Presidente americano anunciou sobretaxa de 100% sobre produtos chineses após Pequim ampliar restrições a exportações de minerais críticos. Disputa coloca em dúvida realização de cúpula Trump-Xi.O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu a guerra comercial com a China nesta sexta-feira (10/10) ao anunciar barreiras tarifárias adicionais de 100% sobre produtos chineses. A decisão encerra uma trégua acordada entre as duas maiores economias do mundo, que negociavam alternativas ao tarifaço imposto pela Casa Branca.

Trump também anunciou novos controles de exportação sobre “qualquer software crítico” à China. As medidas começam a valer em 1º de novembro, nove dias antes do prazo acordado para retomar as medidas contra Pequim, que estavam suspensas.

O presidente americano ainda colocou em dúvida a realização de uma reunião previamente anunciada com o presidente chinês Xi Jinping, marcada para o final de outubro na Coreia do Sul, dizendo que “parece não haver motivo para isso”.

A inesperada mudança de rumo na negociação tarifária acontece após Pequim ampliar restrições a exportações de minerais críticos, as chamadas terras raras. A matéria prima é essencial para a fabricação de dispositivos tecnológicos, mercado dominado pela China, e também deve ser pauta das tratativas com o Brasil para aliviar o tarifaço imposto aos produtos brasileiros.

Pequim restringe exportações de terras raras

Na quinta-feira, Pequim decidiu incluiu cinco novos elementos de terras raras e dezenas de tecnologias de refino em sua lista de controle de exportações, elevando para 12 o total de metais afetados. Novas restrições sobre materiais usados para baterias também entrarão em vigor.

Na prática, empresas que exportam esses produtos para outros países precisarão solicitar autorização das autoridades chinesas.

A China ainda passou a exigir que tecnologias e conhecimentos técnicos chineses usados na extração e no processamento de terras raras só poderão ser compartilhados mediante aprovação oficial. Na prática, produtos que sejam fabricados utilizando estes ficam sujeitos às novas regras, mesmo se produzidos fora do país.

Trump vê movimento “hostil”

Para Trump, o movimento de Pequim foi “hostil”, ainda que não tenha sido direcionado especificamente aos EUA.

Em postagens no X, o presidente americano afirmou que a China enviou cartas anunciando seus planos de endurecer os controles sobre a exportação e fabricação de produtos relacionados às terras raras. Ele disse ter sido procurado por países indignados com as medidas de Pequim e afirmou estar surpreso, dado o “relacionamento muito bom” que estava sendo praticado com Xi.

Trump ainda se disse forçado a “contra-atacar” financeiramente. “Para cada elemento que eles conseguiram monopolizar, nós temos dois”, afirmou. Atualmente, Pequim produz mais de 90% dos elementos de terras raras processados e ímãs derivados, usados em veículos elétricos, motores de aeronaves e radares militares.

“Acabamos de saber que a China adotou uma posição extraordinariamente agressiva em relação ao comércio, ao enviar uma carta extremamente hostil ao mundo, afirmando que, a partir de 1º de novembro de 2025, vai impor controles de exportação em larga escala sobre praticamente todos os produtos que fabrica — e até mesmo sobre alguns que nem são fabricados por ela”, disse Trump na postagem.

Fim da trégua comercial

A imposição de sobretaxa à China representa a maior ruptura nas relações entre Washington e Pequim em seis meses. Desde que disparou medidas tarifárias contra países em todo o mundo, a Casa Branca havia amenizado a postura combativa a aberto espaço para negociações, principalmente com Pequim.

O trégua acordada com a China envolvia a retirada das tarifas de 125% antes imposta a exportadores chineses e também a suspensão da medida retaliatória chinesa.

Pequim teria que reduzir suas restrições ao envio de minerais estratégicos e ímãs necessários para a indústria automobilística, sobretudo para a fabricação de veículos elétricos. Em troca, as autoridades americanas deveriam revogar as restrições às exportações de produtos e tecnologia americanos, incluindo etanol e peças de avião.

“O post de Trump pode marcar o fim da trégua tarifária”, disse Craig Singleton, especialista em China da Fundação para a Defesa das Democracias. Para ele, Washington viu as ações da China como uma traição.

Medidas impactam o mercado

A expectativa de observadores internacionais é que a decisão reacenda a guerra comercial disparada pelos EUA. Ainda na sexta-feira, a China anunciou que aplicaria taxas portuárias retaliatórias a navios de bandeira americana, seguindo a regra similar imposta por Washington a embarcações chinesas. Pequim ainda não se manifestou sobre o tarifaço de 100% imposto contra seus produtos.

Especialistas acreditam que as restrições à exportação de software dos EUA para a China podem prejudicar gravemente a indústria de tecnologia chinesa, incluindo setores como computação em nuvem e inteligência artificial.

As ameaças comerciais provocaram turbulência nos mercados e nas relações entre os dois países.

A ofensiva inesperada abalou os mercados financeiros globais, fazendo o índice americano S&P 500 sofrer sua maior queda diária desde abril, quando os EUA fizeram sua primeira séria de anúncios tarifários. Ações de tecnologia também acumularam perdas.

Tensões crescentes

As tensões econômicas já vinham crescendo nos últimos dias. Na quinta-feira, o governo Trump propôs proibir companhias aéreas chinesas de sobrevoar a Rússia em rotas para os EUA. Na sexta-feira, a Comissão Federal de Comunicações dos EUA informou que grandes sites de varejo online removeram milhões de anúncios de eletrônicos chineses.

As expectativas agora aumentam para o desfecho da possível cúpula Trump-Xi, caso ela ocorra, prevista para acontecer durante o fórum de Cooperação Econômica Ásia-Pacífico (APEC), em 31 de outubro na Coreia do Sul.

gq (Reuters, AP, OTS, DPA)