02/07/2025 - 20:05
Kiev teme maior vulnerabilidade de sua defesa enquanto Moscou intensifica ataques e bombardeios. Kremlin comemora decisão de Washington, dizendo que ajudaria a “encerrar mais rapidamente o conflito”.A decisão de Washington de suspender alguns envios de armas para a Ucrânia, que vem enfrentando dificuldades em seus esforços para conter a invasão russa de seu território, gerou fortes reações em Kiev nesta quarta-feira (02/03).
O Ministério da Defesa ucraniano, cuja atuação depende em grande parte das armas recebidas dos Estados Unidos, afirmou não ter sido notificado previamente sobre a redução da ajuda. Segundo a Casa Branca, a redução no envio de armas se daria pelo fato de os estoques americanos estarem em baixa.
Moscou, por sua vez, comemorou a decisão, afirmando que ela poderia aproximar o fim da guerra. Qualquer redução no apoio americano poderia prejudicar a capacidade de Kiev de conter os crescentes bombardeios aéreos russos ou os avanços na linha de frente.
Desde o retorno de Donald Trump à Casa Branca, em janeiro, Kiev teme interrupção da ajuda americana, após o republicano criticar as dezenas de bilhões de dólares em armas enviados por seu antecessor, Joe Biden.
O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, disse nesta quarta-feira que Kiev e Washington estavam esclarecendo detalhes sobre o fornecimento. “O apoio americano contínuo à Ucrânia, à nossa defesa e ao nosso povo é do nosso interesse comum”, afirmou.
Menos armas, maior vulnerabilidade
O anúncio de Washington provocou temores entre os moradores de Kiev e alertas de especialistas de que as cidades ucranianas estariam muito mais vulneráveis aos ataques aéreos russos.
O Ministério ucraniano do Exterior convocou John Ginkel, vice-chefe de missão da embaixada dos EUA em Kiev, para dar explicações, em um movimento diplomático geralmente reservado a inimigos e rivais, e não a aliados vitais, tamanha a incerteza sobre o que os cortes poderão significar para Kiev.
Alguns veículos da imprensa americana noticiaram que mísseis para os sistemas de defesa aérea Patriot, artilharia de precisão e mísseis Hellfire estariam entre os itens retidos.
O pesquisador Mykhailo Samus, diretor da Nova Rede de Pesquisa Geopolítica, um think tank de Kiev avalia que os sistemas de mísseis Patriot são “uma arma crítica impossível de ser obtida da Europa” e que a Ucrânia não pode substituir por enquanto. “Mísseis russos destruirão cidades ucranianas” se Kiev perder a capacidade de usar Patriots, disse Samus.
Mudança de postura na Casa Branca
A Casa Branca informou a suspensão de alguns embarques importantes de armas prometidos pelo governo americano anterior, mas não forneceu maiores detalhes.
Sob Biden, Washington liderou o apoio ocidental à Ucrânia, com o Congresso tendo aprovado mais de 100 bilhões de dólares (R$ 542 bilhões) em ajuda, incluindo 43 bilhões em armamentos.
Trump, por sua vez, pressionou os dois lados para aderirem a negociações de paz, inclusive em ligações telefônicas com o presidente russo, Vladimir Putin, que rejeitou os apelos por um cessar-fogo e exigiu que a Ucrânia cedesse mais território se quisesse que Moscou pusesse fim à invasão, iniciada em 2022.
O presidente americano se recusou a anunciar novos pacotes de ajuda, enquanto Kiev pressiona os aliados europeus a aumentarem seu apoio.
Um relatório de maio do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais avaliou que a Europa “havia feito apenas progressos limitados” no fortalecimento de suas indústrias de defesa, ressaltando que “a ajuda contínua dos EUA continua sendo extremamente importante para a eficácia da Ucrânia a longo prazo no campo de batalha”.
Moscou vê fim do conflito “mais próximo”
Em Moscou, o Kremlin afirmou que reduzir as entregas de armas para Kiev ajudaria a encerrar o conflito.
“Quanto menor o número de armas entregues à Ucrânia, mais próximo estará o fim da operação militar especial”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, utilizando o termo russo para descrever sua guerra de agressão de mais de três anos na Ucrânia.
A Rússia intensificou os ataques à Ucrânia em junho, lançando quase o dobro de mísseis e 30% a mais de drones do que em maio, segundo uma análise da agência de notícias AFP com base em dados da Força Aérea ucraniana.
Kiev foi alvo de pelo menos quatro ataques fatais em junho, que deixaram mais de 40 mortos. Os moradores da capital temem que a interrupção da ajuda americana deixe a capital ainda mais vulnerável.
rc (Reuters, AFP)