Governo Trump anuncia intenção de limitar permanência de estudantes estrangeiros em quatro anos. Já jornalistas podem enfrentar limites de 240 dias. Críticos dizem que medida pode afastar estudantes.O governo dos Estados Unidos divulgou nesta quinta-feira (28/07) uma proposta para impor limites mais rígidos à permanência de estudantes e jornalistas estrangeiros em solo americano, na mais recente tentativa de restringir a imigração irregular no país.

A medida deve criar um período fixo para os vistos F, concedidos para estudantes internacionais, assim como os vistos J, que permitem que visitantes em programas de intercâmbio cultural trabalhem nos EUA, e os vistos I para profissionais da imprensa.

Os estrangeiros com vistos de estudante não terão permissão para permanecer por mais de quatro anos no território americano. Já os jornalistas estrangeiros poderão ter estadias limitadas a apenas 240 dias, com direito a solicitar uma extensão por um período adicional também de 240 dias, com a exceção jornalistas chineses, que teriam apenas 90 dias.

Os Estados Unidos geralmente emitem vistos que cobrem a duração do programa educacional de um estudante ou de uma missão jornalística, embora nenhum dos vistos concedidos para não-imigrantes seja válido por mais de 10 anos.

No ano passado, havia cerca de 1,6 milhão de estudantes internacionais com vistos F nos EUA, de acordo com dados do governo americano. No ano fiscal de 2024, que começou em 1º de outubro de 2023, os EUA concederam vistos a cerca de 355.000 visitantes de intercâmbio e 13.000 profissionais de imprensa.

“Permanência por tempo indeterminado”

As propostas foram publicadas no Federal Register, o Diário Oficial do governo americano, dando inicio a um curto período para comentários públicos antes de as medidas entrarem em vigor.

O Departamento de Segurança Interna do país alegou que um número não especificado de estrangeiros estava estendendo seus estudos indefinidamente para que pudessem permanecer no país como estudantes “‘eternos'”.

“Por muito tempo, governos anteriores permitiram que estudantes estrangeiros e outros portadores de visto permanecessem nos EUA virtualmente por tempo indeterminado, representando riscos à segurança, custando quantias incalculáveis de dinheiro aos contribuintes e prejudicando os cidadãos americanos”, diz uma nota do Departamento.

O órgão não especificou como os cidadãos e contribuintes americanos foram prejudicados pelos estudantes internacionais, que, segundo estatísticas do Departamento de Comércio dos EUA, contribuíram com mais de 50 bilhões de dólares (R$ 270 bilhões) para a economia americana em 2023.

Possível impacto na competitividade acadêmica

Os EUA receberam mais de 1,1 milhão de estudantes internacionais no ano letivo de 2023-24, mais do que qualquer outro país, proporcionando uma fonte crucial de receita, já que os estrangeiros geralmente pagam integralmente as mensalidades.

Um grupo que representa líderes de faculdades e universidades americanas denunciou a medida como um obstáculo burocrático desnecessário que interfere na tomada de decisões acadêmicas e pode desencorajar ainda mais potenciais estudantes que, de outra forma, contribuiriam para a pesquisa e a criação de empregos.

“Esta proposta envia uma mensagem a indivíduos talentosos de todo o mundo de que suas contribuições não são valorizadas nos Estados Unidos”, disse Miriam Feldblum, presidente e CEO da Aliança de Presidentes para o Ensino Superior e Imigração, uma entidade que reúne líderes de instituições acadêmicas americanas em apoio à imigração e aos refugiados.

“Isso não é apenas prejudicial aos estudantes internacionais, mas também enfraquece a capacidade das faculdades e universidades americanas de atrair os melhores talentos, diminuindo nossa competitividade global.”

Trump impõe cerco às universidades

O anúncio foi feito no momento em que as universidades iniciam seus anos letivos, com muitas delas relatando quedas nas matrículas de estudantes estrangeiros após medidas anteriores adotadas pelo governo do presidente Donald Trump.

O presidente, no entanto, também recebeu raras críticas de sua base nesta semana ao ponderar que gostaria de dobrar o número de estudantes chineses nos Estados Unidos para 600.000, ao mesmo tempo em que enaltecia as relações calorosas com seu homólogo chinês, Xi Jinping.

Seus comentários marcaram um afastamento drástico da promessa anterior do Secretário de Estado, Marco Rubio, de revogar “agressivamente” os vistos de estudantes chineses.

O Departamento de Estado informou na semana passada um total de 6.000 vistos de estudantes foram revogados desde que Trump iniciou seu segundo mandato na Casa Branca, em parte devido à perseguição de Rubio a ativistas universitários que lideraram manifestações contra Israel.

Trump também suspendeu bilhões de dólares em verbas federais para pesquisa em universidades, com seu governo alegando que essas instituições não agiram para combater o antissemitismo, e o Congresso aumentou drasticamente os impostos sobre as doações a universidades privadas.

Antes de ser eleito, o vice-presidente JD Vance chegou a afirmar que os conservadores deveriam atacar as universidades, que ele descreveu como “o inimigo”.

rc (AFP, Reuters)