16/12/2025 - 11:02
Caso envolve acusação de que emissora britânica teria editado de maneira enganosa discurso de Trump no dia da invasão do Capitólio. Empresa, que já havia formalmente se desculpado, promete se defender.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, entrou nesta segunda-feira (15/12) com um processo por difamação contra a emissora britânica BBC, devido a uma edição de trechos de um de seus discursos que deram a entender que ele havia instruído seus apoiadores a invadir o Capitólio dos EUA.
O processo, no qual Trump pede uma indenização de até 10 bilhões de dólares (R$ 54 bilhões), abriu uma frente internacional na cruzada do presidente americano contra coberturas da imprensa que ele considera falsas ou injustas.
No processo, Trump acusa a BBC de transmitir uma “representação falsa, difamatória, enganosa, depreciativa, inflamatória e maliciosa” de sua pessoa e descreve uma “tentativa descarada de interferir e influenciar” nas eleições presidenciais de 2024 nos EUA.
A BBC é acusada de “juntar duas partes completamente separadas do discurso do presidente Trump em 6 de janeiro de 2021” a fim de “distorcer intencionalmente o significado do que o presidente Trump disse”.
A edição inclui um trecho em que ele diz aos apoiadores para marcharem sobre o Capitólio, e outro em que ele afirma “lutem como se não houvesse amanhã”, omitindo uma seção em que ele pediu protestos pacíficos.
O ataque dos apoiadores de Trump ao Capitólio, em 6 janeiro de 2021, teve como objetivo impedir que o Congresso certificasse a vitória presidencial do democrata Joe Biden sobre Trump nas eleições americanas de 2020.
BBC promete lutar contra o processo
O processo judicial apresentado nesta segunda-feira em um tribunal federal de Miami alega que a BBC o difamou e violou uma lei do estado americano da Flórida que proíbe práticas comerciais enganosas e desleais. Ele busca indenizações de 5 bilhões em danos para cada uma das acusações.
A emissora, segundo os autos, “não demonstrou nenhum remorso genuíno por seus erros, nem mudanças institucionais significativas para evitar futuros abusos jornalísticos”.
Um porta-voz da equipe jurídica de Trump disse em um comunicado que a BBC “tem um longo histórico de enganar seu público na cobertura do presidente Trump, tudo a serviço de sua própria agenda política de esquerda”.
A BBC pediu desculpas formais a Trump, admitiu um erro de julgamento e reconheceu que a edição deu a impressão equivocada de que ele havia feito um apelo direto à violência. A emissora, no entanto, afirmou que não há base legal para um processo.
O ministro britânico Stephen Kinnock, disse que a BBC tinha agido corretamente ao se desculpar, mas que a emissora estava certa em se opor a qualquer ação legal. “É correto que a BBC se mantenha firme nesse ponto”, disse o ministro nesta terça-feira.
A BBC é financiada através de uma taxa de licenciamento obrigatória para todos os telespectadores, o que, segundo advogados e analistas do Reino Unido, poderia tornar qualquer pagamento a Trump politicamente problemático.
Um porta-voz da BBC disse a emissora “não teve mais contato com os advogados do presidente Trump até o momento. Nossa posição permanece a mesma.”
Crise derrubou executivos
A BBC, que atravessa uma de suas maiores crises em seus 103 anos de história, afirmou que não tem planos de retransmitir o documentário com a edição do discurso de Trump em nenhuma de suas plataformas.
A disputa sobre o vídeo, exibido no programa de documentários Panorama da BBC pouco antes da eleição presidencial de 2024, desencadeou uma crise de relações públicas para a emissora.
O presidente da BBC, Samir Shah, classificou o ocorrido como um “erro de julgamento”, o que provocou a renúncia do principal executivo da BBC e de seu chefe de jornalismo.
O documentário atraiu atenção após o vazamento de um memorando da BBC, elaborado por um consultor externo de padrões, que levantou preocupações sobre a forma como foi editado, como parte de uma investigação mais ampla sobre o viés político na emissora.
O programa, no entanto, não foi transmitido nos Estados Unidos.
Outros processos de Trump contra a imprensa
Trump pôde entrar com a ação judicial nos EUA porque as ações por difamação no Reino Unido devem ser ajuizadas dentro de um ano após a publicação, prazo que já se encerrou no caso do episódio da série Panorama.
Para superar as proteções legais da Constituição dos EUA à liberdade de expressão e de imprensa, Trump precisará provar não apenas que a edição foi falsa e difamatória, mas também que a BBC induziu os telespectadores ao erro de maneira intencional ou de forma imprudente.
A emissora pode argumentar que o documentário era substancialmente verdadeiro e que suas decisões de edição não criaram uma falsa impressão, disseram especialistas jurídicos. A empresa também pode alegar que o programa não prejudicou a reputação de Trump.
Outros veículos de comunicação fizeram acordos com Trump, incluindo as emissoras americanas CBS e a ABC, depois de serem processadas após a vitória do republicano nas eleições de novembro de 2024.
Trump entrou com processos contra os jornais The New York Times, The Wall Street Journal e um periódico do estado de Iowa. Todos os três negaram qualquer irregularidade.
rc (Reuters, AP)
