Tarifas anunciadas podem chegar a 100% e atingir parceiros comerciais da Rússia caso guerra na Ucrânia não termine em 50 dias; mesmo sem ser citado, Brasil pode ser um dos atingidos.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu nesta segunda-feira (14/07) um ultimato ao presidente russo, Vladimir Putin: caso não chegue a um acordo de paz com a Ucrânia em até 50 dias, será alvo de “tarifas severas”, que poderão atingir inclusive o Brasil.

Trump ameaçou impor uma tarifa de aproximadamente 100% aos produtos procedentes da Rússia – além das alíquotas em vigor – e sobre países com os quais ele faz negócios se a guerra não for interrompida no prazo determinado.

O anúncio aconteceu no início de uma reunião com o secretário-geral da Otan, Mark Rutte, no Salão Oval da Casa Branca.

“Uma das razões pelas quais você [Rutte] está aqui hoje é porque estou muito insatisfeito com a Rússia”, disse Trump, que nas últimas semanas expressou crescente frustração com a recusa de Putin em interromper os ataques à Ucrânia.

“Vamos aplicar tarifas muito severas se não chegarmos a um acordo em 50 dias. Tarifas de cerca de 100%, que chamaríamos de tarifas secundárias”, acrescentou.

As tarifas secundárias são impostas a outros países ou entidades que mantêm comércio com uma nação sancionada, neste caso a Rússia. Ele não mencionou o Brasil em sua ameaça, mas o país é grande comprador de itens como fertilizantes e óleo diesel russos.

Além disso, Trump está em pé de guerra com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, para quem enviou na semana passada uma uma carta na qual afirma que começará a cobrar uma tarifa de 50% sobre as exportações brasileiras.

Como pano de fundo da ameaça, estão fatores como a pressão das gigantes da internet, como Meta e Google, em relação à decisão da Justiça brasileira de ampliar a responsabilização das plataformas de redes sociais sobre o conteúdo postado por terceiros. Trump mencionou o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado – classificado por ele como uma perseguição – como uma das justificativas para a sanção.

No encontro desta segunda com Rutte, Trump disse também que chegaram a um acordo para vender armas aos países da Otan. O representante da aliança militar afirmou que esses membros repassarão parte desse armamento à Ucrânia, marcando a retomada da ajuda dos Estados Unidos a Kiev. Entre as entregas prometidas, estão sistemas antimísseis Patriot, o dispositivo de defesa mais avançado que o Ocidente já enviou à Ucrânia, e cada unidade custa cerca de 3 milhões de euros (R$ 19,5 milhões) – a serem pagos pela União Europeia (UE), segundo o presidente americano.

“Fechamos um acordo hoje em que vamos enviar armas a eles e eles vão pagar por elas”, disse Trump.

Mudança de tom

Os comentários de Trump selam uma mudança de postura em relação a Putin, de quem ele havia tentado se aproximar quando assumiu o cargo, em 20 de janeiro, com o objetivo de chegar a um acordo para acabar com a guerra na Ucrânia.

Quando o presidente dos EUA anunciou uma série de sanções contra grande parte do mundo em abril, ele excluiu a Rússia com o argumento de que o país já estava sob pesadas sanções financeiras desde a invasão do país vizinho, em fevereiro de 2023.

O ponto de virada ocorreu em 3 de julho, durante uma ligação telefônica entre os dois líderes, na qual Putin disse a Trump que não desistiria de seus objetivos na Ucrânia, o que enfureceu o presidente dos EUA.

Nas últimas semanas, Trump ameaçou repetidamente impor novas sanções à Rússia se não houver progresso em um acordo, mas ainda não tinha detalhado um valor específico de tarifa.

Há um movimento no Congresso americano de pressionar por sanções secundárias ainda mais duras, à medida que a guerra se prolonga. O senador republicano Lindsey Graham, por exemplo, está propondo tarifas de até 500% sobre qualquer país que ajudar a Rússia.

sf/ra (EFE, dpa, ots)