Republicano esnobou a COP30 e não está enviando nenhum representante de seu governo a Belém. Mas líderes locais e regionais dos EUA, entre eles membros da oposição democrata, marcam presença na conferência.Washington não enviará uma equipe de alto nível à Conferência do Clima de ONU em Belém, a COP30. A comunidade global já esperava isso de um presidente que retirou os Estados Unidos do Acordo de Paris pela segunda vez, cortou drasticamente o financiamento para energia renovável, defendeu projetos de combustíveis fósseis e disse a líderes mundiais na ONU, em setembro, que a mudança climática é “a maior farsa já perpetrada contra o mundo”.

Mas delegados do estado de Washington, juntamente com governadores, prefeitos e outros representantes de estados e cidades de todos os EUA, estão determinados a compensar essa lacuna. Juntos, eles representam cerca de dois terços da população dos EUA e são responsáveis por quase três quartos da produção econômica do país.

“É uma longa viagem de Seattle ao Rio, mas eu fiz a viagem, e outros também, porque é importante que o resto do mundo não desista dos Estados Unidos”, disse Jay Inslee, ex-governador democrata de Washington. Inslee falou à DW do Rio de Janeiro, onde participava na semana passada de eventos preparatórios para a COP30, antes das principais negociações climáticas.

“Os Estados Unidos não se retiraram do Acordo de Paris. Uma parte dos Estados Unidos se retirou, e essa parte é o governo federal”, disse Inslee, membro fundador da Aliança Climática dos EUA, uma coalizão bipartidária de governadores que inclui 23 estados e um território. O grupo foi impulsionado à ação durante o primeiro mandato de Trump, em 2017.

“É muito importante que não permitamos que exista a percepção errônea de que, de alguma forma, o progresso parou porque temos um narcisista falastrão, antiturbinas eólicas e negacionista das mudanças climáticas na Casa Branca. Essa é uma mensagem muito importante, eu acho, para o mundo, para dar-lhes confiança para seguir em frente.”

Diplomacia tarifária de Trump vai atrapalhar?

Embora a equipe de Trump não seja esperada em Belém, alguns observadores estão preocupados que o presidente possa atrapalhar as negociações à distância. A pressão de Washington congelou os esforços para impor o primeiro imposto mundial sobre carbono no transporte marítimo no mês passado e inviabilizou um tratado liderado pela ONU para limitar a poluição por plásticos em agosto.

“O governo Trump está exercendo pressão sobre as negociações por meio do impacto de sua política tarifária”, disse Maha Rafi Atal, professora associada de economia política da Universidade de Glasgow. Ela contou à DW por e-mail como o presidente americano tentou pressionar a União Europeia para isentar as empresas americanas da taxação aduaneira de carbono em troca de concessões tarifárias.

“O sinal enviado a países de todo o mundo é que os EUA podem penalizar, em termos comerciais, os países que tomarem medidas climáticas mais rigorosas”, disse Atal. Ela acrescentou que a hostilidade de Trump à ação climática pode fazer com que outros países estejam “menos dispostos a priorizar a redução de emissões em detrimento do crescimento econômico” e do financiamento da transição energética.

“Sim, o governo federal [dos EUA] pode continuar a ser disruptivo”, disse por e-mail Gina McCarthy, copresidente da America Is All In (AIAI), uma coalizão de ação climática. “Nossa delegação está focada no que sabemos com certeza: líderes locais e empresas em todos os Estados Unidos estão pressionando por energia limpa e estão ansiosos para colaborar com parceiros internacionais para fortalecer o Acordo de Paris.”

Esforços locais

Mais de 100 líderes subnacionais da Aliança Climática dos EUA, Prefeitos do Clima e AIAI – representando autoridades estaduais e municipais, assim como nações tribais, empresas, escolas e outras instituições – estão participando das negociações da cúpula, que acontecem desta segunda-feira (10/11) até 21 de novembro.

Embora muitas das decisões na COP moldem a forma como as nações lidam com as mudanças climáticas em nível federal, os líderes locais acreditam que os EUA, o segundo maior poluidor do mundo depois da China, ainda podem cumprir as metas do Acordo de Paris de 2015 e atingir emissões líquidas zero até meados do século. Mesmo com Trump impulsionando projetos de petróleo e gás, que contribuem significativamente para o aquecimento global. “Trump fala muito e faz muito barulho, mas não pode nos impedir de seguir em frente”, disse Inslee. “Sim, ele reduziu alguns dos nossos esforços federais, mas ainda temos a capacidade de controlar nosso próprio destino nesses estados e cidades.”

E, de fato, uma análise divulgada pelo AIAI no mês passado mostra que a expansão das ações climáticas em nível local, juntamente com o apoio renovado de Washington após 2028 – quando Trump deverá deixar o cargo – poderia fazer com que os EUA reduzissem suas emissões de gases de efeito estufa em 56% abaixo dos níveis de 2005 até 2035. Sob a administração Biden, a promessa dos EUA para 2035 era reduzir as emissões líquidas em até 66%.

Muitas dessas reduções nos próximos anos viriam de mudanças nas políticas locais em três áreas principais: eletricidade, transporte e redução das emissões de metano provenientes de vazamentos na infraestrutura de gás e resíduos orgânicos.

“Nossas descobertas mostram que políticas locais inovadoras e investimentos em tecnologias limpas orientados pelo mercado podem manter os EUA no caminho para reduções significativas de emissões, mesmo em tempos desafiadores”, disse Nate Hultman, diretor do Centro para Sustentabilidade Global da Universidade de Maryland, que liderou o estudo.

“Mudança de baixo para cima”

Em um discurso no Fórum de Líderes Locais da COP30 na semana passada, Gina McCarthy – assessora climática do governo Biden e ex-diretora da Agência de Proteção Ambiental (EPA) dos EUA – afirmou que “a mudança acontece de baixo para cima”.

Ela disse que os esforços locais estavam “liderando a corrida pela energia limpa”, destacando que os 24 estados da Aliança Climática dos EUA já conseguiram reduzir coletivamente as emissões de gases de efeito estufa em 24% em relação aos níveis de 2005, ao mesmo tempo em que aumentaram seu PIB em 34%.

“Eles são apoiados pela maioria dos americanos que querem que seus líderes reduzam os custos de energia, protejam a saúde pública e criem empregos”, disse McCarthy à DW.

Mesmo em estados como o Texas, que não faz parte da Aliança Climática dos EUA, a energia renovável está decolando porque, como disse Inslee, os americanos “querem fontes de energia mais baratas”. O Texas, onde os eleitores apoiaram Trump nas últimas três eleições, lidera os EUA em termos de desenvolvimento de geração de energia renovável e capacidade de armazenamento em baterias. Os preços médios da eletricidade no estado estão entre os mais baixos do país, de acordo com dados de agosto da agência governamental Energy Information Administration (EIA).

Por meio de sua participação na COP, McCarthy disse aos participantes no Rio que os líderes locais estavam buscando construir parcerias e contribuir para as negociações em Belém. “Temos poder, temos capacidade de ação, temos autoridade e, dane-se, vamos usá-la!”, disse ela, sob aplausos.