Partidos cotados para integrar a próxima coalizão de governo convergem no apoio a Kiev, mas divergem sobre como fazer isso. Envio de tropas de paz alemãs – cenário provável em caso de cessar-fogo – ainda é incógnita.A Ucrânia e o futuro da política de defesa da Alemanha foram os temas dominantes no último debate televisionado do país, transmitido ao vivo nesta quinta-feira (20/02), a três dias das eleições parlamentares antecipadas.

A União Democrata Cristã (CDU), partido conservador que deve assumir a liderança do próximo governo alemão, defendeu a continuidade do apoio à Ucrânia. O país é o segundo maior aliado militar de Kiev, perdendo apenas para os Estados Unidos.

Mas o representante da CDU, Carsten Linnemann – favorito à chancelaria federal, o conservador Friedrich Merz, abdicou de participar diretamente do debate –, acusou o atual governo liderado por Olaf Scholz, do Partido Social Democrata (SPD), de falhar ao não assumir a dianteira dentro da União Europeia nas negociações pela paz na Ucrânia.

Nos últimos dias, o presidente americano Donald Trump tem demonstrado que está disposto a negociar o fim da guerra – com a Rússia de Vladimir Putin, mas sem ucranianos e europeus, que agora temem ser excluídos das tratativas.

Os principais partidos cotados para integrar a próxima coalizão de governo – CDU/CSU, SPD, Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP) – convergiram no apoio à Ucrânia, mas divergiram sobre como fazer isso.

O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, tem pleiteado a presença de tropas europeias no país para garantir a paz em caso de acordo com a Rússia. Nas contas dele, seriam necessários ao menos 200 mil soldados estrangeiros.

A tarefa caberia à Alemanha e a outros países europeus, ao que tudo indica; Trump já declarou que não assumirá essa responsabilidade.

O assunto, porém, não vinha sendo discutido abertamente na campanha. Confrontado com o tema no debate, Linnemann, da CDU, se esquivou dizendo que era muito cedo para se pronunciar sobre isso, e que primeiro a União Europeia teria que se reunir com a Ucrânia e alcançar um acordo para o fim do conflito.

Apenas o Partido Verde, representado pela ministra do Exterior Annalena Baerbock, defendeu abertamente o envio de tropas de paz alemãs. “Temos missões dos capacetes azuis em outros países, por exemplo, das quais a Alemanha participa. A questão é: se há garantias [feitas à Ucrânia como parte de um acordo], então os europeus também precisam ajudar”, disse.

Perguntada sobre a reintrodução do serviço militar obrigatório, a CDU defendeu uma modalidade em que os jovens possam optar entre o alistamento nas Forças Armadas e a prestação de serviços comunitários. Além dela, a CSU e o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD) defenderam a volta do serviço militar obrigatório.

CDU defende priorizar investimentos em defesa

Segundo Linnemann, da CDU, a prioridade do próximo governo alemão precisa ser o fortalecimento da Defesa alemã e da União Europeia.

Ainda não está claro, porém, como bancar essa conta.

As eleições foram antecipadas justamente em função do colapso da coalizão de governo de Scholz, que por sua vez foi motivada pela falta de consenso com o ex-parceiro FDP sobre a capacidade de endividamento do governo.

Merz, da CDU, já sinalizou abertura para rediscutir o teto da dívida alemã – algo que tem sido defendido por SPD e Verdes. Mas não se sabe ainda se a medida terá a maioria necessária de dois terços no parlamento – durante o debate, o FDP e a CSU, parceira tradicional dos conservadores na Baviera, descartaram alterar as regras de endividamento do governo.

Clima

CDU/CSU, SPD, Verdes e Esquerda se comprometeram com a meta de neutralizar as emissões de gases de efeito estufa até 2045 para a Alemanha. AfD e BSW disseram querer abandonar o compromisso, enquanto o FDP pretende adiá-lo por pelo menos cinco anos, alegando “altos custos” para a economia.

ra (Reuters, ots)