16/07/2025 - 7:29
Pentágono reduz pela metade contingente enviado para lidar com protestos na Califórnia. Governador Gavin Newsom diz que tropas estão sem missão e atuam apenas como “peões políticos do presidente”.O Pentágono anunciou nesta terça-feira (15/07) a retirada de 2.000 soldados da Guarda Nacional de Los Angeles, reduzindo aproximadamente pela metade o contingente enviado à cidade para lidar com os protestos contra a repressão à imigração promovida pelo governo do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
Aproximadamente 4.000 soldados da Guarda Nacional e 700 fuzileiros navais estão na cidade desde o início de junho. Não foi imediatamente esclarecido o motivo da ordem de retirada ou por quanto tempo o restante das tropas deve permanecer na região.
No final de junho, o principal comandante militar responsável pelas tropas enviadas para Los Angeles havia solicitado ao Secretário de Defesa dos EUA, Pete Hegseth, que 200 soldados fossem transferidos para as ações de combate a incêndios florestais.
O pedido surgiu em meio a alertas do governador da Califórnia, Gavin Newsom, de que a Guarda Nacional estava com falta de pessoal em um momento em que o estado entrava no pico da temporada de incêndios florestais.
Tropas “sem missão”
Trump ordenou o envio contra a vontade de Newsom, que entrou com uma ação judicial para impedi-lo. Foi a primeira vez desde 1965 que um presidente dos EUA envia a Guarda Nacional contrariando a vontade de um governador de estado. Newsom afirmou que as tropas não eram necessárias para lidar com os protestos, em sua maioria pacíficos.
O governador alegou que o presidente violou a lei ao enviar as tropas da Guarda Nacional apesar de sua oposição, e que as tropas federais estariam violando uma lei que proíbe forcas militares de realizarem operações civis de aplicação da lei em solo americano.
Newsom obteve uma vitória inicial el seu litígio contra a intervenção após um juiz federal decidir que o envio da Guarda era ilegal e excedia a autoridade de Trump. Essa decisão, no entanto, acabou sendo anulada por um Tribunal de apelações e o controle das tropas permaneceu com o governo federal. O tribunal federal deve ouvir argumentos no próximo mês sobre se as possíveis violações das leis.
Após a decisão do Pentágono desta terça-feira, Newsom afirmou que o envio da Guarda Nacional para o Condado de Los Angeles afastou os soldados de suas famílias e do trabalho civil “para servirem como peões políticos do presidente”.
Ele disse que as tropas restantes “continuam sem missão, sem direção e sem qualquer esperança de retornar para ajudar suas comunidades”. “Pedimos a Trump e ao Departamento de Defesa que acabem com esse teatro e mandem todos para casa agora”, disse o governador.
Operações para semear o medo
“Graças às nossas tropas que se mobilizaram para atender ao chamado, a ilegalidade em Los Angeles está diminuindo”, disse o porta-voz do Pentágono, Sean Parnell, em comunicado ao anunciar a decisão.
Em 8 de junho, milhares de manifestantes foram às ruas em resposta à mobilização da Guarda Nacional. Eles bloquearam uma importante rodovia e entraram em confronto com a polícia, que reagiu com gás lacrimogêneo, balas de borracha e granadas de efeito moral.
Vários robôs-táxis da empresa Waymo incendiados. No dia seguinte à manifestação, policiais usaram granadas de efeito moral e dispararam projéteis contra manifestantes nas ruas do bairro de Little Tokyo.
O fim parcial da mobilização ocorre uma semana após autoridades federais e tropas da Guarda Nacional realizarem uma ação no Parque MacArthur com soldados armados e a cavalo, em uma operação que terminou abruptamente.
Embora o Departamento de Segurança Interna dos EUA não tenha explicado o propósito da operação ou se alguém havia sido preso, autoridades locais disseram que ela parecia ter sido planejada para semear o medo.
“Experimento com a vida das pessoas”
A prefeita Karen Bass ordenou um toque de recolher por cerca de uma semana, que, segundo ela, protegeu com sucesso os estabelecimentos comerciais e ajudou a restaurar a ordem.
Bass atribuiu a retirada dos 2.000 soldados nesta terça-feira às ações da população. “Isso aconteceu porque o povo de Los Angeles se manteve unido e forte. Organizamos protestos pacíficos, nos reunimos em comícios, levamos o governo Trump ao tribunal, tudo isso levou à retirada de hoje”, disse Bass em nota. “Não deixaremos de fazer com que nossas vozes sejam ouvidas até que isso acabe, não apenas aqui em LA, mas em todo o nosso país”.
Em coletiva de imprensa, a prefeita afirmou que a principal missão da Guarda Nacional tem sido proteger dois prédios que “francamente não precisavam ser protegidos”. “Espero que este experimento com a vida das pessoas termine aqui”, disse.
Protestos contra as prisões
As manifestações na cidade e na região nas últimas semanas têm sido, em grande parte, protestos menores contra as prisões de cidadãos e migrantes.
Na tarde desta terça-feira, não havia presença militar visível do lado de fora do complexo federal no centro da cidade, que havia sido o centro dos primeiros protestos e onde as tropas da Guarda Nacional se estabeleceram pela primeira vez antes que os fuzileiros navais fossem designados para proteger os edifícios federais.
Centenas de soldados acompanharam agentes da Imigração americana em operações de repressão aos migrantes.
O envio de tropas da Guarda Nacional tinha um prazo de 60 dias, embora o Secretário de Defesa tivesse o poder discricionário de encurtá-lo ou estendê-lo “para responder com flexibilidade à evolução da situação em campo”, escreveram os advogados do governo federal em um documento do processo judicial de 23 de junho
rc (AP, AFP)