15/10/2025 - 6:47
Pacote de apoio de 20 bilhões de dólares anunciado por Washington dependerá do desempenho do partido de Milei nas eleições legislativas em outubro, disse Trump, em campanha para que “números nas pesquisas” melhorem.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu seu homólogo argentino, Javier Milei, na Casa Branca para um almoço na terça-feira (14/10) e manifestou total apoio ao líder ultraliberal, embora tenha gerado incerteza ao condicionar a ajuda financeira anunciada ao futuro político da Argentina.
O pacote de socorro, divulgado dias antes pelo governo americano, prevê a injeção de 20 bilhões de dólares (R$ 109 bilhões) no país sul-americano por meio de operações financeiras e de câmbio, com o objetivo de estabilizar a economia argentina.
Segundo Trump, a oferta vem em resposta ao “ótimo trabalho” que Milei tem realizado desde que chegou ao poder, e não deve ser questionada pela oposição. No entanto, sua intenção de apoiar financeiramente o governo do presidente argentino tem uma condição: que seu partido, o Libertad Avanza, vença as eleições legislativas de 26 de outubro, determinantes para a condução das reformas econômicas propostas por Milei.
“Nossas decisões estão sujeitas a quem ganhar as eleições, porque se um socialista ganhar, a gente se sente muito diferente sobre fazer o investimento”, explicou Trump antes de um almoço de trabalho com Milei e sua equipe. “Seus números nas pesquisas estão muito bons, mas acho que ficarão melhores depois disso”, aposta Trump.
“Se ele não vencer, vamos embora”
O republicano foi além e advertiu que não deseja ver o retorno da esquerda ao poder no país sul-americano. “Se ele perder, não seremos generosos com a Argentina”, sentenciou. “Se ele não ganhar, vamos embora”, enfatizou o mandatário americano, colocando Milei diante de uma encruzilhada política.
Minoritário no Congresso, o partido do presidente argentino precisa ganhar cadeiras para aprofundar suas reformas liberais e garantir a confiança dos mercados, mas não tem perspectivas de alcançar a maioria, ainda mais diante dos recentes escândalos políticos no país.
No mais recente deles, auxiliares próximos de Milei são acusados de corrupção. A irmã e braço direito do presidente, Karina Milei, é apontada como uma das principais beneficiárias de um esquema de cobrança de propinas em compras de medicamentos para pessoas com deficiência.
A linha de socorro apresentada por Washington após quatro dias de negociações na semana passada serviu para “superar este problema de liquidez que a Argentina tinha como consequência dos ataques políticos que sofremos por parte de nossos oponentes, que não querem que a Argentina volte a abraçar as ideias da liberdade”, segundo Milei.
Economia precária
Há quase dois anos no poder, Milei assumiu uma agenda muito agressiva de austeridade e desregulação. As principais medidas fiscais, como cortes nos subsídios e em benefícios sociais, elevaram os custos de energia, transportes e outros serviços essenciais para a população mais vulnerável, agravando o quadro de pobreza e desigualdade.
Embora os cortes nos gastos públicos tenham gerado um superávit fiscal e evitado a hiperinflação, a Argentina continua em uma situação financeira precária. O índice de preços ao consumidor dos últimos doze meses acumula um aumento de 31,8%, segundo os últimos dados oficiais.
Além dos aumentos por motivos sazonais, houve elevações de preços ligados à elevada volatilidade da cotação do dólar americano no mercado cambial argentino durante agosto e setembro, no contexto de incerteza entre os investidores em relação às eleições legislativas de 26 de outubro e às inconsistências no programa econômico de Milei.
Com o pacote de auxílio americano, a Argentina espera reforçar a sua capacidade de fazer frente às pressões cambiais. A Argentina já tem um crédito de 20 bilhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e também um acordo de swap cambial (troca de moedas) com a China.
sf/cn (EFE, AP, DW)