o termo deriva da palavra francesa mariage, que significa casamento, já que nos tempos da intervenção francesa no México, na corte do imperador Maximiliano (1864-1867), os músicos eram contratados para tocar nas festas de casamento. Assim, também eram chamados “músicos de mariage”.

Recentemente, novas explicações surgiram: a primeira é que mariachi é o nome da árvore de cuja madeira se faziam as plataformas onde artistas populares realizavam performances acompanhados pelos músicos. A segunda, apoiada por grande número de especialistas, deriva de um canto aborígene dedicado à Virgem Maria. O fato é que os mariachis são menestréis populares – vaqueiros, peões, índios – hábeis em conjugar os ritmos nativos com as harmonias provenientes da Europa.

O sucesso despontou há mais de um século, quando em 1905, a convite do general Porfírio Diaz, presidente da República, o músico jalisciense Justo Villa se apresentou com seu conjunto mariachi nas festas pátrias na Cidade do México. A partir daí a música deixou de ser regional para se nacionalizar. Depois da Revolução de 1910-1920, ela virou expressão de orgulho mexicano e patriotismo. Entre os mais famosos intérpretes do gênero destacam-se o Conjunto Vargas, Pedro Infante, Miguel Aceves, Lola Beltrán e José Jiménez.

Hoje, a música mariachi está incorporada ao dia a dia do povo mexicano. Festas, casamentos, serenatas e até mesmo missas católicas usam-na como trilha sonora. Nas principais solenidades e eventos ela se faz sempre presente. Os mariachis já foram escolhidos, por exemplo, para a solenidade de abertura dos Jogos Pan-Americanos que se realizarão em Guadalajara, em outubro.