Presidente dos EUA ameaça punir quem se alinhar às “políticas antiamericanas” do grupo com sobretaxas de 10%, enquanto Washington tenta selar acordos comerciais antes da entrada em vigor de suas “tarifas retaliatórias”.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou neste domingo (06/07) que Washington vai impor uma tarifa adicional de 10% a qualquer país que se alinhe ao que ele chamou de “políticas antiamericanas” do grupo de nações do Brics, cujos representantes participaram de uma cúpula no Brasil neste fim de semana.

Com fóruns formados pelas grandes economias, como o G7 e o G20, paralisados pelas políticas divisivas e disruptivas do presidente americano, o Brics vem tentanto se apresentar como um palco para a diplomacia multilateral.

Em uma declaração conjunta na abertura da cúpula, os países do Brics criticaram o “aumento indiscriminado de tarifas” como uma ameaça ao comércio global, dando continuidade às críticas veladas do grupo às políticas tarifárias de Trump.

Horas depois, o americano alertou que puniria os países que buscassem se alinhar ao grupo. “Qualquer país que se alinhe às políticas antiamericanas do Brics pagará uma tarifa adicional de 10%. Não haverá exceções a esta política. Obrigado pela sua atenção a este assunto”, escreveu Trump, em postagem em sua rede social Truth Social.

Ele, no entanto, não esclareceu quais seriam essas “políticas antiamericanas”.

O governo Trump busca finalizar dezenas de acordos comerciais com uma ampla gama de países antes do prazo final de 9 de julho para a imposição das chamadas “tarifas retaliatórias”.

“Movimento dos Não Alinhados”

Em sua declaração, os países do Brics voltaram a pedir uma reforma no Conselho de Segurança das Nações Unidas e repudiaram ataques que atingiram pontes ferroviárias da Rússia em junho deste ano, sem, no entanto, mencionar a Ucrânia, que estaria por trás da agressão. Esta é a primeira vez que o bloco cita uma ação militar direcionada a Moscou em uma declaração.

O documento foi o primeiro assinado pela nova formação do bloco, que no último ano, acatou a adesão de cinco novos países. O grupo atualmente é formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.

A expansão do Brics aumentou o peso diplomático do grupo, que busca representar os países em desenvolvimento do Sul Global e reforçar pedidos por reformas em instituições globais. O texto final posiciona o bloco como um defensor do multilateralismo e crítico indireto das políticas comerciais e militares dos Estados Unidos.

Em seu discurso de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva traçou um paralelo com os países em desenvolvimento que resistiram a se alinhar com qualquer um dos polos da ordem mundial durante a Guerra Fria.

“O Brics é o herdeiro do Movimento dos Não Alinhados”, afirmou Lula. “Com o multilateralismo sob ataque, nossa autonomia está novamente em xeque”, afirmou.

Os países do Brics representam mais da metade da população mundial e 40% de sua produção econômica, observou Lula em comentários neste sábado a líderes empresariais, alertando contra o protecionismo.

“Não somos antiamericanos”

Após a ameaça de Trump, um porta-voz do Ministério do Comércio da África do Sul disse que seu país ainda quer negociar um acordo comercial com os Estados Unidos. As tentativas ocorrem desde maio, quando Trump recebeu o presidente sul-africano Cyril Ramaphosapara conversas na Casa Branca.

“Ainda aguardamos uma comunicação formal dos EUA a respeito do nosso acordo comercial, mas nossas conversas continuam construtivas e frutíferas”, disse o porta-voz Kaamil Alli, à imprensa. “Como já comunicamos anteriormente, não somos antiamericanos”.

A China afirmou nesta segunda-feira que o Brics não busca confronto com Washington. “Em relação à imposição de tarifas, a China tem afirmado repetidamente sua posição de que as guerras comerciais e tarifárias não têm vencedores e o protecionismo não oferece saída”, disse a porta-voz do Ministério chinês do Exterior, Mao Ning, nesta segunda-feira.

Pequim defendeu o Brics como “uma plataforma importante para a cooperação entre mercados emergentes e países em desenvolvimento”. O grupo, de acordo com o porta-voz, defende uma abertura, inclusão e cooperação vantajosa para todos”, disse Mao. “Não se envolve em confrontos entre lados opostos e não tem como alvo nenhum país”, completou.

rc (Reuters, AFP)