24/10/2025 - 7:12
Medida do governo dos EUA ocorre pouco mais de duas semanas após líderes terem se encontrado para negociar. Motivo seria anúncio do governo canadense que teria deturpado fala do ex-presidente americano Ronald Reagan.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou nesta quinta-feira (23/10) que encerraria imediatamente todas as negociações comerciais com o Canadá, acusando as autoridades do país vizinho de uma campanha publicitária “falsa” contra as tarifas impostas pelo governo americano e de tergiversar sobre o ex-presidente republicano Ronald Reagan.
“Com base em seu comportamento atroz, TODAS AS NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS COM O CANADÁ ESTÃO ENCERRADAS”, escreveu Trump em sua rede social Truth Social.
“A Fundação Ronald Reagan acaba de anunciar que o Canadá usou de forma fraudulenta uma campanha publicitária, que é FALSA, em que Ronald Reagan fala negativamente sobre as tarifas”, acrescentou.
A reviravolta nas relações entre os vizinhos norte-americanos ocorre pouco mais de duas semanas depois que o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, visitou Trump na Casa Branca em busca de uma flexibilização das tarifas de Washington. A reunião, no entanto, terminou sem um acordo.
Na plataforma X, a Fundação Ronald Reagan publicou que o governo da província canadense de Ontário usou “áudio e vídeo seletivo” de um discurso radiofônico do presidente Reagan veiculado em abril de 1987. E que o anúncio “deturpa” o que o ex-presidente republicano declarou, acrescentando que estava “analisando alternativas legais sobre o assunto”.
Trump também afirmou que o anúncio tem como objetivo “interferir na decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos”, que ainda deve se pronunciar sobre as tarifas globais impostas por ele a diversos países nos últimos meses.
O anúncio utilizou citações de um discurso de Reagan por meio do qual ele alerta sobre algumas das consequências que altas tarifas sobre importações estrangeiras poderiam ter sobre a economia dos EUA.
Na propaganda canadense, Reagan diz que “tarifas altas levam, inevitavelmente, à retaliação por parte de países estrangeiros e ao desencadeamento de acirradas guerras comerciais”, uma citação que corresponde à transcrição do discurso que está no site da Biblioteca Presidencial Ronald Reagan.
Duro golpe para Carney
A decisão repentina dos EUA de romper as negociações representa um golpe para o primeiro-ministro canadense, a quem Trump havia descrito como um “líder de classe mundial” quando ambos se reuniram no dia 7 de outubro, acrescentando que Carney “sairia muito feliz” com as futuras decisões a serem tomadas.
Naquele momento, porém, Trump não ofereceu concessões imediatas a respeito das tarifas.
Cerca de 85% do comércio transfronteiriço entre Canadá e EUA, em ambas as direções, continua isento de tarifas, já que os dois países seguem fazendo uso do Acordo EUA-México-Canadá de Livre Comércio (USMCA), assinado em 2019 para substituir o Tratado de Livre-Comércio da América do Norte (Nafta) e que deve ser reavaliado em 2026.
As tarifas globais impostas por Trump, particularmente sobre produtos como aço, alumínio e automóveis, têm afetado duramente o Canadá, gerando perdas de empregos e pressão sobre as empresas.
Dados divulgados na terça-feira apontaram que a taxa de inflação anual do Canadá subiu para 2,4% em setembro – um pouco acima das expectativas dos analistas, com o aumento dos preços dos alimentos contribuindo parcialmente.
Historicamente, os supermercados canadenses, por exemplo, dependem fortemente das importações dos EUA.
Novos encontros em breve
As autoridades canadenses ainda não teceram comentários sobre a polêmica. Na quarta-feira, porém, Carney havia dito que a política comercial “fundamentalmente alterada” de Washington exigia uma reformulação da estratégia econômica de Ottawa.
A fala ocorreu em um discurso antes da divulgação do orçamento federal de 2025, o que deve ocorrer no mês que vem. Carney afirmou que os Estados Unidos aumentaram “suas tarifas para níveis vistos pela última vez durante a Grande Depressão”.
“A escala e a velocidade desses desenvolvimentos não são uma transição tranquila, mas sim uma ruptura. Isso significa que nossa estratégia econômica precisa mudar drasticamente”, disse, acrescentando que o processo “exigirá alguns sacrifícios e algum tempo”.
Trump e o primeiro-ministro canadense devem se encontrar em reuniões marcadas para os próximos dias, a exemplo da cúpula regional das nações do Sudeste Asiático (Asean), na Malásia, e o Fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (Apec), na Coreia do Sul.
gb/md (AFP, Reuters)
