30/09/2025 - 16:41
Em reunião incomum, presidente avisou que militares iriam “pôr ordem” em cidades governadas pela oposição e citou “inimigo interno”. Já chefe do Pentágono exigiu renúncia dos que não se alinharem à Casa Branca.Numa ação incomum, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, convocou centenas de líderes das Forças Armadas americanas na ativa em todo o mundo para um encontro presencial no qual cobrou dos militares lealdade à agenda ideológica da Casa Branca. Na mesma reunião, Trump expôs aos generais e almirantes planos para acabar com o que chamou de “cultura woke” na instituição e enfatizou seu desejo de usar os militares para “pôr ordem” em cidades governadas por adversários.
“É o inimigo que vem de dentro, e temos que lidar com ele antes que saia do controle”, discursou Trump na reunião, que ocorreu nesta terça-feira (30/09) em Quantico, no estado de Virgínia. “A América está sob invasão por dentro. Não é diferente de um inimigo externo, mas mais difícil de várias formas, porque eles não usam uniformes.”
A declaração era uma referência a criminosos e imigrantes irregulares, embora o presidente americano também tenha se queixado de “rebeldes” financiados pela “esquerda radical”.
Trump disse ter assinado um decreto criando uma força militar de resposta rápida para lidar com distúrbios provocados por civis, e informou que os militares participariam da repressão em diversas cidades governadas por democratas.
“Vamos pôr ordem neles, um a um, e isso será uma parte importante para algumas pessoas nesta sala. Isso também é uma guerra – é uma guerra interna”, afirmou o republicano. “Após gastar trilhões de dólares defendendo as fronteiras de países estrangeiros, com a ajuda dos senhores estamos defendendo as fronteiras do nosso país.”
Segundo Trump, as “cidades perigosas” dos EUA serão “campos de treinamento”. “Deveríamos usar algumas dessas cidades perigosas como campo de treinamento para nossos militares”, defendeu, dirigindo-se ao chefe do Pentágono e responsável pela Defesa americana, Pete Hegseth.
Desde que assumiu a Casa Branca, em janeiro, Trump já se mostrou disposto a mobilizar tropas contra cidadãos americanos. Isso aconteceu em Los Angeles, quando a Guarda Nacional foi usada para conter protestos contrários à sua agenda anti-imigração, e mais recentemente em Portland.
Chefe do Pentágono critica “generais gordos” e cultura do “politicamente correto”
Além de Trump, Hegseth também discursou no evento, criticando “generais gordos” e políticas de diversidade dentro das Forças Armadas, queixando-se de que militares teriam sido promovidos pelas razões erradas e argumentando que a ideia que a “a diversidade é a nossa força” é uma “falácia insana”.
Hegseth tem liderado a reforma das Forças Armadas e rebatizou recentemente o nome de sua pasta de Departamento de Defesa para Departamento de Guerra – uma denominação usada pela última vez no período pós-Segunda Guerra, e que ainda precisa ser aprovada pelo Congresso.
“A era do politicamente correto, da liderança hipersensível de ‘não machucar ninguém’ acaba agora mesmo, em todos os níveis”, afirmou. “Viramos o ‘Departamento Woke'”, criticou, aludindo a um termo pejorativo que designa aqueles comprometidos com a justiça social. “Mas agora isso acabou.”
Hegseth quer mudar a forma como a instituição lida com queixas de pessoas que se sentem discriminadas e acusações de malfeitos.
“Se as minhas palavras de hoje fazem seu coração pesar, então você deveria fazer a coisa honrosa e renunciar”, disse, dirigindo-se à plateia de generais.
Mais cedo, ao chegar para o evento, o próprio Trump havia dito a repórteres que demitiria líderes militares ali mesmo caso não fosse com a cara deles. Depois, no palco, brincou: “Se você não gosta do que digo, pode ir embora. Claro, sua patente, seu futuro, vão junto.”
Hegseth também enfatizou o que considera serem os padrões desejáveis a serem cumpridos por membros da instituição, e prometeu submetê-los a novos testes de aptidão física. “É totalmente inaceitável ver generais e almirantes gordos nos corredores do Pentágono”, pontuou. “A era das aparências pouco profissionais acabou. Chega de barbudos.”
O chefe da Defesa informou ainda que seu departamento vai revisar o que enquadra como “liderança tóxica, bullying e trotes, para empoderar líderes a reforçar padrões sem medo de retaliação ou críticas”, de modo a não penalizar pessoas que cometem “erros honestos”.
Tais regras, porém, foram instituídas justamente após diversos suicídios de militares nos últimos anos associados a liderança tóxica e bullying.
Segundo Hegseth, a revisão de políticas de diversidade nas Forças Armadas não visa afastar mulheres do serviço militar. “Mas quando se trata de qualquer trabalho que requer força física para o combate, esses padrões físicos precisam ser altos e neutros em termos de gênero”, insistiu. “Se mulheres podem fazê-lo, excelente. Se não, é o que é. Se isso significa que nenhuma mulher está apta a algum trabalho de combate, então que seja. Não é a intenção, mas poderia ser o resultado.”
“Mérito. Tudo é baseado em mérito. Todos vocês são baseados em mérito. Não teremos alguém assumindo o seu lugar por razões políticas porque eles são politicamente corretos e você não é”, afirmou Trump. “Apoio vocês e, como presidente, dou 100% de cobertura.”
As Forças Armadas americanas têm por definição o dever de serem apolíticas, leais apenas à Constituição e independentes de quaisquer partidos ou movimento político.
“Se você tentar envenenar o povo, vamos explodir sua existência”, advertiu Trump. “Não seremos politicamente corretos quando se trata de defender a liberdade americana.”
ra (AP, Reuters, DW)